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O entendimento é o resultado de boas e respeitosas relações em nível institucional, construídas também graças às frutíferas reuniões do Grupo de Trabalho conjunto Santa Sé-Vietnã, bem como em nível eclesial, por meio da disponibilidade a estabelecer boas relações com as comunidades locais e a oferecer um testemunho cristão animado pelo desejo de assumir as tradições locais e os valores compartilhados.
Eminência, nos vários comunicados de imprensa que antecederam o marco desta quinta-feira, sempre foi feita referência a um longo caminho marcado pelo respeito e pelo confronto sincero. Como o senhor descreveria esse percurso?
Penso que os elementos essenciais desse caminho podem ser traduzidos em duas expressões: uma usada pelo Papa João XXIII: “conhecer-se uns aos outros para poder estimar-se uns aos outros” e a outra que nos foi oferecida pelo Papa Francisco: “iniciar processos e não ocupar espaços”.
O início das relações com as autoridades vietnamitas remonta a 1989, quando o cardeal Roger Etchegaray, então presidente do Conselho Pontifício para Justiça e a Paz, pôde fazer uma visita oficial ao Vietnã. De fato, o pensamento de João Paulo II era abrir caminhos de diálogo por meio dos temas da justiça e da paz, característicos do ensinamento e do testemunho diário da Igreja. Assim começou a prática de uma visita anual de uma delegação da Santa Sé, dedicada em parte a contatos com o governo e em parte a encontros com as comunidades diocesanas. Em 1996, começaram as conversas para definir um modus operandi para a nomeação de Bispos. Tenho boas lembranças dessas visitas, quando foi minha vez de fazê-las na qualidade de subsecretário das Relações com os Estados. Em dezembro de 2009, o presidente do Vietnã, Nguyễn Minh Triết, veio ao Vaticano para se encontrar com o Papa Bento XVI. Um Grupo de Trabalho conjunto Vietnã-Santa Sé foi então formado, o que abriu caminho para a nomeação de um Representante Pontifício não residente com sede em Cingapura, na pessoa de S. Exa. dom Leopoldo Girelli, em 13 de janeiro de 2011.
Quais foram as constantes que orientaram o processo de elaboração do Acordo e os encontros do Grupo de Trabalho conjunto?
Acredito ser fundamental enfatizar que, na base dessas reuniões de estudo e trabalho, sempre houve um respeito mútuo e a vontade de avançar, sem esconder as próprias posições, mas discutindo sinceramente sobre elas e suas motivações. Deve-se observar que a Conferência Episcopal sempre esteve envolvida nesse processo e ofereceu suas próprias reflexões e avaliações. Isso foi feito por graus, não buscando imediatamente o resultado final, mas favorecendo uma harmonização gradual do princípio da liberdade religiosa com as leis e os costumes locais. Com o passar do tempo, isso levou a uma maior compreensão mútua e convergência nas escolhas sobre o texto feitas de tempos em tempos e com o objetivo de garantir que o Representante Pontifício Residente tenha as condições para exercer seu ministério de legação junto à Igreja local e às Autoridades vietnamitas, bem como para manter relações com as representações diplomáticas presentes no Vietnã. Além disso, nunca se esqueceu de enfatizar a importância de viver o Evangelho para ser bons cidadãos e bons católicos: é um princípio que orientou a Doutrina Social da Igreja mesmo antes de ser formulada no século XIX, e que já indicava no século II d.C. como os cristãos, em seu modo de vida, manifestam que são ao mesmo tempo cidadãos do céu e da terra. Por fim, no diálogo, a vida da Igreja local e o respeito à liberdade de credo e religião sempre estiveram presentes e, portanto, foi feito um esforço para promover um ambiente benéfico para as atividades e o desenvolvimento da Comunidade católica. Essa atitude, por parte do Vietnã, foi observada no processo de nomeação de Bispos, para o qual, durante esses anos, não surgiram dificuldades particulares.
Eminência, o que pode nos dizer sobre o texto do Acordo? O que significa Representante Pontifício Residente, já que essa figura não parece se enquadrar nas categorias habituais?
Obrigado por essa pergunta, pois ela me permite destacar como o tempo gasto em estudos e debates nos permitiu encontrar uma solução acordada, que poderíamos chamar de “res nova in iure”. De fato, o Representante Pontifício Residente é chamado a favorecer a comunhão entre a Santa Sé e a Igreja local e a assistir e apoiar esta última em todos os seus componentes, participando de suas celebrações e iniciativas. Quanto aos aspectos que poderíamos definir como civis, o Representante Pontifício Residente, como é o caso dos Núncios, tem a tarefa de fortalecer as relações de amizade entre a Santa Sé e o Governo do Vietnã e poderá participar dos encontros ordinários do Corpo diplomático e das recepções, bem como ter encontros pessoais com os Diplomatas, sempre de acordo com a lei do país e no espírito de confiança mútua e das boas relações bilaterais existentes até hoje. Tudo isso, conforme declarado no Comunicado de imprensa conjunto, com o objetivo de que o Representante Pontifício Residente possa ser uma “ponte” para melhorar ainda mais as relações entre o Vietnã e a Santa Sé.
Como o senhor vê o futuro das relações entre o Vietnã e a Santa Sé?
Há um aspecto que sempre me impressionou positivamente no povo vietnamita, talvez porque seja algo que eu respire desde criança em minha terra natal: a humilde laboriosidade. Em meus contatos, percebi uma profunda aptidão para o trabalho, não apenas o trabalho manual, mas entendido como comprometimento com tudo o que se faz. Essa característica poderia gerar presunção; pelo contrário, os vietnamitas sempre mantêm uma atitude humilde e respeitosa, embora orgulhosa, capaz de se adaptar a qualquer situação, como a planta do bambu, que se curva, mas não se quebra. Por que esta introdução? Porque acredito que o futuro nos chama a um caminho para seguirmos juntos, sem a pretensão ou a pressa de alcançar alguma outra meta, mas com a disponibilidade daqueles que querem se confrontar para encontrar o melhor. O Acordo não é apenas uma meta, mas um novo começo, sob o signo do respeito e da confiança mútuos.