Jane Nogara – Cidade do Vaticano
“No início pensávamos que Ebola fosse uma bruxaria. Depois nos explicaram que se trata de uma terrível doença da qual podemos morrer de uma hora para outra, se não nos protegermos”, são palavras de uma mulher da comunidade de Mangina, na província do Kivu do Norte ao descrever os efeitos da nova epidemia de Ebola, que já contagiou quase 500 pessoas.
Emergência Humanitária
Ebola é apenas uma página da grande emergência humanitária que se verifica nesta parte do mundo: além disso 13 milhões de congoleses passam fome, com quase nenhum acesso à água potável. Eles dependem de ajudas humanitárias para sobreviver.
Com a guerra em ato, que aumenta a fome e a difusão de epidemias estima-se que nos últimos 20 anos já morreram 6 milhões de pessoas no país. Enquanto isso dia após dia a violência continua a ameaçar os civis.
Como consequência da epidemia de Ebola, da guerra e da carestia mais de 4,5 milhões de homens, mulheres e crianças do Kivu do Norte e de Ituri deixaram suas próprias casas para fugir da violência e dos contágios.
Enquanto isso, milhões de pessoas são obrigadas a beber água contaminada com o risco de aumentar a difusão de outra doença, o cólera, que já conta com 26 mil casos no país.
Deslocados
A República Democrática do Congo, que está no limite do colapso, tornou também meta de refúgio de centenas de milhares de pessoas que escapam da guerra e violência dos países vizinhos como Angola e Sudão do Sul.
Riccardo Sansone, responsável da Oxfam na Itália, uma das organizações humanitárias que trabalha na região, comunica que estão socorrendo 400 mil pessoas para garantir comida e água potável ao maior número possível de deslocados, além de serviços básicos de higiene.
O representante da Oxfam conclui com um quadro ainda mais dramático da situação na região: “Anos de violência prolongada, deslocamentos forçados e carestias criaram um clima de medo e desconfiança entre as comunidades atingidas. Muitas pessoas chegam aos centros de tratamento com muito medo. Por isso é crucial estar ao lado das comunidades todos os dias. Fazemos apelo à generosidade de todos, porque um pequeno gesto pode fazer a diferença para muitos”.
Prêmio Nobel da Paz faz apelo para ajudar vítimas
Entretanto, Denis Mukwege, o médico congolês que recebeu o Prêmio Nobel da Paz 2018, junto com a yazidi Nadia Murad, uma ex-escrava de extremistas islâmicos, lançou um apelo para uma ação internacional contra os abusos sexuais como arma de guerra.
“Insisto no ressarcimento, em medidas que dêem uma compensação às sobreviventes e possam dar-lhes condições de começar uma nova vida”: foi o disse Mukwege, que fundou um hospital no leste do Congo onde atendeu dezenas de milhares de vítimas de estupros em mais de 20 anos de guerra no país.
“Peço aos países para apoiarem a iniciativa de criar um fundo global para o ressarcimento das vítimas de violências sexuais nos conflitos armados”, acrescentando que os países deveriam tomar uma posição contra os “líderes que toleraram ou pior, usaram a violência sexual para conquistar o poder… A medida seria impor sanções econômicas e políticas contra estes líderes e levá-los aos tribunais internacionais”.