PORTAS E CORAÇÕES ABERTOS

                Basta uma simples ameaça contra o conforto ou segurança de nossas vidas para nos armarmos com instrumentos de defesa. Quando não os temos, isolamo-nos, fugimos ou nos fechamos em um canto qualquer. Fechar portas e janelas é uma dessas atitudes imediatas. Deixar de ouvir palavras de moderação ou alerta é também fechar mentes e corações para a razoabilidade de uma reação sem contendas. Se a ameaça é física, afinamos nossa agressividade. Se nos ameaçam moral, intelectual ou espiritualmente, pondo em xeque nossas crenças e convicções, então se tranca o coração, isola-se qualquer possibilidade de entendimento ou diálogo.

                Isso tudo aconteceu com os discípulos de Jesus, naquele “primeiro” dia da semana após o terrível espetáculo de sua morte de cruz. Por medo dos judeus, algozes primeiros do mestre nazareno, nada mais prudente do que se esconderem, fecharem as portas com boa guarnição de trincos e ferrolhos, apagarem luzes, baixarem as vozes e orarem… Rezar mais e mais! Terrível aquela situação de medo e insegurança. O que seria de suas vidas agora?

                Não mais havia paz entre eles. A esperança que lhes restava era um sopro, uma réstia de luz qual a que agora penetrava aquela sala pelas frestas das paredes mal vedadas da casa onde se escondiam. Uma casa conhecida por todos que ali estavam, onde se reuniam habitualmente, onde Jesus com eles pernoitara muitas noites, onde fizeram aquela última e maravilhosa (também misteriosa) refeição de despedida… Onde Maria os acolhia como se casa dela fosse, mas que tinha os ares de uma  Betania especial, uma sala ampla no segundo piso, local quase sagrado onde se sentia o lampejo miraculoso de uma proteção celestial… Ali Jesus ceara com eles e pedira que se recordassem sempre daquele momento diáfano: “Façam isso em minha memória”!

                Eis que, sob a proteção daquele teto bendito, sob a guarnição de suas portas sólidas e  bem trancadas, Jesus surge miraculosamente, lhes desejando paz! Suas mãos chagadas e seu coração traspassado não deixam dúvidas. É Ele. Um sopro de alento novo alivia seus temores. É Ele mesmo! Seu sorriso largo e seu sereno olhar… Seus lábios portadores de tantas palavras de esperança agora lhes desejam apenas paz. Sopra sobre eles um alento de vida nova, de espírito renovado. Aquele mesmo Espírito que flui de suas palavras de ordem e tarefa a se cumprir. Não temas, pequenino rebanho. Saiam dessa masmorra, desse torpor sem ação, sem missão a se cumprir. O mundo espera por  vocês. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,22).

                Basta que acreditem. Que aceitem e recebam o Espírito Santo. Então a reconciliação será universal, o perdão recíproco, sem limites, sem fronteiras… Basta perdoar e a paz será restaurada, as barreiras demolidas, as portas abertas. Tanto na terra quanto no céu.  O milagre de Pentecostes é o grande segredo da reconciliação que o mundo ainda não descobriu. “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e as portas serão abertas”. Os corações também.

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