O desejo de comungar deve conduz o cristão a viver em estado de graça, condição elementar para se receber o Corpo de Cristo. O alerta de São Paulo serve então de diretriz: “Examine-se, pois, a si mesmo o homem e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque aquele que come e bebe indignamente será réu do corpo do Senhor” (l Coríntios 11-28). Aliás, a Didaqué, o catecismo dos primeiros cristãos, livro do primeiro século, declara: “Reuni-vos no dia do Senhor, parti o pão, e celebrai a Eucaristia, depois de terdes confessados os vossos pecados a fim de que o vosso sacrifício seja puro […] Porque o Senhor assim disse: “Em todo lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura”. São Cipriano, no século 2o, chama a comunhão “bebida santificada pelo Santo do Senhor”. Numa de suas epístolas adverte para que não se dê a Eucaristia precipitadamente aos apóstatas arrependidos pois “apesar de ainda não terem feito a penitência, já são admitidos a comungar e, assim, profanam a Eucaristia, isto é, o corpo santo do Senhor”. Não se pode comungar nunca em estado de pecado grave. Quem cometeu um pecado mortal, deve parar de receber o Santíssimo Corpo de Cristo até que faça uma boa confissão, Precisa continuar cumprindo o dever da Missa dominical, mas não pode comungar. Procure, logo que possível, recuperar a graça santificante através de uma boa Confissão. Comungar em pecado mortal é uma falta gravíssima. O comungante que cometeu uma falta grave e vai comungar, sem ter se confessado, comete um crime maior que Herodes, diz Santo Agostinho, mais assustador do que Judas, diz São João Crisóstomo, mais terrível do que o cometido pelos judeus, crucificando o Salvador, dizem outros santos. Hoje, há, infelizmente, uma corrente de falsos teólogos que dizem bastar o ato penitencial no início da Missa. Isto não é verdade. Há, sim, o arrependimento e a purificação das faltas veniais, dispondo o comungante para que faça uma fervorosa comunhão. Quem, porém, não está em estado de graça precisa primeiro passar pelo Sacramento da Penitência, fazendo uma ótima Confissão. Todo respeito é devido à Eucaristia, penhor da Vida Eterna. Em síntese, há duas disposições necessárias para a recepção da Eucaristia, ou seja, o estado de graça e o jejum eucarístico, que é a abstenção de comida e bebida uma hora antes da Comunhão. Água e medicamentos não quebram o jejum eucarístico (Cânon 919,1).Note-se que não é uma hora antes do começo da Missa, mas uma hora antes da recepção da Comunhão. As pessoas idosas e os doentes, bem como as pessoas que cuidam deles podem comungar mesmo que tenham comido alguma coisa menos de uma hora antes (cânon 919,3). O estado de graça é uma condição indispensável, não sendo suficiente a fé sozinha, conforme já havia firmado o Concílio de Trento (sessão XIII, cânon 11). Alívio para todas as amarguras, bálsamo para todas as asperezas da vida, fortaleza no meio de nossas lutas, luz celestial, farol esplendente que se levanta sobre os escolhos do mundo, arca salvadora no dilúvio de nossas lágrimas, por entre as penalidades do labor diário, a Eucaristia é o manancial em que encontraremos sempre o alento, a paz, a salvação. Este Sacramento depura, espiritualiza, sobrenaturaliza, diviniza com o maravilhoso estímulo de suas eternas esperanças. Estas batem suas asas auríferas por sobre as desolações da morte e do infortúnio e varre os miasmas do erro, saneia as feridas do mal, ilumina as inteligências, virtualiza os corações, sublima a fé, sobredoura a esperança, constela a caridade e, vencendo os abismos tenebrosos rasgados pelas culpas, levanta o homem e o lança nos páramos da mais completa alegria. Entretanto, não basta crer em tudo isto para receber a Sagrada Comunhão, é preciso ter a veste nupcial da graça para haurir todos estes benefícios espirituais, jamais profanando o Sacramento da Eucaristia, recebendo Jesus num coração manchado pelo pecado mortal. A graça sacramental deste sacramento é a força que comunica por ser este alimento divino. robustez, fruto da união física com o Verbo eterno de Deus. Além desta energia interior para o triunfo sobre o mal, este manjar celestial é transformante. Vai metamorfoseando o fiel em Cristo pelo íntimo contato com Ele. A inteligência, a vontade, a imaginação do homem tão frágeis, se fortificam, unidas com o próprio Deus. O coração humano, por vezes, tão insensível, se aquece na fornalha de amor infinito. Adite-se que a Eucaristia é o penhor da glória eterna.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.