Por que Deus nos deu a Igreja?

O Senhor sabia que todos nós precisaríamos dela

As pessoas adoram música clássica e futebol, Homer e Dante, Shakespeare e corrida Fórmula Indy, porque estão vivas. Tudo isso estimula a vida.

Nós nos reconhecemos nas façanhas do atletismo, da arte e da literatura, uma realidade interior repentinamente expressa e tornada presente diante de nós. Não me canso de ler e aprender com os grandes poetas, pois eles continuam a falar conosco. As grandes obras do passado falam conosco, transformando nosso presente.

Mas para quem se perde nos conceitos efêmeros dessas obras de arte, quem acha desinteressantes as grandes harmonias ou não entende a lógica do jogo, surge a dificuldade de compreensão. O grande prazer está perdido. Como afirma o filósofo e padre italiano Luigi Giussani: “Para haver compreensão, deve haver correspondência”.

Isso é verdade não apenas para a arte, o esporte, a música e a poesia; vale também para a Igreja.

Muitas vezes, o fracasso em catequizar e cultivar o senso religioso natural da pessoa humana leva ao distanciamento da Igreja. Giussani argumenta:

“Muito facilmente, a ausência de educação no sentido religioso natural nos faz sentir que aquelas realidades enraizadas em nossa carne e em nosso espírito estão longe de nós. Ao contrário: a vivacidade da presença do espírito religioso torna mais fáceis os termos de uma realidade como a da Igreja”. 

Os seres humanos sempre vão louvar algo. Do fundo do nosso coração, queremos pertencer a algo superior, sermos chamados para fora de nós mesmos.

Quando a educação do senso religioso é prejudicada, as pessoas começam a adorar outras coisas além de Deus. Quantas vezes se disse que as famílias que priorizam os esportes nas manhãs de domingo em detrimento da Missa e da catequese estão promovendo algo gravemente prejudicial no âmago de sua vida familiar? Homens e mulheres oferecerão devoção a alguma coisa. Se não for Deus, será política, Netflix, carreira, dinheiro, lazer…

A Igreja é uma realidade colocada diante de nós para nos sustentar. De acordo com o plano do Pai, Jesus instituiu a Igreja porque sabia que precisávamos dela. O Concílio Vaticano II nos ensina que Deus Pai, “planejou reunir na Santa Igreja todos os que acreditassem em Cristo. Já desde o início do mundo se manifestou o prenúncio da Igreja”(Lumen Gentium, 2).

O Senhor, conhecendo nossos corações melhor do que nós, estabeleceu a Igreja para nos guiar no caminho da verdade e, assim, moldar e satisfazer nossos anseios mais profundos.

A Igreja, ao mesmo tempo visível e invisível, realidade histórica e também transcendente, é o instrumento da nossa salvação. A Igreja guiará e nutrirá nossa religiosidade fundamental, esse instinto que temos de adorar e louvar e que brota de nossa humanidade.

A formação religiosa de nossos filhos é muito importante. Eu me apego às memórias da minha vida paroquial quando criança. A procissão anual da Quinta-feira Santa, a Adoração Eucarística, a dedicação de meu pai ao coro da nossa paróquia, minha mãe nos levando para lavar as janelas e distribuir alimentos aos pobres… Meus pais me treinaram para amar a Igreja, para reconhecer que o desejo que eu tinha de ir além de mim mesmo poderia e seria realizado por ser membro do Corpo de Cristo.

Isso não é só nostalgia. Estas são as alegrias que eu conservo por ter sido resgatado, em minha juventude, da prisão de mim mesmo. O convertido compartilha as mesmas memórias.

O desafio de nossos dias é revelar o que a Igreja realmente é.

Não podemos ter vergonha de sermos fiéis e devotos. Este ou aquele clérigo que falhou em exemplificar uma vida cristã virtuosa deve ser corrigido. Como Jesus afirma no Evangelho: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o …” (Mateus 18,15).

O profeta Ezequiel escreveu: “Filho do homem, eu te constitui sentinela na casa de Israel”. Portanto, o Senhor não abandonará a Igreja. Ele não pode. Ele fundou a Igreja e prometeu enviar pastores.

Cada um de nós contribuirá para a construção da Igreja. Devemos ser fiéis ao grande mandamento. Devemos amar verdadeiramente nosso próximo. Nossa proclamação das verdades da vida moral soará vazia se não for exemplificada na caridade de nossos próprios atos. Cada alma tem um papel a cumprir.

Para aqueles que não entendem o que é a Igreja, para aqueles cuja compreensão carece de correspondência, a caridade, na verdade, atravessará o abismo do equívoco.

Não é trabalho de outra pessoa. É nosso trabalho. Este é o trabalho de cada fiel.

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