Pastoral da Saúde

    Um dos trabalhos importantes a incrementar ainda mais em nossa Arquidiocese é a da Pastoral da Saúde, de maneira especial a visita aos enfermos tanto nos hospitais como nas residências. Conversava esses dias com os encarregados dessa pastoral e escutava seus anseios para um trabalho mais presente nesses momentos tão importantes da vida de nossos irmãos.
    Todos os anos celebramos o Dia dos Enfermos na festa litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, dia 11 de fevereiro, e a cada ano o Papa nos envia sua mensagem especial para essa ocasião. Dentro do contexto do Ano da Caridade Arquidiocesano este tema se reveste mais ainda de importância.
    Nesse sentido, o Papa apresentou o tema do Dia Mundial do Enfermo, que neste ano se celebrou a sua XXII edição: “Fé e Caridade: também nós devemos dar a nossa vida por nossos irmãos” (1Jo 3,16).
    Tenho insistido muito, até sendo repetitivo, que em nossa vida de fé devemos amar o irmão, perdoar o irmão, dar a mão para que ele dê um recomeço em sua vida. Apesar de sermos contingentes e pecadores, não podemos nos cansar de perdoar, de acolher o diferente e de caminhar com os que erram. Entretanto, é oportuno dizer, no contexto do Dia Mundial do Enfermo, que devemos vivenciar a caridade naquele que está doente, naquele que padece dos males físicos e até espirituais.
    Na sua caminhada histórica nesse mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo foi um homem que viveu curando as enfermidades, restabelecendo a saúde daqueles que padeciam no leito: “Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi com Tiago e João à casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre: e sem tardar, falaram-lhe a respeito dela. Aproximando-se, ele tomou-a pela mão e levantou-a; imediatamente a febre a deixou e ela pôs-se a servi-los. É tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e possessos do demônio. Toda a cidade estava reunida diante da porta. Ele curou muitos dos que estavam oprimidos de diversas doenças, e expulsou muitos demônios. Não lhes permitia falar, porque O conheciam. De manhã, tendo-se levantado muito antes do amanhecer, Ele saiu e foi para um lugar solitário, e ali se pôs em oração. Simão e os seus companheiros saíram a procurá-lo. Encontraram-no e disseram-lhe: ‘Todos te procuram’. E ele respondeu-lhes: ‘Vamos às aldeias vizinhas para que eu pregue também lá, pois para isso é que vim’. Ele retirou-se dali, pregando em todas as sinagogas e por toda a Galiléia, e expulsando os demônios” (cf. Mc 1,29-39).
    O que observamos da rotina de Jesus neste trecho de São Marcos: o cotidiano de Jesus era pautado em realizar curas de doentes, rezar e pregar o Reino de Deus. Os milagres que Jesus fez estavam intimamente ligados em função de seu serviço ao Reino. Os milagres de Jesus significavam que o Reino de Deus estava acontecendo em forma de recuperação da saúde e de tudo quanto mantinha cativo o ser humano.
    Observamos a precariedade do sistema de saúde, da falta de atendimento médico-hospitalar, das filas para consultas, fisioterapias e outros procedimentos básicos da saúde da família. Devemos caminhar muito mais nesse sentido de valorização do atendimento universal de saúde, gratuito à população em geral. As condições da pessoa enferma muitas vezes passam pelo desengano da ciência, da longa duração de uma enfermidade, especialmente das doenças sem cura. Por isso, é fundamental o olhar da fé para os que sofrem, para os que estão doentes, por que somente a fé poderá aliar a situação do doente, dando-lhe valor e sentido à sua vida.
    O Papa, em sua mensagem para o Dia dos Enfermos, datada de 06 de dezembro de 2013, fala da necessidade de um olhar para quem sofre, ou seja, para quem está acometido de uma doença e para quem os acompanha e assiste: “dirijo-me de modo particular às pessoas doentes e a quantos lhes prestam assistência e cura. A Igreja reconhece em vós, queridos doentes, uma presença especial de Cristo sofredor. É assim: ao lado, aliás, dentro do nosso sofrimento está o de Jesus, que carrega conosco o seu peso e revela o seu sentido. Quando o Filho de Deus subiu à cruz destruiu a solidão do sofrimento e iluminou a sua escuridão. Desta forma somos postos diante do mistério do amor de Deus por nós, que nos infunde esperança e coragem: esperança, porque no desígnio de amor de Deus também a noite do sofrimento se abre à luz pascal; e coragem, para enfrentar qualquer adversidade em sua companhia, unidos a Ele”.
    Devemos, assim, superar aquela mentalidade de que a doença estava ligada ao pecado, que sempre era consequência de algum pecado pessoal a ser expiado, pois Jesus “arcou com as nossas enfermidades e carregou sobre si as nossas doenças” (Mt 8,17).
    O Papa Francisco nos pede que possamos acolher, amar, ter caridade, bondade com os que sofrem: “Como o Pai doou o Filho por amor, e o Filho se doou a si mesmo pelo mesmo amor, também nós podemos amar os outros como Deus nos amou, dando a vida pelos irmãos. A fé no Deus bom torna-se bondade, a fé em Cristo Crucificado torna-se força para amar até ao fim também os inimigos. A prova da fé autêntica em Cristo é o dom de si, o difundir-se do amor ao próximo, sobretudo por quem não o merece, por quantos sofrem, por quem é marginalizado”.
    Fixemos nosso olhar na Cruz Redentora! Nela Jesus deu novo sentido à dor humana, não mais sinal de punição, mas caminho de redenção. Quando olhamos para a doença como itinerário de santificação, nossa alma se eleva e se prepara para aquele dia em que o Pai enxugará toda lágrima e não haverá mais doença, nem dor e nem pranto.
    A nossa atitude para com os doentes deve ser a de ternura, como ensina o Papa Francisco: “Quando nos aproximamos com ternura daqueles que precisam de cura, levamos a esperança e o sorriso de Deus às contradições do mundo. Quando a dedicação generosa aos demais se torna estilo das nossas ações, damos lugar ao Coração de Cristo e por Ele somos aquecidos, oferecendo assim a nossa contribuição para o advento do Reino de Deus”.
    Dirijo-me a todos os que assistem os doentes. Saúdo os médicos, enfermeiros, técnicos de saúde, cuidadores de idosos, trabalhadores dos hospitais, casas de saúde, UPAS, postos de saúde, vilas vicentinas, casas de repouso. Mais do que tratamento os doentes precisam de carinho, e o seu carinho é a maior caridade que se pode fazer ao doente. Uma palavra, uma visita, um sorriso, uma história, um abraço, uma acolhida. São provocadoras as palavras do Papa Francisco, quando nos pede que sejamos como Maria, atentos aos desígnios do Pai, e por misericórdia ir ao encontro dos que necessitam ser cuidados: “É a Mãe de Jesus e nossa Mãe, atenta à voz de Deus e às necessidades e dificuldades dos seus filhos. Maria, estimulada pela misericórdia divina que nela se faz carne, esquece-se de si mesma e encaminha-se à pressa da Galileia para a Judéia a fim de encontrar e ajudar a sua prima Isabel; intercede junto do seu Filho nas bodas de Caná, quando falta o vinho da festa; leva no seu coração, ao longo da peregrinação da vida, as palavras do velho Simeão que lhe prenunciam uma espada que trespassará a sua alma, e com fortaleza permanece aos pés da Cruz de Jesus. Ela sabe como se percorre este caminho e por isso é a Mãe de todos os doentes e sofredores. A ela podemos recorrer confiantes com devoção filial, certos de que nos assistirá e não nos abandonará. É a Mãe do Crucificado Ressuscitado: permanece ao lado das nossas cruzes e acompanha-nos no caminho rumo à ressurreição e à vida plena”.
    Por isso, a advertência de Jesus continua muito atual para cada batizado. E isso seria um bom dever de casa, semanal, neste Ano da Caridade em nossa Arquidiocese: “Estava doente e me visitastes” (Mt 25,36). Porque não podemos ser acusados “não me destes assistência” (Mt 25,43). Nesse sentido, necessitamos de muitos agentes de pastoral que sirvam nessa área. É um belo e importante serviço de evangelização. Você é convidado a fazer parte desse trabalho. A equipe arquidiocesana está refletindo como dinamizar ainda mais essa missão bela e profunda.
    Vivamos a partilha da caridade de visitar os doentes, de amá-los, ouvi-los, animá-los, dar-lhes esperança contra toda a esperança meramente humana, porque “também nós devemos dar a nossa vida por nossos irmãos” (1 Jo 3,16).
    Que Deus dê esperança e fortaleza aos que padecem do corpo e, na mesma proporção, aos que trabalham na área da saúde e são cuidadores dos enfermos, dando-lhe paciência e carinho, levando aos que estão aos seus cuidados o alívio que só o Cristo pode dar.