Durante voo de retorno ao Vaticano, na segunda-feira, 19, após visita pastoral à Ásia, o papa Francisco atendeu aos jornalistas em coletiva. Entre os assuntos abordados, o pontífice foi questionado sobre o que diria às famílias que tinham mais filhos do que podiam criar e sobre as proibições da Igreja Católica referente ao controle artificial de natalidade.
“Algumas pessoas pensam – e desculpem minha expressão aqui – que, para ser um bom católico, eles precisam ser como coelhos. Não. Paternidade tem a ver com responsabilidade. Isto é claro”, respondeu o papa. Durante a conversa, Francisco se manteve firme contra o controle de natalidade artificial e disse que uma nova vida é “parte do sacramento do matrimônio”.
O bispo de Camaçari (BA) e presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), comenta a declaração do papa que “católicos não devem se reproduzir feito coelhos”.
“O papa Francisco não deixa de surpreender aos observadores com seu estilo, que quebra protocolos, e fala dirigindo-se principalmente às pessoas simples, e não aos teólogos e intelectuais em geral. Na entrevista dada durante a viagem de retorno das Filipinas, o tom era evidentemente coloquial. E nesse tom, fala de realidades importantíssimas. Em primeiro lugar, alude a uma mentalidade que, especialmente a partir dos anos 60 fala em tons alarmistas da ‘explosão demográfica’, alegando que a pobreza de muitos povos se deve a uma espécie de ânsia reprodutiva dos mais pobres. Por esse caminho, muitos países alcançaram taxas negativas de natalidade, com graves problemas sociais, tais como o envelhecimento da população, isto é, presença de um contingente de idosos muito mais numeroso que de jovens. Isto gera graves desequilíbrios na sociedade, podendo levar à falência as caixas de governos que não têm como pagar os benefícios previdenciários dos idosos e seus cuidados médicos”, explica dom Petrini.
Dignidade humana
Sobre o conceito de “paternidade responsável” expressado pelo papa durante a coletiva, dom Petrini diz que o pontífice referiu-se ao conceito usado pela Igreja há muito tempo e incorporado pelo Beato papa Paulo VI na Encíclica Humanae Vitae, de 1968. O conceito foi se popularizando e está presente no Catecismo da Igreja Católica, de 1992. O número 2368 deste documento afirma: ‘Um aspecto particular desta responsabilidade diz respeito à regulação dos nascimentos. Por razões justas, os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos’. Paternidade responsável é, então, a atitude dos esposos que, avaliando suas condições (econômicas, de saúde, etc.) decidem quando ter um filho e quando esperar. O mesmo número acima recordado acrescenta: ‘Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável’. O papa recorda o que a Igreja sempre disse: que não corresponde à dignidade humana agir por puro instinto, pois atitudes dominadas pelo instinto são próprias dos animais”, comenta o bispo.
Métodos contraceptivos
A questão dos métodos contraceptivos foi outro questionamento apresentado pelos jornalistas ao papa. Dom Petrini recorda que Francisco disse conhecer muitos métodos que são eficazes para regular a fecundidade e que não são artificiais. “De fato, nos últimos anos, a ciência médica tem avançado muito no aprimoramento de métodos naturais que dão o casal a possibilidade de regular o número de filhos. Trata-se de métodos que exigem e promovem um entrosamento entre os esposos, um permanente diálogo, uma sintonia fina, isto é, atitudes que constituem uma extraordinária riqueza em suas relações íntimas. Os interesses dominantes são mais favoráveis a outros métodos que necessitam de artefatos produzidos por indústrias e que, portanto, rendem lucros ingentes. Essa é a razão principal pela qual estes métodos veiculam intensa propaganda e recebem o consenso de todas as formas de poder”.
Ainda, sobre os métodos contraceptivos, o presidente da Comissão Vida e Família da CNBB, dom João Carlos Petrini destaca que a Igreja sempre esteve preocupada em zelar para que nada de externo ou artificial se interponha na expressão da intimidade, na vivência do amor humano.
“Este cuidado visa não tirar a responsabilidade de uma das partes, quase sempre o homem, nos cuidados com os efeitos das relações sexuais, porque isto poderia transformar a sexualidade num lazer e a mulher num brinquedo. Nesses casos, poderiam faltar a consideração e o respeito necessários para que o relacionamento entre homem e mulher se desenvolva na plenitude da dignidade e seja fonte de satisfação e verdadeira realização humana”.
Com informações da Comissão Vida e Família.