A menina abrigada na casa do pai; o filho da viúva fora de casa, mas ainda vivo; e Lázaro já sepultado
Santo Agostinho, em seu Sermão 98, nos oferece uma fascinante reflexão sobre os três mortos que Jesus ressuscitou de modo visível e os três tipos de pecadores que eles podem representar:
No Evangelho (São Lucas 7, 11-17) encontramos três mortos ressuscitados pelo Senhor de forma visível e milhares de forma invisível.
A filha do chefe da sinagoga, o filho da viúva de Naim e Lázaro são símbolo dos três tipos de pecadores ainda hoje ressuscitados pelo Senhor. A menina ainda estava em casa de seu pai; o filho da viúva não estava mais na casa da mãe, mas ainda não estava no túmulo; e Lázaro já estava sepultado.
Albert von Keller – Public Domain
Assim, há pessoas com o pecado dentro do coração, mas que ainda não o cometeram. Tendo consentido no pecado, ele habita na sua alma como um morto, mas que não saiu ainda porta afora. Ora, acontece com frequência aos homens esta experiência interior: depois de terem escutado a palavra de Deus, parece-lhes que o Senhor lhes diz: “Levanta-te!“. E, condenando o consentimento que haviam antes dado ao mal, retomam fôlego para viver na salvação e na justiça.
Outros, após aquele consentimento, partem para os atos, transportando assim o morto que traziam escondido no fundo do coração para expô-lo diante de todos. Deveremos deixar de ter esperança a seu respeito? Acaso não disse o Salvador ao jovem de Naim: “Eu te ordeno: Levanta-te!“? Acaso não o devolveu à mãe? O mesmo acontece a quem agiu desse modo: tocado e comovido pela Palavra da Verdade, ressuscita pela voz de Cristo e volta à vida. É verdade que ele havia dado mais um passo na via do pecado, mas não pereceu para sempre.
Já os que se embrenham nos maus hábitos a ponto de perderem a noção do próprio mal que cometem, esses procuram defender os seus maus atos e se enraivecem quando alguém os censura. A esses, esmagados pelo peso do hábito de pecar, albergam as mortalhas e os túmulos e cada pedra colocada sobre o seu sepulcro não é mais do que a força tirânica desse mau uso que lhes oprime a alma e não lhes permite nem levantar-se nem respirar.
Por isso, irmãos caríssimos, façamos de tal modo que quem vive viva e quem está morto volte à vida e faça penitência. Os que vivem conservem a vida e os que estão mortos apressem-se a ressuscitar.
Fonte: Aleteia