Rebeldia da vida

    Com o tempo da quaresma iniciamos também a Campanha da Fraternidade, cujo tema de 2014 é: “Fraternidade e Tráfico Humano”. Em outras palavras, entendemos isto como “brincar com a vida”, ou tirar proveito, com exploração, daquilo que temos como dom mais belo da criação, a vida investida de liberdade e dignidade.
    A vida humana é fruto da iniciativa amorosa de Deus, que a modelou a partir do barro e do sopro com força geradora do “ser pessoa”. E Ele colocou nas mãos de todos os seres humanos a responsabilidade de construir a história no bem-estar e na alegria. Mas o homem se rebelou contra esse plano divino, originando daí todo tipo de maldade.
    Viemos do húmus da mãe terra. Ela é fonte de vida, é mãe da humanidade, muito fértil e capaz de produzir todo tipo de fruto, seja do bem, como também do mal. Pessoas com capacidade de escolha do que causa felicidade ou opressão. Isto faz a gente entender as consequências da realidade social, quando mal conduzidas.
    A maldade entrou no mundo trazendo a morte. A marca mais profunda é o egoísmo humano, a falta de solidariedade e de reconhecimento do valor que está presente em cada ser humano. O egoísmo nos incapacita para os gestos de partilha e favorece o acúmulo causador de miséria, de exclusão e sofrimento de muitos.
    Não podemos ser rebeldes com a vida, com planos destruidores, seja de cada pessoa, como também das estruturas sociais. Às vezes damos preferência para a lógica do egoísmo privilegiando a dimensão econômica do poder, apoiando-se na “teologia da retribuição”, legitimando a riqueza e o bem-estar físico, identificando isto como bênção divina.
    Ser rebelde com a vida é seguir a lógica dos homens, nem sempre a de Deus. É a idolatria do poder, posicionando-se como ser divino, com um agir de forma absoluta, acima das pessoas e dos bens. Mas a felicidade é fruto de atitudes que defendem a vida, que promovem o direito de viver sem exclusão e constrói pessoas com capacidade de se autodefender.