Era uma reação quase teatral, entre os judeus, de rasgar a veste de cima, ao se deparar com um escândalo ou ouvir uma blasfêmia. Diante de uma resposta de Jesus, “o sumo sacerdote rasgou suas vestes” (Mt 26, 65). A Comissão da ONU, encarregada dos direitos das crianças, submeteu o representante da Santa Sé a um interrogatório. Seu objetivo não foi apurar a verdade, pois a defesa escrita da Santa Sé, enviada de antemão, nem foi lida. O objetivo foi provocar uns respingos no nome do Santo Padre. A Sé Romana aceitou o pedido de esclarecimentos, feito por essa Comissão, não por reconhecer sua autoridade (por sinal abalada por escândalos que incentivou), mas porque o Concílio recomendou dialogar com o mundo.
Convém frisar que a ONU em muitos pontos é benemérita, quando se esforça por manter a paz no mundo, ou quando promove o progresso científico. Mas decepciona quando propugna em favor do aborto, introduz uma falsa educação sexual, ou quer obrigar todos os países a legislar contra a família natural. O que os escandalizados membros da Comissão tramaram contra a Igreja – não seguiram o princípio dos Romanos “audiatur et altera pars” – é incriminá-la por causa de abusos sexuais cometidos por certos clérigos, contra crianças. Esse crime de fato é hediondo, e a Igreja está de acordo com sua punição. O Vaticano, no tempo de Bento XVI, tirou do Ministério sacerdotal 390 clérigos envolvidos nesses abusos. Neste ponto a Comissão da ONU teve atuação seródia. Quis arrombar uma porta aberta. Mas exorbitou, quando quis dar “conselhinhos” sobre a formação dos clérigos, e falar contra o celibato. Ela própria sabe que o grande volume de escândalos contra crianças provém de homens casados, próximos à família. Portanto, o “diálogo” errou o alvo. Recomendo que a ONU, de resto uma entidade de valor, se quiser evitar rasgação de vestes, não procure se informar sobre os relatórios econômicos do nosso país, sobre a situação real do Mais Médicos, sobre os roubos praticados contra o erário público por parte de certos líderes da nação. O Apóstolo Paulo dá um conselho de valor: “deixando a mentira, fale cada um a verdade” (Ef 4, 25).