Parábolas do Reino dos Céus

    Notáveis as Parábolas de Jesus sobre o Reino dos céus (Mt 13,44-52)  O Reino dos Céus é um dos aspectos bíblicos que envolve o Antigo e sobretudo o Novo Testamento e um dos tratados mais importantes da Teologia que é a eclesiologia ou a doutrina sobre a Igreja. No Antigo Testamento se esboçaram as grandes linhas deste tema, mas foi a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade que, vindo a este mundo, fez do Reino dos céus  o leitmotiv, o centro de sua pregação. Lemos, com efeito, em São Mateus: “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, pregando a boa nova do reino e curando todas as doenças e todas as enfermidades no meio do povo (Mt 4,23). De plano se diga embora  a Igreja seja algo muito superior a uma sociedade religiosa constituída por homens, segundo o Novo Testamento, ela não se identifica de nenhum modo com o reino de Deus. Igreja é uma coisa e o Reino de Deus é outra. Quem penetra fundo nas escritos neo-testamentários  percebe que não se pode dizer  que a Igreja é o reino de Deus sobre a terra, a portadora do Reino de Deus ou até a forma atual do Reino de Deus. É certo que o dinamismo do Reino atua na Igreja, isto, porém, significa somente que as duas realidades Igreja e Reino de Deus se situam num paralelismo que as relaciona entre si, embora sejam realidades diferentes. A Igreja como instituição de salvação é essencialmente ordenada ao Reino dos céus e vai de encontro a este tesouro.  A Igreja tornar-se-á um dia a comunidade de Deus no Reino perfeito e definitivo lá na Casa do Pai. Por isto é  de se notar que Reino de Deus como está em São Marcos, e Reino dos céus, como escreveu São Mateus, são expressões equivalentes. Neste caso fica claro que a Igreja enquanto comunidade dos que esperam este Reino definitivo lá no céu é o primeiro degrau rumo ao mesmo e viver dentro da Igreja as realidades evangélicas é condição para que se chegue ao Reino celeste, como, aliás, asseverou o próprio Cristo.  Aí já vem uma implicação prática de grande alcance: o fato de se pertencer à Igreja não oferece nenhuma garantia de futura participação no Reino eterno de Deus, pois os cristãos vivem um tempo de prova. Jesus, aliás foi bem claro, “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). O Reino é, realmente, um tesouro, um dom de Deus, o valor essencial que é preciso adquirir a custo de recebê-lo. Um dia haverá separação dos “homens maus dos que são justos” (Mt 13,49). É preciso, de fato, cumprir certas condições. Santo Agostinho tem uma frase lapidar e que esclarece inteiramente esta verdade: “Aquele que te salvou sem ti, não te salvará sem ti” Isto porque o Reino  não é uma paga devida por justiça, mas uma conquista contínua nesta terra.  Por isto Jesus advertiu: “Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam (Mt 11,12). Sua conquista supõe bravura,intrepidez, ousadia. resolução, perseverança, constância, firmeza, determinação. É preciso uma decisão para se abraçar as exigências do Reino.  Cristo caminho para o Reino definitivo mostrou o que se deve fazer, ou seja observar os mandamentos. Ele foi categórico: “:Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus” (Mt 5,19). Quando, porém, alguém Lhe indagou qual é o maior mandamento da lei, Ele respondeu: “Ama o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento. Este é o primeiro e o maior mandamento e o segundo é semelhante a este: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. A estes dois mandamentos, reduz-se toda a lei e os profetas” (Mt 22,  36-40).  Cumpre, portanto, vivenciar o amor  como realidade e não apenas como ideal. Eis por que São Pedro aconselhou: “Sobretudo, cultivai o amor mútuo, com  todo o ardor, porque o amor cobre uma multidão de pecados  […]  Como bons administradores da multiforme graça de Deus, cada um coloque  à disposição dos outros o dom que recebeu” (1 Pd 4, 9, 10). Portanto, cumpre ser um autêntico cristão dentro da Igreja para que se possa chegar um dia à mansão celeste, à Casa do Pai.Quem assim procede se torna o testemunho vivo da Igreja que mostra o caminho para se chegar ao Reino dos céus. porque esteve neste mundo comprometido com esta realidade misteriosa que Jesus veio anunciar. Isto São Paulo bem decodificou: “Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé ( Gl. 6,10), certos de que “a nossa presente tribulação, é momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável” no reino dos céus”. (2 Cor 54,17).

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.