De 24 a 26 de junho o Papa Francisco fará sua primeira visita à Armênia. Encrustada no Cáucaso, esta foi a primeira nação a aderir oficialmente ao cristianismo, no ano 301. A maior parcela da população é adepta da Igreja Apostólica da Armênia, uma tradicional confissão cristã que hoje se encontra separada tanto da Igreja Católica quanto das Igrejas Ortodoxas. Menos de 10% dos armênios são católicos.
Esta é a primeira de uma série de viagens de Francisco a países da região do Cáucaso, que será concluída entre 30 de setembro e 2 de outubro, quando o pontífice visitará Azerbaijão e Gerógia. Assim, o Papa segue privilegiando regiões periféricas em sua agenda.
O projeto Comunicação Aberta oferece três chaves para compreender o alcance e as consequências da estadia papal na Armênia: i) Ecumenismo; ii) Memória do genocídio armênio; iii) Paz no Caucáso.
Ecumenismo
Esta viagem do Papa Francisco é mais um importante passo para a unidade das igrejas cristãs. Em mensagem divulgada aos armênios, o pontífice afirmou que sua visita visa “fortalecer a nossa comunhão, avançarmos em direção à reconciliação e deixar-nos animar pela esperança”. Desde o ano 451 a Igreja Apostólica da Armênia encontra-se separada das demais confissões cristãs. Em 2015, Francisco concedeu o título de “Doutor da Igreja” à São Gregório de Narek, uma importante figura na história armênia que viveu no século X – um gesto que estreitou as relações entre a Igreja Católica e a Igreja Armênia.
Além disso, concomitantemente a esta viagem ocorre o Sínodo de todas as Igrejas Ortodoxas, em Creta, após um hiato de mil anos e quase cem anos de preparação. Há expectativa de que esta reunião de líderes de importantes igrejas cristãs também possa significar um avanço para o movimento ecumênico.
Memória do genocídio armênio
Em abril de 2015 o patriarca da Igreja Armênia, Karekin II, visitou o Papa Francisco em Roma. Na ocasião, o pontífice recordou três grandes catástrofes do século XX, afirmando que “a primeira, que é amplamente considerada como ‘o primeiro genocídio do século 20’ – ocorrido em 1915 -, atingiu o seu próprio povo armênio” (sendo as outras duas o nazismo e o stalinismo). Estas declarações causaram mal-estar com o governo turco, que nega a ocorrência deste genocídio.
Um dos pontos altos da viagem será a visita de Francisco ao memorial de Tzitzernakaberd, construído em homenagem às vítimas daquele massacre.
Paz no Cáucaso
De acordo com o arcebispo católico da Armênia, Boutros Marayati, Francisco será recebido no país como um “apóstolo da paz”. Ele acredita que o Papa pode ajudar a apaziguar a tensa relação entre Armênia e Azerbaijão, países tecnicamente em guerra em função do conflito pela região de Nagorno-Karabakh. O pontífice visitará o Azerbaijão no segundo semestre e há expectativa de que ele possa atuar como um mediador tão eficaz quanto na ocasião do restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e EUA.
Projeto Comunicação Aberta – Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP
Rodolfo Canonico