Um pastor segundo o coração de Deus. A Igreja celebra neste 4 de agosto a memória de São João Maria Vianney, padroeiro de todos os párocos do mundo. Ainda hoje, há 150 anos de sua morte, o Santo Cura d’Ars é uma figura de grande atualidade para os sacerdotes e em muitos aspectos recorda o estilo pastoral do Papa Francisco. A este respeito, a Rádio Vaticano entrevistou o Cardeal Beniamino Stella, Prefeito da Congregação para o Clero:
“A meu ver o Cura d’Ars é uma figura que já entrou na vida da Igreja e sobretudo deveria incidir com a sua própria história, com os eu ensinamento na vida dos religiosos de hoje. Em que sentido? Foi um pastor extremamente próximo ao rebanho, no sentido que partilhou dele a história, partilhou dele também um pouco da pobreza, que eram típicos daquele tempo. Foi um grande exemplo para este rebanho, sobretudo com a sua simplicidade de vida, com a sua pobreza pessoal. Simplicidade e pobreza são duas virtudes que têm uma grande atualidade, também para o mundo de hoje. O sacerdote que se apresenta humilde, pobre, simples, eu diria que tem um algo a mais para se fazer entender”.
RV: São João Maria Vianney era um pároco que vivia em meio ao povo de Deus. Pensemos também às tantas horas passadas no confessionário. O Papa Francisco lembra um pouco com o seu estilo pastoral justamente a figura do Cura d’Ars…
“Eu diria que uma das mensagens substanciais, importantes do Papa Francisco, é a mensagem sobre a misericórdia. Exortou os padres a tornarem-se, a serem confessores com o coração aberto à acolhida dos pecadores. Justamente o Cura d’Ars nos ensinou esta arte de receber os pecadores com o coração aberto. O interessante é que neste mesmo âmbito o Papa nos ensina a assumir também nós, como sacerdotes, o hábito da Confissão. Vimos o Papa ajoelhar-se, em março passado, durante a liturgia penitencial, diante de seu confessor, na Basílica de São Pedro. Eu penso que seja uma imagem que deve ser muito cara para nós. O Papa disse – e o repete sempre – “Eu sou um pecador”. E todo pecador tem necessidade de ser purificado e de encontrar a misericórdia do Senhor. Eu diria que um grande exemplo que aproxima o Santo Cura d’Ars e o Papa Francisco é a pregação sobre a misericórdia e o exercício da misericórdia pelos outros e para si mesmo”.
RV: O Ano da misericórdia está próximo. Que frutos poderá dar um ano assim tão especial, em particular aos sacerdotes em seu ministério?
“Os sacerdotes hoje trabalham tanto. Assim, gostaria que este Ano da Misericórdia desse um trabalho a mais aos sacerdotes, mas não um trabalho burocrático, não um trabalho administrativo, mas um trabalho realmente sacerdotal, um trabalho justamente no sentido profundo de receber os frutos deste encontro com deus na vida litúrgica, no Sacramento da Reconciliação, e também uma necessidade para aprofundar a fé. Tenho confiança de que o Ano jubilar dará trabalho aos sacerdotes, porém um verdadeiro trabalho sacerdotal, que os canse mais, no sentido de um cansaço salutar. Cansaço, compromisso, sacrifício no sentido de que Deus quer e que o Papa deseja”.
RV: Levando em consideração as conversas que o senhor pode ter nos encontros com o Santo Padre, o que Francisco tem mais a peito em relação aos sacerdotes?
“Eu recordo um encontro com o Papa aqui na Congregação, no mês de maio, quando o Papa disse: “Se fala tanto da reforma da Cúria Romana – o Papa estava visitando os dicastérios da Cúria Romana – mas a reforma da Cúria está ligada a uma reforma da Igreja, a uma renovada redescoberta do Evangelho. E a esta renovação da Igreja, se chega somente por meio do ministério dos sacerdotes”. Assim, voltamos à questão de sempre: o peso dos sacerdotes na vida eclesial. O Papa deseja muito a autenticidade da vida. O Papa nos dá um grande exemplo de proximidade ao povo cristão. O sacerdote tem no Papa Francisco um verdadeiro modelo, um modelo próximo. Existe na vida do Papa Francisco, em seu estilo de ser bispo e de ser sacerdote, algo que une e recorda a todos os sacerdotes da Igreja algumas exigências primordiais, substanciais: vida de oração, disciplina pessoal, dedicação apostólica, amor pelo rebanho, estar com o rebanho…pastores do rebanho, fieis, humildes, simples. As pessoas escutam aquilo que dizemos, olha como agimos, as nossas ações, mas sobretudo considera aquilo que somos!”.
Fonte: Rádio Vaticano