O Papa iniciou a semana concedendo uma das audiências de maior abrangência diplomática, política e social do ano: Francisco recebeu na Sala Regia, no Vaticano, os embaixadores acreditados junto à Santa Sé para as felicitações de Ano Novo.
Em seu longo discurso, o Pontífice ressalta os sinais positivos que caracterizaram 2015 para a Santa Sé, como os inúmeros acordos internacionais ratificados, que demonstram “que a convivência pacífica entre membros de religiões diferentes é possível”.
Viagens apostólicas
Um caminho rumo à paz e ao diálogo – recorda o Papa – foi a abertura da Porta Santa na Catedral de Bangui, na República Centro-Africana, e que leva a rejeitar com força a ideia de que se possa matar em nome de Deus, como ocorreu “nos sanguinários ataques terroristas dos meses passados na África, Europa e Oriente Médio”.
A misericórdia – explica o Papa – foi o fio condutor que caracterizou as viagens apostólicas de 2015: Sri Lanka e Filipinas , a cidade de Sarajevo, Equador, Bolívia e Paraguai, Cuba e Estados Unidos, e finalmente Quênia, Uganda e República Centro-Africana.
Nesses países, destaca Francisco, as famílias receberam uma atenção especial, por ser “a primeira e mais importante escola de misericórdia”. Se falta a fraternidade vivida em família – adverte – falta a solidariedade na sociedade.
De fato, para o Pontífice, o espírito individualista está na raiz da indiferença pelo próximo, e acaba por tornar as pessoas “medrosas e cínicas”, principalmente diante dos pobres e dos marginalizados.
Migração: desafio global
Entre os últimos da sociedade, Francisco cita de modo especial os migrantes. Aliás, o Papa dedica a maior parte do seu discurso ao Corpo Diplomático à emergência migratória, que em 2015 interessou principalmente a Europa, a Ásia e a América.
Falando do grito de Raquel ou da voz de Jacó, o Papa comenta as razões que levam à fuga milhões de pessoas: conflitos, perseguições, miséria extrema e alterações climáticas. Razões estas que são resultado da “cultura do descarte” e da “arrogância dos poderosos”, sacrificando homens e mulheres aos ídolos do lucro e do consumo.
“Onde é impossível uma migração regular, denuncia o Papa, os migrantes vêem-se muitas vezes forçados a se dirigirem a quem pratica o tráfico ou o contrabando de seres humanos”. As dramáticas imagens das crianças mortas no mar testemunham “os horrores que sempre acompanham guerras e violências”.
Temores pela segurança
O tema das migrações é complexo, reconhece o Pontífice, e requer projetos a médio e longo prazos que devem ir além da lógica da emergência. Para ele, os grandes fluxos humanos rumo ao Velho Continente desorientam os países de acolhimento e suas sociedades, com o risco de minar o “espírito humanístico” que caracteriza a Europa.
O Papa cita “os temores pela segurança, exacerbados desmedidamente pela difusa ameaça do terrorismo internacional”. Mesmo assim, o Pontífice se diz certo de que a Europa “possui os instrumentos para defender a centralidade da pessoa humana e encontrar o justo equilíbrio entre estes dois deveres: o dever moral de tutelar os direitos dos seus cidadãos e o dever de garantir a assistência e o acolhimento dos migrantes”.
Francisco expressa sua gratidão pelas instituições e países que se empenham em acolher os migrantes, entre eles Líbano, Jordânia, Grécia, Turquia e Itália.
Migrantes: pedra angular do futuro
As migrações – defente o Papa – “constituirão uma pedra angular do futuro do mundo mais do que o têm o sido até agora” e é a chave para que o extremismo e o fundamentalismo não encontrem terreno fértil. A propósito, “a Santa Sé renova o seu compromisso em campo ecumênico e inter-religioso para estabelecer um diálogo sincero e leal que (…) favoreça uma convivência harmoniosa entre todas as componentes sociais”.
Ameaça nuclear
O discurso do Papa aos diplomatas se conclui com uma reflexão sobre os eventos positivos que marcaram o ano passado em nível internacional: o acordo sobre o nuclear iraniano e o percurso que poderia levar a um acordo sobre o clima. Fez votos de reconciliação a Burundi, República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Ucrânia. E menciona os desafios à paz: as tensões no Golfo Pérsico, a ameaça nuclear norte-coreana, o terrorismo internacional, “que ceifa inumeráveis vítimas” na Síria, na Líbia, no Iraque e no Iêmen, e o interminável conflito médio-oriental.
Por fim, Francisco garante aos embaixadores a total colaboração da Santa Sé em nível diplomático: “A Santa Sé jamais deixará de trabalhar para que a voz da paz possa ser ouvida até aos últimos confins da terra. Assim, renovo a plena disponibilidade da Secretaria de Estado para colaborar convosco, com a íntima certeza de que este ano jubilar poderá ser a ocasião propícia para que a fria indiferença de tantos corações seja vencida pelo calor da misericórdia”.
No total, a Santa Sé mantém relações diplomáticas com 180 países.
Fonte: Rádio Vaticano