Parolin, a Igreja no Sudão do Sul e o bebê Nelson que precisa de tratamento

O cardeal Parolin acaricia o bebê Nelson, que precisa de uma operação urgente em Cartum

Encontro, na quinta-feira, entre o secretário de Estado vaticano e o clero de Juba, na paróquia de São José. O cardeal no adro da igreja encontrou o menino de quase 2 anos que, devido a uma doença degenerativa, logo poderia ficar cego. A menos que ele seja submetido a uma cirurgia de emergência em Cartum, no Sudão. Contudo, a mãe Bakhita não tem dinheiro para pagar as despesas. A recomendação aos padres e religiosos: “Sejam uma Igreja da ternura, modelo de comunhão”

Salvatore Cernuzio – Enviado a Juba

Sacerdotes, freiras e religiosos esperaram diante de leques e ventiladores na paróquia na tarde de quinta-feira (07/07), mas o cardeal Parolin se fez esperar. Fora da Paróquia de São José, ao norte de Juba, uma mulher parou o secretário de Estado vaticano. Ela apontou para um bebê nos braços de sua mãe, Nelson, sussurrando algo perto de seu ouvido. Algumas palavras e o cardeal perguntou inquieto: “Não se pode fazer nada?” Nelson está doente. Ele tem um ano e 7 meses de idade e tem uma doença degenerativa que, se não for tratada nesta fase da vida, corre o risco de ficar cego muito em breve.

Saudações das mulheres

O pequeno estava com seu polegar na boca enquanto fixava o olhar para o vazio. Usava Crocs cor-de-rosa que as freiras da paróquia providenciaram para ele. Eles são do tamanho justo para ele, é o bastante. Parolin acariciou sua cabeça, mas ele se voltava e se refugiou no peito de sua mãe, Bakhita, como a santa tão venerada nestes lugares. Seu sobrenome é Mansur, ela tem 25 anos e durante todo o tempo jamais levantou os olhos para olhar o cardeal, ao contrário de outras mulheres que, ao invés, estendiam os braços para cumprimentar. Uma mulher idosa, que era cega, se ajoelhou e beijou as mãos do purpurado: “Sua Santidade, meus olhos…”, disse ela apontando para seus olhos cobertos por uma pátina azul.

A história de Bakhita

Bakhita, por outro lado, permaneceu muda o tempo todo. Ela permaneceu em silêncio a cada contato, seus lábios cheios apertados e seus olhos que pareciam estar prestes a liberar-se em lágrimas a qualquer momento. Amer, uma garota ao lado, chefe de um movimento local pelos direitos da mulher, a exortava a falar. Ela, quase catatônica, disse um “Obrigado” inaudível. Nada mais. Também não quis responder à solicitação do Vatican News a que ela explicasse melhor sobre o problema de Nelson e se havia algo que se poderia fazer para ajudá-lo. “Orar”, ela respondeu, virando as costas. Amer interveio novamente para explicar que a criança precisaria de dinheiro a fim de se transferir para Cartum, onde está sua tia, onde existem clínicas especializadas. A pequena economia Bakhita já gastou tudo para ir a Wau e Juba. Sozinha, seu marido é um soldado. Disseram-lhe que tratariam seu filho ali, ao invés, não puderam fazer nada. Agora ela gostaria apenas de ir para Cartum, mas não quis deixar seu número ou outros contatos.

A proximidade do Papa

“Oração. Oração”, disse ela. O cardeal fez o sinal da cruz sobre sua cabeça ornada com tranças e assegurou-lhe proximidade espiritual. Não apenas a sua, mas também a proximidade do Papa, de quem tem sido mensageiro durante estes dias de sua viagem à África, como ele repetiu em todos os eventos, incluindo esse nesta paróquia em forma de trapézio adornada com tendas verdes, amarelas e brancas. Aí Parolin realizou seu encontro com o clero local. A área em que se encontra, de acordo com os habitantes de Juba, deve ser descrita como “chique”. Para chegar lá, é preciso atravessar estradas intransitáveis mesmo a pé, poeirentas, irregulares, cheias de lombos e buracos onde o lixo é queimado. No cheiro da podridão e sobre os restos de plástico carbonizado, as crianças brincam usando chinelos de dedo ou com pés descalços, ou sentam-se com suas mães observando os carros passar. Elas são observadas à vista por jipes com soldados armados com fuzis.

O clero de Juba

Ainda na quinta-feira eles iam e vinham em frente à paróquia, enquanto Parolin falava com padres, freiras e religiosos. Um clero comprometido com os pobres, como Bakhita e outras jovens como ela. Alguns contaram ao secretário de Estado vaticano sua própria história de serviço, pelo povo ou pela educação. Houve muitos testemunhos detalhados; o cardeal ouviu todos eles, ocasionalmente estendendo seu olhar para o adro onde, em alguns bancos, Nelson permaneceu até o final.

A ação da Igreja

“As crianças são a esperança para o futuro”, disse o purpurado em seu discurso, mas elas também são um “grande desafio”. Enquanto na Europa há um inverno demográfico, na África continuam nascendo e crescendo vidas pequenas; para elas, porém, não há recursos suficientes. Um paradoxo em uma terra fértil e rica em recursos como o Sudão do Sul que poderia facilmente viver das exportações. “A Igreja faz algo, como fornecer alimentos e remédios”, ressaltou Parolin, lembrando também o compromisso da Secretaria de Estado. Tudo, no entanto, permanece insuficiente.

Risco de fome

O compromisso da comunidade internacional é necessário. Um compromisso que também é urgente, visto que no próprio Sudão do Sul, nos próximos meses, quase um terço da população em grave insegurança alimentar ficará sem assistência humanitária pelo Programa Mundial de Alimentação devido a uma grave falta de fundos. Cerca de 1,7 milhões de pessoas estão em risco de morrer de fome. “É necessário um compromisso de solidariedade para aliviar o sofrimento dos outros”, afirmou o cardeal Parolin.

Voz profética

Por sua vez, a Igreja, além da ajuda material, também tem que assumir a tarefa de assistência espiritual para o povo. “Deve ser uma voz profética”, exortou o secretário de Estado, assegurando aos consagrados e consagradas que “a Igreja no Sudão do Sul não está sozinha, está em comunhão com o Papa e isto é uma grande fonte de inspiração, consolação e encorajamento para vocês”. Uma Igreja, além disso, que apesar das dificuldades que enfrenta, deve se considerar “afortunada” porque, evidenciou o cardeal, “as pessoas não perderam o sentido religioso da vida”.

Diante dessas mesmas pessoas, “a Igreja deve ser um modelo e exemplo de comunhão”, concluiu o cardeal. “É possível cooperar indo além das diferenças, a descomunhão se torne colaboração. Mostrem a ternura de Deus, não sejam uma agência social, mas sacerdotes da ternura de Deus.”

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