Todo dia 02 de novembro a Mãe Igreja celebra a Solenidade de Todos os fiéis defuntos. É nossa obrigação pia rezar por todos os que nos precedem, sendo chamados para o seu encontro com a Santíssima Trindade.
“Os justos vivem para sempre, recebem do Senhor sua recompensa, cuida deles o Altíssimo. Receberão a magnífica coroa real, e das mãos do Senhor, o diadema da beleza.” (Sb 5, 15 e 16). Ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, afim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu.” (nº 1030).
O Papa Francisco, na audiência geral da quarta-feira, dia 18 de outubro de 2017, diz que: “Hoje eu gostaria de fazer uma relação entre a esperança cristã e a realidade da morte, uma realidade que a nossa civilização moderna tende cada vez mais a cancelar. Assim, quando chega a morte de alguém que nos é querido, ou a nossa própria morte, nos encontramos despreparados”, disse o Papa, iniciando a catequese. Francisco mencionou o trecho do Evangelho de João, quando a Marta, que chora pela morte de seu irmão Lázaro, Jesus assegura: “Teu irmão ressuscitará, pois quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido, viverá”. “Eu não sou a morte; Eu sou a ressurreição e a vida. Crês nisto?” – pergunta ele a Marta. O Papa lembrou que Jesus faz a mesma pergunta a cada um de nós, sempre que a morte dilacera o tecido da vida e dos afetos. Com a morte, a nossa existência toca o ápice, tendo diante de nós a vertente da fé ou o precipício do nada”. O desafio que então nos lança Jesus é continuar a crer.
Sobre a filha de Jairo, assim falou o Papa Francisco: “Assim fez Ele com Jairo, a quem acabam de comunicar que a sua filha morreu, não há mais nada a fazer… de que serve incomodar o Mestre?! Jesus ouve e apressa-se a tranquilizar Jairo: “Não tenhas receio; crê somente!”. O Senhor sabe que aquele pai é tentado a deixar-se cair na angústia e no desespero, e recomenda-lhe que conserve acesa a chamazinha que arde no seu coração: a fé. “Não tenhas medo! Continua a manter acesa a chama da fé!” E valeu? Sim; Jesus, chegando na casa dele, ressuscita a menina e entrega-a viva aos pais. No caso de Lázaro, ressuscita-o quatro dias depois de ele ter morrido; já estava sepultado. E Jesus manda-o sair do túmulo”. Concluindo, o Papa afirmou que a esperança cristã se apoia e se alimenta desta posição que Jesus assume contra a morte. Por nós, nada podemos; ficamos indefesos perante o mistério da morte. “Não tenhas receio – diz-nos Jesus –; crê somente!”. A graça de que necessitamos naquele momento – uma graça imensa! – é conservar acesa no coração a chama da fé. Porque Jesus há de vir, tomar-nos-á pela mão, como fez com a filha de Jairo, e ordenar-nos-á: “Levanta-te, ressuscita”. (Cf http://br.radiovaticana.va/news/2017/10/18/papa_diante_da_morte,_conservar_a_chama_da_f%C3%A9/1343642, último acesso dia 20 de outubro de 2017)
No Evangelho que narra a ressurreição de Lázaro – se lê a voz da fé da boca de Marta, irmã de Lázaro. Jesus que lhe diz: “Teu irmão ressuscitará”, e ela responde: “Eu sei que ele vai ressuscitar no último dia” (Jo 11, 23-24). Ao que Jesus replica: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, mesmo se morrer, viverá”. É esta a verdadeira novidade, que irrompe e supera todas as barreiras! Cristo abate o muro da morte, n’Ele habita toda a plenitude de Deus, que é vida, vida eterna. Por isso a morte não teve poder sobre Ele. E a ressurreição de Lázaro é sinal do seu pleno domínio sobre a morte física que diante de Deus é como um sono” (cf. Jo 11, 11).
Numa sociedade líquida como a nossa, que busca o efêmero e o prazer, há outra morte, que custou a Cristo a luta mais difícil, o próprio preço da cruz: a morte espiritual, o pecado, que ameaça arruinar a vida de cada homem. Para vencer esta morte Cristo morreu e a sua Ressurreição não é o retorno à vida precedente, mas a abertura de uma nova realidade, uma “nova terra”, finalmente unida novamente com o céu de Deus.
Santo Agostinho disse algo que é um grande consolo. Ele interpreta a passagem dos Salmos “busca seu rosto sempre” dizendo: isto se aplica para toda a eternidade. Deus é tão grande que nunca terminamos nossa busca. Ele é sempre novo. Com Deus há encontro perpétuo, interminável, com novas descobertas e nova alegria.
A Igreja, como Mãe e Mestra, não promete aos homens e as mulheres, em nome da fé cristã, uma vida de êxito assegurado nesta terra. Não haverá, assim, uma utopia, pois a nossa vida terrena estará sempre marcada pela Cruz. Ao mesmo tempo, pela recepção do Batismo e da Eucaristia, o processo da ressurreição já começou de algum modo (cf. Catecismo, 1000). Segundo São Tomás, na ressurreição, a alma informará o corpo tão profundamente, que nele ficarão refletidas as suas qualidades morais e espirituais. Neste sentido, a ressurreição final, que terá lugar com a vinda de Jesus Cristo na glória, tornará possível o juízo definitivo de vivos e defuntos.
A ressurreição final é um dogma de fé que exclui as teorias da reencarnação, segundo as quais a alma humana, depois da morte, emigra para outro corpo, repetidas vezes se for preciso, até ficar definitivamente purificada. A esse respeito, o Concílio Vaticano II falou do “único curso da nossa vida”, pois “está estabelecido que os homens morram uma só vez” (Heb 9,27);
Porque rezamos pelos defuntos? No 1º Livro dos Macabeus 12, 38-45, que assim conclui: “É, pois, santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados.” Este é o motivo de nossas orações pelos falecidos. Cremos que estão vivos. Cremos que a fé em Cristo os salvou. Não esquecemos, porém, que muitas fragilidades humanas talvez impeçam a sua imediata acolhida na visão beatífica. E por eles oferecemos preces e sacrifícios, especialmente no Dia de Finados, para que, quanto antes, lhes resplandeça a luz da bem-aventurança. Ao participarmos da Missa dos Fiéis Defuntos, nas Igrejas e nos cemitérios, lembremos de lucrar as indulgências plenárias em favor dos fiéis defuntos. Não vamos nos esquecer de levar velas e flores para os nossos defuntos. Velas acesas, no cemitério, e flores, embelezando as sepulturas, nos querem lembrar, por um lado, a alegria do céu, e por outro lado, o carinho e a saudade sentidos pela pessoa falecida, além da própria realidade passageira de nossa existência terrena.
Que as almas dos fiéis defuntos, pela misericórdia divina, descansem em paz, Amém!