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“Veneráveis irmãos e diletos filhos do Continente Africano.” Assim se dirigia o Papa João XXIII aos povos africanos, no dia em que eram inauguradas emissões regulares e quotidianas em árabe, inglês, francês, português e swahili para a África. Foi a 6 de novembro de 1961, há precisamente 60 anos. O grande Centro Transmissor da Rádio Vaticano em Santa Maria di Galeria (a cerca de 10 km do Vaticano) inaugurado em 1957, acabava de ser potencializado – graças a uma doação dos fiéis da Arquidiocese alemã de Colónia – com um novo transmissor Telefunken de 100KW para a África. O Papa exprimia então a sua grande alegria e confiava às ondas-radio a sua mensagem a cada uma das nações africanas, em relação às quais – dizia em plural majestático: “sempre nutrimos sentimentos de particular benevolência pela vossa terra e pelos povos que a habitam, nos quais são depositados grandes esperanças.”
Falando em latim, “o Papa Bom”, como era chamado João XXIII, recordou os vínculos que o ligavam “à querida gente da África” e que conservava com alegria no seu coração. Mencionava os encontros, ainda adolescente, com personalidades sinceramente amigas e beneméritas da África, a visita que efetuou em 1950 com grande admiração às regiões marítimas da África setentrional, onde “céu e terra resplandecem em toda a sua beleza”, e a ainda a recíproca satisfação pelos numerosos encontros em Paris e Roma, vértice e centro da Igreja Católica, com muitos africanos. E antevia, com alegria, futuros e amplos encontros dessa natureza.
João XXIII dizia ainda que não o abandonava nunca a recordação dos dias em que ele próprio conferiu a numerosos bispos da África a plenitude do sacerdócio. No momento em que lhes deu, conforme o rito, o beijo de paz, teve a sensação – afirmou – “de abraçar e de beijar todos os povos da África, isto é, vós, repetimos, vós, diletos filhos”.
E foi com o ânimo cheio de recordações que João XXIII se dirigiu aos africanos e, não obstante as distâncias, declarava sentir como se estivesse no meio deles para lhes exprimir de coração os seus melhores votos.
“Floresça nas vossas famílias e nas vossas nações uma verdadeira e estável felicidade; haja nos lares a honra e a santidade e sejam custodiadas pelo vínculo do amor recíproco, consolidadas pela fidelidade, alegradas pela fecundidade; cresçam os jovens no respeito da retidão e da justiça, e as suas energias físicas sejam enriquecidas com os dotes de ânimo. Que todas as classes sociais se empenhem em favorecer e promover, com assiduidade, o bem-estar do próprio país; o dom celeste da paz sorria aos vossos povos a fim de que, restabelecida por todo o lado a tranquila segurança, possais gozar em abundância os frutos da alegria, da paz, da verdadeira liberdade.
O Papa exortava esses seus “irmãos caríssimos e desejadíssimos” a se manterem firmes – como São Paulo – no Senhor e exprimia o desejo de que a paz de Deus que ultrapassa qualquer entendimento, protegesse os seus corações e as suas mentes em Jesus Cristo. E concluía:
“Este o augúrio que hoje com alegria vos dirijo: acolhei-o como penhor do Nosso particular afeto. E por fim, implorando para vós de todo o coração a ajuda de Deus omnipotente, invocamos sobre cada um de vós todo o bem e toda a felicidade. A graça, a misericórdia, a paz, as celestiais consolações estejam com todos vós.”
Esta, a mensagem com que o Papa inaugurava as emissões em ondas curtas para a África há 60 anos. Na cerimónia de inauguração participou também o Cardeal Giuseppe Frings, Arcebispo de Colónia que benzeu o novo transmissor doado pelos fiéis da sua Diocese. Também ele dirigiu uma saudação aos povos africanos. A cerimónia concluiu-se com uma saudação do então Diretor da Rádio Vaticano, P. António Stefanizzi, sacerdote jesuíta, que anunciou as emissões regulares a que isso ia dar lugar em ondas curtas para a África.
Tanto as emissões da Rádio Vaticano nesse dia, como o jornal do Vaticano “L’Osservatore Romano” deram grande ênfase ao evento, como se vê na foto.