Alessandro Gisotti – Cidade do Vaticano
O dia 12 de setembro de 2001 foi uma quarta-feira. Pela manhã, a Praça São Pedro estava repleta de fiéis, como de costume, mas a atmosfera que se respirava não era de alegria, como sempre. Nos olhos das pessoas estavam ainda gravadas as imagens de terror do dia anterior: a queda das Torres Gêmeas, o avião batendo contra o Pentágono, as pessoas desesperadas que fugiam de um cenário infernal, poeira, sangue, mortos nas ruas. Foram as imagens que também João Paulo II, na residência de Castel Gandolfo, viu com desalento e angústia.
Karol Wojtyla – disse Joaquín Navarro-Valls – quis ir direto ao telefone expressar ao Presidente dos Estados Unidos sua tristeza e proximidade à cidadania, mas George W. Bush estava fora de alcance por razões de segurança. Assim, foi enviado um telegrama no qual o Papa falava de “horror”, “ataques desumanos” e assegurava suas orações “nesta hora de sofrimento e provação”.
Dia sombrio na história da humanidade, mas o ódio não prevalece
Um dos leitores na Praça enfatiza que a audiência é marcada pelos “eventos dramáticos” do dia anterior. “Só para criar um clima de recolhimento e oração – continua ele – o Santo Padre quer que não sejamos aplaudidos”. A voz de Karol Wojtyla racha de emoção quando afirma que o 11 de setembro “foi um dia negro na história da humanidade, uma terrível afronta à dignidade do homem”. E fazendo a pergunta angustiante que muitos têm em seu coração, ele questiona “como podem tais episódios de selvageria ocorrerem”. No entanto, o futuro Santo não deixa espaço para o desespero estéril: “Mesmo no momento mais sombrio, “o fiel sabe que o mal e a morte não têm a última palavra”, mesmo que “a força das trevas pareça prevalecer”.
Nunca a religião seja usada como motivo de conflito
Alguns dias depois, estava agendada a visita de João Paulo II ao Cazaquistão, país de maioria muçulmana. Muitos aconselham o Papa a não cumprir o compromisso, considerado perigoso. “A religião – diz ele com palavras sinceras, em Astana – nunca deve ser usada como motivo de conflito”. E convida “tanto cristãos como muçulmanos a rezar intensamente pelo Deus Todo-Poderoso que nos criou para que o bem fundamental da paz possa reinar no mundo”. Um compromisso para o qual João Paulo II, idoso e enfermo, não poupa energias ao convocar, em janeiro de 2002, um novo Encontro de Religiões pela Paz em Assis, na esteira da histórica primeira reunião em 1986.
Trabalhemos por um mundo onde a paz e o amor reinem
Sete anos depois daquela terrível terça-feira de setembro, em 20 de abril de 2008, um Papa vai ao Ground Zero. Bento XVI opta por não fazer nenhum discurso. Encontra os parentes das vítimas e socorristas, os heróis daquele dia. Acende uma vela em memória de todas as vítimas em Nova York, Washington e do voo United 93. Reúnem-se em oração no centro da imensa cavidade onde ficavam as torres gêmeas. Sob um céu cinzento, que contrasta com a imagem do céu claro do dia dos ataques, o Pontífice se ajoelha – em um silêncio quase surreal, quebrado apenas pelo som das gaitas de foles do New York Fire Department – e invoca o Deus “de amor, compaixão e reconciliação”. Bento XVI pede ao Senhor que traga a sua paz “ao nosso mundo violento”, “paz no coração de todos os homens e mulheres e paz entre as nações da terra”.
No Ground Zero, uma rosa branca sobre os nomes das vítimas
Outros sete anos se passam e, desta vez, o Papa Francisco encontra um cenário completamente diferente do seu antecessor. Onde estava a cratera do Ground Zero, agora existe o Memorial do 11 de Setembro, duas enormes piscinas construídas nos pontos exatos onde ficavam as Torres Gêmeas. Os nomes das 2974 vítimas de 90 nacionalidades diferentes estão gravados em bronze nos dois espelhos d’água que formam o núcleo do memorial.
Aqui, em 25 de setembro de 2015, Francisco, visivelmente emocionado, posa uma rosa branca antes de se recolher em oração. O céu desta vez lembra a manhã de 14 anos antes, mas para fazer sombra não há mais as Torres Gêmeas, mas a Torre da Liberdade, o arranha-céu mais alto dos Estados Unidos, inaugurada apenas alguns meses antes da visita papal. Como já fez Bento XVI, Francisco encontra os familiares das vítimas, os socorristas, acompanhados pelo arcebispo da cidade, Timothy Dolan. Esta visita também é caracterizada pelo silêncio. O único som: o rugido da água das grandes fontes do memorial.
Religiões são forças de paz, justiça e reconciliação
Juntamente com o momento da homenagem às vítimas, Francisco quer lançar – a partir de um lugar tão simbólico – um apelo para que as religiões trabalhem juntas pela paz e contra toda a exploração do nome de Deus. O espírito é o mesmo da iniciativa que São João Paulo II havia promovido alguns meses após o 11 de setembro com o Encontro de líderes religiosos em Assis. A imagem não poderia ser mais eloquente: o Papa, junto com um imã e um rabino, rezam juntos contra o terrorismo e contra a guerra. Meditações hindu, budista, sikh, cristã e muçulmana sobre a paz se sucedem. E ainda a oração judaica pelos mortos.
“Eu espero – diz Francisco – que nossa presença aqui seja um sinal poderoso de nosso anseio de compartilhar e reafirmar o desejo de sermos forças de reconciliação, forças de paz e justiça nesta comunidade e em todas as partes do mundo”. O Papa insiste em banir os sentimentos de “ódio, vingança e rancor”. Só assim, diz ele, podemos “pedir ao céu o dom de nos comprometermos com a causa da paz”.