A Igreja Católica não é uma observadora passiva na tragédia climática que assola a “Casa Comum”. Sua presença no processo da COP 30, a ser realizada em Belém, no próximo mês, é a continuação de uma saga profética que atravessa décadas de sua Doutrina Social. Não se trata de política, mas de um imperativo moral enraizado na fé.
Desde a iluminação da Encíclica Pacem in Terris (1963) de São João XXIII e a Populorum Progressio (1967) de São Paulo VI, o magistério insiste: a justiça, a paz e o bem comum são indissociáveis da proteção ambiental. Este compromisso ecoou e se intensificou nas conferências episcopais da América Latina, como Medellín (1968), Puebla (1979) e Aparecida (2007), que firmaram a defesa dos povos vulneráveis e da natureza como eixo central da missão evangelizadora.
“Escutar o grito da criação”
Somos convocados, como seguidores de Jesus, a ouvir os “gritos da Criação, que geme em dores de parto” (Rm 8, 22). Este lamento ressoa em sintonia com a reflexão da Campanha da Fraternidade 2025, que nos lembra: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31).
A Ecologia Integral e a fraternidade precisam se perpetuar no cotidiano de nossas comunidades, guiando as ações na sociedade. Contudo, o cenário atual é de um equilíbrio rompido. O relato de Gênesis 2, 15-17 nos confia a responsabilidade de “cuidar e cultivar” o jardim. O que vemos, no entanto, é a exploração irresponsável movida pela ganância e pela busca interminável por lucro.
Em vez de “cultivar e guardar” o jardim que Deus nos confiou, muitas vezes as belezas de Deus são destruídas pela busca interminável por lucro, ganância, negligência e falta de compromisso com as futuras gerações.
Desmatamentos, poluição e eventos climáticos extremos – secas, enchentes, incêndios – são as consequências deste “pecado ecológico”. A gravidade é que a Terra, que nos sustenta, está dando sinais de exaustão, e as mudanças climáticas afetam de forma mais devastadora aqueles que são os mais pobres e vulneráveis.
Peregrinos de esperança na COP 30
A realização da COP 30 no Brasil mais do que um evento político: é uma oportunidade formativa e de engajamento. Em resposta a este chamado, a Presidência da CNBB instituiu, em 2023, a Articulação Igreja Rumo à COP 30. Esta coalizão de pessoas e organizações busca fortalecer o grau de incidência da Igreja em vista da conversão ecológica e da transformação socioambiental.
O plano de ação está focado na mobilização dos Peregrinos da Esperança. A articulação tem convidado os Regionais da CNBB a realizarem eventos Pré-COP: encontros formativos com metodologia participativa, visando sensibilizar, formar e mobilizar agentes pastorais; esses encontros também visam garantir que as vozes e realidades de diferentes comunidades sejam levadas ao debate sobre justiça climática. Certamente essa iniciativa vai formar multiplicadores para replicar o conhecimento e ampliar o grau de incidência da Igreja no campo.
A Conferência das Partes (COP), o principal encontro global sobre o clima, que reúne os países signatários da UNFCCC (sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), é o palco onde essas vozes precisam ressoar. A Igreja, ao se preparar de forma tão articulada, reafirma que a missão de “cultivar e guardar” é um ato de fé e um testemunho inegociável de esperança ativa para o futuro.