Paixão e Glorificação de Jesus

    Dois gregos, dois pagãos queriam ver Jesus (Jo 12,20-21). Surge uma primeira questão que é saber a razão pela qual eles desejavam aproximar-se do Mestre divino. Depois, é de se indagar qual Jesus desejariam eles ver, ou seja, o taumaturgo, o doutrinador, o messias? Os discípulos relatam a Cristo o fato de aqueles gentios quererem estar com Ele. Parece então que é por isto que Jesus estranhamente toma a palavra e diz: “Chegou a hora de ser glorificado o Filho do homem”. O teólogo jesuíta Lauras observou que todo o Evangelho narrado por São João se faz alusão à “hora de Cristo”. Depois das Bodas de Caná, ocasião em que Ele afirma a sua mãe que sua hora não tinha chegado, até à afirmativa de que chegara sua hora é significativo o termo na vida de Cristo. Aproximara-se a hora desconcertante de sua paixão, mas era a hora na qual a Ele seria dada glória. No Horto das Oliveiras Ele clamará: “Pai, livra-me desta hora”. Era o clamor que sintetizava as horas de agonia naquele Jardim de profunda amargura, relatadas pelos outros Evangelistas nos três sinóticos. Soara a hora do dom supremo de sua Paixão para a qual Ele marchará corajosamente: “Minha vida, ninguém a toma, sou eu que a dou”. São João sem descer a detalhes sobre aqueles que queriam ver Jesus relatou que “veio do céu uma voz: “Glorifiquei-o e ainda o glorificarei”“. Conclui então o referido Pe. Lauras que “a manifestação de humilhação suprema do Filho do homem, a Cruz, é ela a manifestação gloriosa de um amor sem limite”. Aliás, são de Jesus estas palavras: “Não há amor maior do que a dileção de quem dá sua vida por aqueles a quem ama”. Não há então contradição ao se falar da Cruz gloriosa de Cristo. Não pode, porém, ser olvidado o que Jesus declarou: “Quem quiser pôr-se a meu serviço que me siga”, ou seja, como Ele já havia ensinado: “Tome a sua cruz e venha após mim”. A dele Ele carregaria até o fim, caberia então a seu seguidor levar aquela que Deus reserva a cada um, a cruz de cada dia, de cada hora. Apenas assim seu discípulo conhecerá a glória que Ele haveria de receber do Pai. Os dois pagãos queriam ver Jesus e muitas vezes cada um de nós deseja estar com Jesus, mas não aquele que foi levantado da terra lá no Calvário, mas o Jesus dos milagres fulgurantes, do aplaudido na entrada gloriosa em Jerusalém. Muitos se esquecem de que a glória de Deus é o Filho do homem morrendo por amor por todos sobre a Cruz. Eis por que Jesus afirmou: ”Quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”. Já não haveria mais gentios e judeus senão uma humanidade envolta num amor que foi até à imolação lá no Gólgota. Jesus disse também: “Se o grão de trigo morre, ele dá muito fruto”. Cristo, primícia da nova criação após passar pela morte, ressuscitaria e voltaria para o Pai como uma oferenda magnífica e resplandecente, primícia da raça humana renovada, incorruptível. A Cruz, asseverou São Paulo, “é loucura para os pagãos e escândalo para os judeus, mas sabedoria para os que creem”. Isto quando a Cruz é  assim considerada à luz da explicação dada por Cristo. Seu sofrimento seria de tal fecundidade que resultaria em glorificação dele, do Pai, de todos os seus seguidores sinceros. A vida do cristão poderia então dar um fruto e fruto que permanece para a vida eterna, graças ao sangue preciosíssimo derramado na Cruz. Cada vez que o batizado ultrapassa as barreiras da temporalidade e acolhe a vida duradoura com amor, ele se prepara para o Reino glorioso que Jesus conquistou para ele.  Suas ações, sobretudo as mais fatigosas se tornam estrelas que brilharão no céu por toda a eternidade.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.