Muita gente atribui a oração do terço apenas às avós, que vão à igreja à tarde para rezar. De repente, as pessoas que pensavam dessa maneira se veem com as contas enroladas nos dedos…
Estamos em outubro. A primeira coisa que penso é: o mês do Rosário. Durante a maior parte da minha vida, teria suspirado e revirado os olhos de aborrecimento perante estas palavras. Agora não (bem, a maior parte das vezes, a tentação se mantém!).
As minhas primeiras recordações desta oração são das minhas aulas de religião – quando tínhamos de enumerar os mistérios – e das noites de domingo de outubro, quando eu e a minha família rezávamos esta oração à volta da mesa.
Eu sempre queria fazer outra coisa no domingo, não queria ficar rezando a mesma oração várias vezes. Lembro-me que, por vezes, parecia mesmo muito aborrecida. Atribuía a reza do terço às “avós” da igreja que o rezavam todos os dias antes da missa. Nunca pensei que alguma vez me fosse oferecer para pegar num terço e enrolar as contas entre os dedos.
Mas a tradição local conseguiu enraizar-se em mim e, no final do liceu, comecei a apreciar a forma como a minha mãe tinha conseguido nos reunir para arranjar tempo para a família e para Deus. Foi também durante esta altura que um amigo me convidou para um festival da juventude em Medjugorje, onde conheci o chamado “terço dos trabalhadores”.
Era um Rosário no qual se meditava as sete dores de Maria. E essa oração me agradava, pois, ao mesmo tempo, tive a oportunidade de conhecer um lugar marcado por aparições de Nossa Senhora e de ouvir os testemunhos de pessoas cujas vidas ela mudou. Comecei a compreender porque tantas pessoas veneram e se recomendam tão devotamente a Mãe de Deus.
Lentamente, Maria estava a abrir a porta do meu coração. Passados alguns anos, juntei-me a ao chamado de rezar o terço todos os dias de janeiro. Conhecendo-me bem, limitei-me a dez, para que a duração não me tirasse a coragem. Não sei se já ouviu falar, mas os especialistas estimam que são precisos cerca de 30 dias para criar um novo hábito. Portanto, exatamente um mês de janeiro.
Desde então, continuo a tentar rezar pelo menos uma dezena todos os dias – normalmente a caminho do trabalho. Claro que ainda consigo esquecer um dia ou outro. Mas há sempre um novo dia e uma nova oportunidade. Também acho útil pensar no que ouvi algures: em vez de decidir rezar todos os dias (por exemplo, o terço), decido fazê-lo hoje e marco uma hora para isso.
Prefiro ainda mais rezar o terço desde que comecei a relacionar os mistérios aos fatos que me acontecem. Na maior parte das vezes, não incluo os mistérios na minha oração, mas por vezes um mistério “ataca-me”. Muitas vezes é “enviado pelo Espírito Santo”, porque tem uma aplicação muito ampla.
Parece-me que cada mistério tem um conjunto muito grande de situações que pode captar. Posso meditar sobre a parte triste das provações ou sobre a gratidão pelo fato de o próprio Filho de Deus ter sido flagelado, coroado com espinhos, crucificado e morto especialmente por mim. Desta forma, conheço o meu valor aos olhos de Deus, a minha inestimabilidade.
Depois do meu casamento, abandonei um pouco o hábito, porque a minha vida mudou muito. Tinha dificuldade em habituar-me a qualquer tipo de rotina, incluindo a oração diária. Foi então que o padre partilhou com os escoteiros um testemunho muito simples, que me encorajou.
Ele contou que, por vezes, não reza o terço às dezenas, mas apenas repete os mistérios, dedicando cada um a uma pessoa em particular. É interessante como, nesta forma de rezar, os nomes e os rostos surgem diante dos nossos olhos. Se tiveres dificuldade em rezar, sugiro-te que experimentes esta forma.
Assim, se uma criança me visse agora, iria me chamar de vovó. Porque quem é que gosta de rezar essa oração “repetitiva”? Bem, acontece que há muito mais pessoas que gostam do que eu esperava. Pessoas que, silenciosamente e em segundo plano, fazem do nosso mundo um lugar melhor. Espero estar fazendo o mesmo.