Roma, (ACI).- O Bispo de Bangassou (República Centro-africana), Dom Juan José Aguirre, informou que cerca de dois mil muçulmanos foram hospedados na missão católica, no seminário, na catedral e na casa episcopal para evitar que fossem assassinados pela guerrilha anti-Balaka.
Em declarações à agência vaticana Fides, o Prelado espanhol assinalou que “estas pessoas foram ameaçadas pelos anti-Balaka que invadiram a cidade nos últimos dias, atacando o bairro muçulmano de Bangassou, matando, depredando e expulsando seus moradores, cujas casas foram incendiadas”.
“Dois mil muçulmanos ainda estão hospedados na missão católica. Uma parte está no Seminário Menor, outra na Catedral e na minha na casa episcopal”, acrescentou.
O Bispo explicou que a guerrilha anti Balaka, formada por não muçulmanos, “é uma reação à presença de dois grupos bem armados de Seleka (rebelião muçulmana), que no final do ano passado se confrontaram”.
“Alguns deles atacaram a diocese, agredindo civis e cometendo graves crimes, inclusive sexuais. Diante desta violência, nasceu a rebelião anti-Balaka, que colocou no mesmo plano rebeldes muçulmanos e fiéis islâmicos da cidade”.
“Os anti-Balaka, que eram poucos no início, hoje são milhares (talvez três mil) e embora mal armados em comparação com Seleka, são muito violentos e determinados. Os anti-Balaka, nascidos como reação à violência sofrida pelos Seleka, se transformaram em criminosos, iguais ou até piores de seus adversários”, indicou em suas declarações publicadas no dia 30 de maio.
O Prelado esclareceu que “se é verdade que o confronto é entre muçulmanos e não-muçulmanos, a razão principal do atrito não é religiosa, mas política. Existem países vizinhos que alimentam os dois rivais para poder dominar melhor o país”.
Sobre a situação dos refugiados, Dom Aguirre indicou que “o que mais preocupa é a falta de segurança. Estamos expostos a ataques imprevistos”.
“No domingo, 28 de maio, eu estava indo para a confinante República Democrática do Congo para uma missa com um grupo de refugiados centro-africanos que estão abrigados ali, quando perto das margens do rio Oubangui, uma mulher com cinco filhos, que queria se encontrar com o marido, foi levada por um grupo de homens e morta. Na agressão brutal perderam a vida algumas crianças de 3 anos”, denunciou.
Nesse sentido, indicou que, embora “em Bangassou exista um contingente de Capacetes Azuis marroquinos da Missão ONU na República Centro-africana”, este “não é muito eficaz”.
Com relação ao aspecto humanitário, o Bispo de Bangassou informou que “chegaram algumas ONGs que estão nos ajudando a administrar esta situação, complicada. Tivemos que acolher, em apenas 5 minutos, duas mil pessoas no Seminário. Foi como um tsunami humano, com muitas consequências do ponto de vista higiênico. Está sendo avaliada a criação de um campo de acolhimento equipado”, assinalou.
Fonte: Acidigital