“Só uma solução política poderá trazer a paz”

 

Oliver Maksan, correspondente da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) no Oriente Médio, falou, nessa terça-feira, 15 de julho, sobre a situação na Terra Santa.

AIS: O que provocou o atual conflito entre Israel e Gaza?
Oliver Maksan: Bem, inicialmente começou com o sequestro de três jovens judeus e a consecutiva matança em meados de junho, perto de Hebron. Israel considerou o Hamas responsável e destruiu a infraestrutura da organização islâmica na Cisjordânia de maneira substancial durante a busca pelos adolescentes sequestrados. Em seguida, o lançamento de foguetes a partir de Gaza começou. Começou devagar, mas na última análise, houve um aumento maciço. No início da semana passada, Israel lançou sua operação militar “borda protetora”. Desde então mais de 1.300 alvos em Gaza foram atacados pelo exército israelense. De acordo com Israel, por volta de 1.000 foguetes foram lançados contra Israel a partir de Gaza.

AIS: Por que o Hamas decidiu se envolver tão maciçamente?
Oliver Maksan: O Hamas queria o conflito porque está em profundo problema político e econômico. Na Síria, os islamitas que apoiam os rebeldes contra Assad apostaram no lado errado. Como consequência, o Irã, seu patrocinador, cessou o seu apoio. Além disso, a derrubada dos irmãos muçulmanos Mursi, no Egito, piorou a situação do Hamas de forma dramática. Eles decidiram então que não têm muito a perder. O que querem é restabelecer sua reputação entre os árabes palestinos como um movimento de resistência contra Israel. Por outro lado, em troca de um cessar-fogo eles querem ter uma apreciação política e econômica o mais elevada possível. Por exemplo, a abertura de uma passagem na fronteira com o Egito – hoje majoritariamente fechado – iria beneficiá-los.
Mas, fundamentalmente, o conflito é sobre outro conflito até agora não resolvido entre Israel e os palestinos na Faixa de Gaza, que é dada uma vantagem por causa da situação humanitária. Sem uma solução política para o conflito, haverá rodadas de violência novamente e novamente.

AIS: O gabinete de segurança de Israel aceitou uma proposta de cessar-fogo pelo Egito, esta manhã (15 de julho). Ele deu aos inimigos 12 horas para parar os combates e partirem; a partir de 09:00 (horário de Israel) de hoje. O Hamas recusou. O que vai acontecer agora?
Oliver Maksan: Bem, depende do Hamas. Se eles seguirem o exemplo, esta rodada do conflito vai acabar logo. Se não, e eles continuarem os ataques, Israel vai ver-se internacionalmente legitimado a responder com força. Até agora as coisas para o Hamas não deram muito certo. Eles não foram capazes de prejudicar Israel significativamente desde que a maioria dos foguetes foram interceptados. Ao contrário, eles foram enfraquecidos militarmente por significativos ataques israelenses. Mas eles ainda estão hesitantes porque querem chegar a uma troca política e econômica mais favorável.

AIS: Como está a vida em Israel agora?
Oliver Maksan: Depende da região de que falamos. As áreas próximas à Faixa de Gaza estão em uma situação de emergência. As sirenes soam lá permanentemente e as pessoas estão correndo para se abrigar nos bunkers. Mas também, em áreas mais remotas, como Jerusalém, Tel-Aviv ou Haifa houve ataques e alarme de ataque aéreo. Isso mostra como o Hamas poderia aumentar o alcance de seus mísseis. Mas, nestas áreas, as pessoas não se sentem imediatamente ameaçadas. A vida continua mais ou menos normalmente. Ataques são esporádicos e há sistemas de interceptação de foguetes.
A maioria dos israelenses se sente relativamente segura. Até porque, até agora não houve mortes diretas.

AIS: E na Faixa de Gaza, como está a situação?
Oliver Maksan: Em Gaza a situação é completamente diferente. Nesta pequena e densamente povoada área não há bunkers e sirenes. Armas e lançadores de foguetes são frequentemente implantados em áreas residenciais. No total, mais de 175 pessoas foram mortas por ataques israelenses até agora. A Caritas estima que mais de 70% deles eram civis. Além disso, eles acreditam que mais de 1200 pessoas foram gravemente feridas. Centenas de casas foram total ou parcialmente destruídas. Centenas de famílias, portanto, tornaram-se desabrigadas. A situação da oferta está se tornando dramaticamente ruim. Eletricidade e água potável estão ficando escassas.

AIS: E sobre os cristãos em Gaza?
Oliver Maksan: Eles sofrem como todo mundo lá. Até o momento não há relatos sobre mortes entre os cristãos. Mas o pároco católico de Gaza teme que grupos islâmicos radicais podem tentar se beneficiar de um clima de anarquia e se voltar contra os cristãos.

AIS: Quantos cristãos estão em Gaza?
Oliver Maksan: Eles são apenas uma minúscula minoria. Entre um número estimado de 1,8 milhão de habitantes de Gaza, apenas 1300 pessoas são cristãs. A maioria pertence à Igreja Greco-Ortodoxa, que tem um arcebispo residente na cidade de Gaza. Apenas 170 pessoas pertencem à Igreja Católica Romana. De acordo com estimativas, mais do que a metade da população cristã de Gaza a deixou desde 2005.

AIS: Qual é a posição da Igreja em relação ao conflito?
Oliver Maksan: A Igreja Católica na Terra Santa exige naturalmente um cessar-fogo imediato. Mas a Igreja pede mais. Ela quer uma paz justa implementada e não apenas mais uma rodada de um cessar-fogo instável. A comissão de Justiça e Paz da Conferência Católica dos Leigos publicou recentemente um texto dizendo: “A atual situação em Gaza é uma ilustração do ciclo interminável de violência, na ausência de uma visão de um futuro alternativo. Romper com o ciclo de violência é dever de todos, opressores e oprimidos, vítimas e algozes. A fim de se comprometer a esse objetivo, todos devem reconhecer no outro um irmão ou irmã para ser amado e querido, em vez de um inimigo a ser odiado e eliminado”.

 

Fonte: AIS – Ajuda a Igreja que Sofre