Sagrado Coração de Jesus

    Neste ano a solenidade do Sagrado Coração de Jesus está inserida em meio a grandes festas populares e várias comemorações. Esta solenidade pós tempo de Páscoa nos remete ao Mistério Pascal, pois nos coloca diante do Senhor que deu sua vida por nós derramando seu sangue pela salvação da humanidade. Simbolizar esse amor de Deus no Coração de Jesus teve a necessidade de ajudar a caminhada cristã em experimentar a proximidade de Deus Amor em suas vidas. Creio que também hoje é este o caminho que nos tem sido indicado pelo Papa Francisco. Porém esse mistério já vem anunciado na revelação cristã desde o antigo testamento.
    A devoção ao Sagrado Coração tem as suas origens na devoção popular e, sem dúvida, é uma das piedades mais difundidas e mais amada pelos fiéis. A expressão “Coração de Cristo” nos remete à totalidade de seu ser, Verbo encarnado para a salvação de toda a humanidade. Esta piedade popular tem a sua fundamentação na Sagrada Escritura. Jesus, em seu Evangelho, convida os discípulos a viverem em íntima comunhão com ele, assumindo a sua palavra como modo de vida e revelando-se um mestre “manso e humilde de coração”.
    Os Santos Padres muitas vezes falaram do Coração de Cristo como símbolo de seu amor, tomando-o da Escritura: “Beberemos da água que brotaria de seu Coração…quando saiu sangue e água” (Jo 7,37; 19,35).
    Na Idade Média começaram a considerá-lo como modelo de nosso amor, paciente por nossos pecados, a quem devemos reparar entregando-lhe nosso coração (santas Lutgarda, Matilde, Gertrudes a Grande – que hoje está sendo cogitada como doutora da Igreja -, Margarida de Cortona, Angela de Foligno, São Boaventura, e outros).
    No século XVII estava muito expandida esta devoção. São João Eudes, já em 1670, introduziu a primeira festa pública do Sagrado Coração. Em 1673, Santa Margarida Maria de Alocoque começou a ter uma série de revelações particulares que a levaram à santidade e ao impulso de formar uma equipe de apóstolos desta devoção. Com seu zelo conseguiram um enorme impacto na Igreja.
    Foram divulgados inúmeros livros e imagens. As associações do Sagrado Coração subiram em um século, desde meados do XVIII, de 1000 a 100.000. Umas vinte congregações religiosas e vários institutos seculares foram fundados para estender seu culto de mil formas. O apostolado da Oração, que pretende conseguir nossa santificação pessoal e a salvação do mundo mediante esta devoção, contava já em 1917 com 20 milhões de associados. E em 1960 chegava ao dobro em todo o mundo, passando de um milhão na Espanha; suas 200 revistas tinham 15 milhões de inscrições. A maior instituição de todo o mundo.
    A Oposição a este culto sempre foi grande, sobretudo no século XVIII por parte dos jansenistas, e recebeu um forte golpe com a supressão da Companhia de Jesus (1773). E assim passou por várias vicissitudes pois trazia em seu bojo a revelação da misericórdia de Deus manifestada no Coração de Jesus.
    Em 1856 Pio IX estendeu sua festa a toda a Igreja. Em 1899 Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus (o Equador tinha se consagrado em 1874). E a Espanha em 1919, em 30 de maio, também se consagrou publicamente ao Sagrado Coração no Monte dos Anjos. Onde foi gravado, sob a estátua de Cristo, aquela promessa que fez ao pai Bernardo de Hoyos, S.J., em 14 de maio de 1733, mostrando-lhe seu Coração, em Valladolid (Santuário da Grande Promessa), e dizendo-lhe: “Reinarei na Espanha com mais Veneração que em muitas outras partes”.
    A importância que a Igreja concede atualmente ao Sagrado Coração, esta sublinhada pela categoria de solenidade, das quais há somente 14 ao ano no calendário universal. Além disso, a festa de Cristo Rei, também solenidade, está estreitamente unida à espiritualidade do Sagrado Coração. Pio XI declarou ao instituí-la que precisamente a Cristo é reconhecido como Rei, por famílias, cidades e nações, mediante a consagração a seu Coração. E determinou que em tal festa fosse renovado todos os anos a consagração do mundo ao Coração de Cristo.
    Toda esta atitude litúrgica da Igreja tem a finalidade de estimular nossa prática cristã pondo especial interesse em celebrar sua festa: comungando, assimilando seus ensinamentos, utilizando as orações litúrgicas, a consagração, etc. Como dizia Pio XI na encíclica “Quas primas”: “As celebrações anuais da liturgia têm uma eficácia maior que os solenes documentos dos magistérios para formar ao povo nas coisas da fé”.
    A devoção ao Coração de Jesus existe desde os primeiros tempos da Igreja, desde que se meditava no lado e no Coração aberto de Jesus, de onde saiu sangue e água. Desse Coração nasceu a Igreja e por esse Coração foram abertas as portas do Céu.