Papa aos novos bispos: sede no mundo testemunhas do Ressuscitado

O Papa Francisco recebeu na manhã desta quinta-feira 10/09 na Sala Clementina os novos bispos que agora participam, em Roma, em sessões de aprofundamento e partilha organizadas pela Congregação para os Bispos e a Congregação para as Igrejas Orientais. O Papa começou por saudá-los com as mesmas palavras de Cristo ressuscitado aos discípulos, reunidos no Cenáculo na tarde daquele dia, depois do sábado.

Passada definitivamente a noite da cruz”, disse Francisco, e também o tempo de silêncio de Deus, veio o Ressuscitado, atravessando as  portas dos temores dos discípulos, mostrou-lhes os sinais do seu sacrifício de amor e deu-lhes  a missão que Ele mesmo havia recebido do Pai, para que dispensassem no mundo o perdão e a misericórdia de Deus. E acrescentou:

“Então os discípulos voltaram a si. Por um breve mas obscuro intervalo eles tinham-se deixado dispersar pelo escândalo da cruz: perdidos, envergonhados da sua fraqueza, esquecendo a sua identidade de seguidores do Senhor. Agora, ao ver o rosto do Ressuscitado se recompõem os fragmentos das suas vidas, abalados pelo sopro dos seus lábios percebem agora que a missão que estão a receber não os poderá esmagar”.

Vós sois bispos da Igreja recentemente chamados e consagrados – continuou Francisco – viestes de um encontro irrepetível com o Ressuscitado e, atravessando os muros das vossas limitações Ele vos alcançou com a sua presença e, mesmo conhecendo as vossas negações e abandonos, as fugas e traições. E recordou-lhes de serem antes de tudo testemunhas do Ressuscitado, dizendo que é esta sua tarefa primordial e insubstituível, a única riqueza que a Igreja transmite muito embora por meio de mãos frágeis:

“A vós a tarefa de pregar a realidade que sustenta todo o edifício da Igreja: Jesus Ressuscitou! Aquele que subordinou a sua vida ao amor, não podia permanecer na morte. Deus Pai ressuscitou Jesus! Também ressuscitaremos com Cristo!”

Não se trata de uma proclamação óbvia e fácil, reconheceu o Papa, pois o mundo está tão feliz com o seu presente, pelo menos na aparência, do que ele é capaz de assegurar e lhe parece útil, ao ponto de sufocar a questão sobre o definitivo e continuar a adiar o futuro. Entretanto, somos invadidos por perguntas cujas respostas só podem vir do futuro definitivo, disse Francisco. Perguntas tão importantes que não saberíamos como responder se prescindimos do horizonte da eternidade limitando-nos à lógica amputada de um presente fechado e que nos mantém prisioneiros e sem a luz daquele “dia depois do sábado”:

“Como poderíamos enfrentar com o infeliz presente se se obscura em nós o sentimento de pertença à comunidade do Ressuscitado? Como poderíamos dar ao mundo o que temos de mais precioso? Seríamos capazes de recordar a grandeza do destino humano, se se enfraquecesse em nós a coragem de subordinar a nossa vida ao amor que não morre?”

E o Papa recordou os principais desafios dos nossos dias, recordando aos novos bispos que nenhum sector da vida dos homens deve ser excluído do interesse do coração do pastor:

“Penso nos desafios dramáticos, como a globalização, que aproxima o que é distante e, por outro lado, separa as pessoas próximas; penso no fenômeno epocal das migrações que perturba os nossos dias; penso no ambiente natural, jardim que Deus deu ao ser humano e às outras criaturas e que é ameaçado pela exploração míope e, muitas vezes predatória; penso na dignidade e o futuro do trabalho humano, do qual estão excluídas inteiras gerações, reduzidas a estatísticas; penso na desertificação das relações, na generalizada desresponsabilização, no desinteresse pelo amanhã, no crescente e temível  fechamento; na perda de tantos jovens e a solidão de não poucos idosos. Estou certo que cada um de vós poderia completar este catálogo de problemas”.

E Francisco exortou os bispos a não correr o risco de negligenciar as múltiplas e singulares realidades do seu rebanho, a não renunciar aos encontros, a não poupar a pregação da Palavra viva do Senhor e a convidou a todos para a missão. Para os que são de casa e frequentam as comunidades, o Papa convidou os bispos a serem pedagogos, guias espirituais e catequistas, sempre capazes de pegá-los pela mão para guiá-los ao conhecimento que professam, se se esquecerem de cuidar pelos sacerdotes para que despertem o amor de Deus nas pessoas.

Em seguida o Papa recordou também as pessoas baptizadas mas que não vivem as exigências do baptismo, convidando os bispos a interceptarem o seu caminho e, mais do que com palavras, a aquecerem o seu coração com a escuta humilde e interessada para o seu verdadeiro bem, para que se abram os seus olhos e possam voltar àquele de quem se afastaram:

“Ajudai-os a reconhecer o seu Senhor, para que tenham a força de regressar a Jerusalém. E a fé da comunidade será enriquecida e confirmada pelo testemunho do seu regresso. E sede vigilantes para que não se verifique perigosamente nas vossas comunidades aquele orgulho dos ‘filhos mais velhos’, incapaz de se alegrar com quem “estava perdido e foi encontrado”.

E por último, os bispos são também pastores missionários da gratuita salvação de Deus, disse Francisco, e como tais, o Papa exortou-os a a procurarem também aqueles que não conhecem Jesus ou sempre o recusaram. Não é verdade, reiterou Francisco, que nos podemos desinteressar desses irmãos distantes, e não nos é consentido remover a inquietação pelo seu destino. Antes pelo contrário, concluiu o Papa, ocupar-nos do seu autêntico e definitivo bem poderia abrir uma brecha no muro com o qual eles  protegem zelosamente a sua auto-suficiência e vendo em nós o Senhor que os interpela  poderão, talvez, responder ao convite divino.

Aos novos bispos e às suas Igrejas o Papa deu a sua Bênção apostólica, extensiva aos Cardeais Marc Ouellet e Leonardo Sandri, às Congregações que eles presidem e aos seus colaboradores.

Fonte: Rádio Vaticano

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