Referência na comunicação católica em Goiás e na Igreja no Brasil, o missionário Redentorista, padre Jesus Flores, que também era jornalista, morreu na noite de sábado, 11 de setembro, vítima da Covid-19, aos 88 anos de idade. O sepultamento ocorreu na manhã deste domingo (12), no cemitério de Trindade (GO), sem a presença de público.
O religioso estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital de Goiânia desde o início da semana passada quando foi diagnosticado com a doença. Até então, o padre cumpria suas atividades paroquiais em Trindade (GO), atuava na Rádio Difusora Pai Eterno e na TV Pai Eterno.
Padre Jesus Flores tinha 62 anos de sacerdócio e dedicou a vida à missão religiosa e a de evangelizar. Membro da Congregação do Santíssimo Redentor, ele teve um papel fundamental na propagação da devoção ao Divino Pai Eterno e a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, por meio do trabalho realizado pela Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). A missa de sétimo dia será na sexta-feira (17), às 19h30.
Referência na comunicação
Redentorista membro da equipe de coordenação da Rádio Difusora Pai Eterno – Goiânia (GO) e ex-coordenador de comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Rafael Vieira, ressalta a importância de padre Flores como comunicador.
“Padre Jesus Flores foi um comunicador intrépido. Atuava em várias frentes. E, dizia que, na verdade, era apenas um pregador. Viabilizava projetos de comunicação na Congregação com firmeza e foco. A atuação em rádio, por exemplo, foi uma das suas mais decisões mais fortes. Ele apoiava a parte técnica, conduzia a administração e encontrava soluções financeiras muito antes de ir aos microfones”.
Padre Rafael destaca ainda a sabedoria do religioso que era um comunicador completo e sabia que o lugar de fala não podia ser negligenciado. “Falava sobre política, economia, cultura, mas jamais esqueceu que falava como padre. Era tão cuidadoso nisso que não ia para nenhum programa sem uma preparação rigorosa. Só falava daquilo que sabia e falava sempre com o olhar de quem conhecia a história da Igreja, a posição da Igreja e a Moral Católica. Não aceitava negociação alguma que viesse a ferir a verdade. E sua palavra era reflexo do carisma de sua família religiosa: evangelizar os pobres e abandonados. Fez isso, o tempo todo, por meio de uma crítica corajosa a tudo o que viesse a ferir a dignidade dos pobres. Era conhecido e até temido em alguns ambientes e não era somente por causa de seu tom de voz sempre solene e alto, mas pelo conteúdo claro que não expressava ambiguidade, mas que levantava os interesses de parte, da parte dos pobres”, revela.
Com destaque importante na comunicação, principalmente no rádio, padre Flores foi um dos fundadores da Rede Católica de rádio (RCR). O coordenador nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom Brasil), Marcus Tulius, fala do legado de mais de 60 anos dele dedicados a congregação e a comunicação.
“A vida e a missão do padre Jesus se traduziram em profecia, quem pôde ouvi-lo por décadas no rádio, também na TV, sentia a firmeza de suas convicções no peso de sua voz. Ele se configurou de tal forma ao Evangelho que era um homem palavra. O padre Jesus era dessas pessoas que em cinco minutos nos conseguia deixar uma lição, suas falas sempre cirúrgicas e objetivas mostravam a sua cultura e a sua capacidade de análise da realidade”, ressalta.
Homenagens
Na santa missa deste domingo, 12 de setembro, no Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, o superior Provincial dos Redentoristas de Goiás, padre André Ricardo de Melo, destacou a trajetória e comprometimento do padre Jesus com a missão na Igreja.
“Sua vida para nós, missionários redentoristas, que convivemos mais de perto, foi um grande testemunho de homem que experimentou a profundidade de Deus. Era um homem antenado à realidade do mundo, mas ao mesmo tempo um homem enraizado no coração de Deus, um homem que rezava constantemente, um homem que escutava a Palavra de Deus e um homem que vivia sua comunhão com Deus diariamente. Por isso se tornou para nós, redentoristas mais jovens, exemplo e modelo a ser seguido”, afirmou.
O governo do Estado de Goiás e a Prefeitura de Trindade decretaram luto oficial de três dias. Em nota, o governador Carlo Caiado disse que Goiás e o Brasil perdem uma potente voz em defesa da ética, dos direitos humanos e da vida.
“Um dos maiores comunicadores da história de Goiás, padre Jesus Flores se constituiu, ao longo de décadas, como referência nas análises das conjunturas políticas em nível local e nacional, sendo muito respeitado por suas opiniões sempre imparciais, lúcidas, equilibradas e com grande conhecimento dos temas avaliados”, destaca a nota.
A Associação Goiana de Imprensa (AGI) também manifestou pesar o falecimento do religioso. “Um dos expoentes da comunicação em Goiás nas últimas décadas. Profissional de reputação ilibada, Jesus Flores é mais uma vítima da covid-19, doença que tantas vidas da imprensa goiana já tirou. Ele esteve à frente da rádio Difusora em grandes momentos da história política de Goiás e do Brasil. Comentarista político nato, com grande disciplina e ponderação em suas análises, contribuiu civicamente para que o eleitorado fosse às urnas com informação e conhecimento. Sua marca sempre será a isenção e equilíbrio, bem como a coragem e determinação em convocar o cidadão a exercer seus direitos. Ficam o exemplo, o legado e a saudade”, destacou a nota.
Padre Flores também foi homenageado em vida. Seu nome foi dado a uma rua no residencial Vale dos Sonhos, em Goiânia, por ter atuado fortemente para a regularização mobiliária na capital goiana. Além disso, o estúdio da Rádio Difusora Pai Eterno – Goiânia tem o nome dele.
Com informações e foto de capa do Portal Pai Eterno/Afipe e Governo de Goiás