O Jornal Folha de São Paulo noticiou na primeira página da edição de domingo, dia 29 de julho, que o SUS gastou R$ 486 milhões para tratar complicações do aborto; refere-se à cifra de 75% das 2.100.000 internações para curetagem ocorridas de 2008 a 2017. Na exposição do tema no caderno Cotidiano B1, arredonda para R$ 500 milhões.
Podemos, realmente, considerar 2.100.000 internações pelo SUS de 2008 a 2017 (os números não sofrem grandes variações anuais e pode-se supor qual será em 2017 porque o Ministério da Saúde só publica até 2 anos antes – até 2016). O artigo afirma que 75% foram relativos a complicações de abortos clandestinos. Entretanto, sabemos que em torno de 1.500.000 destas internações foram devidas a abortos espontâneos. Esse cálculo se faz a partir de 10 a 15% de abortos espontâneos para o total de nascidos vivos/ano/Brasil – 3 milhões por ano. Calcula-se de 300.000 a 450.000 abortos espontâneos/ano/Brasil. Em média, a metade destes necessita de internação hospitalar. Portanto, ocorrem 150 mil a 275 mil internações/ano por aborto espontâneo. Em 10 anos, de 2.100.000 internações pelo SUS, pelo menos, 1.500.000 não foram por abortos provocados, o que leva ao número máximo de 600.000 internações por complicações de aborto provocado nos 10 anos referidos pela notícia citada; isto considerando o menor valor de abortos espontâneos e sem contar os casos que necessitam de curetagem para diagnóstico de alguma doença e outras situações como gestações ectópicas e degeneração mola.
A tabela atual do SUS para os procedimentos de curetagem uterina pós-aborto ou pós-parto, é de R$ 179,62; cada valor inclui os gastos com médicos (ginecologista e anestesista) e com o hospital. Multiplicando o valor da tabela pelo número mais provável de curetagens realizadas por aborto provocado, constata-se que o resultado não alcança a quarta parte do valor anunciado: R$ 107.772.000,00.[i]
Quando os números são analisados, não se sustenta o argumento do aborto ser um problema de saúde pública. É obrigatório analisar os números autenticados pelo próprio Ministério da Saúde para conferir a veracidade das notícias. Deficiência de informação? Estratégia para comover a opinião pública? Tentativa de manipulação de nosso cérebro e emoções através de números?
Entre aqueles que defendem a liberação do aborto, existem aqueles que acreditam ser realmente melhor para a mulher, um direito. Entretanto, não há espaço na grande mídia para se apresentar a realidade da criança em gestação, os riscos do aborto a médio e em longo prazo para a mulher e para a sociedade. Sobretudo para a mulher mais pobre. Toda pessoa se questiona pelo sentido da vida e cabe a cada um descobrir individualmente a resposta, porém não podemos perder a capacidade de admiração diante do mistério de cada pessoa humana. O amor à vida exige, ao mesmo tempo, a humildade, a escuta e a compaixão, porém se expressa com a verdade, fortaleza e justiça. O que realmente importa?
Fonte: Jornal o São Paulo