Oração e Quaresma

    Durante o tempo quaresmal, somos convidados a vivenciar três práticas espirituais que nos ajudarão na nossa conversão espiritual neste período: o jejum, a esmola e a oração.

    O jejum, a esmola e oração, este último é um dos mais importantes, porque sem a oração não conseguiremos por em prática o jejum e a esmola. Porque não se faz jejum por fazer, forçadamente, somente para mostrar que fazemos, sem a oração não é um jejum completo. A mesma coisa acontece com a esmola, eu não consigo me desprender dos meus bens materiais e dar para o próximo aquilo que está me sobrando sem a oração.

    A oração é o pilar da nossa vida espiritual e a chave para vivermos este tempo quaresmal. Jesus passou os quarenta dias em oração no deserto sofrendo as tentações e as venceu. A oração é o meio que nos ajuda para não cairmos em alguma tentação. Por meio da oração, vamos trilhar um caminho de santidade e viver bem as práticas espirituais que este tempo nos proporciona.

    Esse tempo quaresmal nos proporciona um caminho de conversão, de mudança de vida, de começar de uma maneira e terminar de outra. Chegar na Páscoa diferente de quando começamos a quaresma. Algo em nós deve ser mudado. Por isso, durante este tempo quaresmal há um forte apelo penitencial. A Igreja nos recomenda que aproveitemos deste tempo favorável e façamos a confissão, que faz parte desse caminho espiritual do tempo quaresmal e da mudança de vida que nos é proporcionada neste tempo. Só conseguiremos viver com afinco esses métodos e realizar nossa mudança de vida mediante a oração.

    O Papa Francisco insiste que: “Se devemos voltar, isso significa que a direção seguida não era justa. A Quaresma é o tempo para reencontrar a rota da vida. Com efeito, no caminho da vida, como em todos os caminhos, aquilo que verdadeiramente conta é não perder de vista a meta. Quando na viagem o que interessa é ver a paisagem ou parar para comer, não se vai longe.” Francisco convidou cada um de nós a fazer-se algumas perguntas: “No caminho da vida, procuro a rota? Ou contento-me de viver o dia a dia, pensando apenas em sentir-me bem, resolver alguns problemas e divertir-me um pouco? Qual é a rota? Talvez a busca da saúde, que hoje muitos dizem vir em primeiro lugar, porém, mais cedo ou mais tarde faltará? Porventura a riqueza e o bem-estar?…”

    Segundo Francisco, nessa viagem de retorno ao essencial “o Evangelho propõe três etapas, que o Senhor pede para percorrer sem hipocrisia nem ficção: a esmola, a oração e o jejum”. “A esmola, a oração e o jejum nos reconduzem às únicas três realidades que não se dissipam. A oração nos une a Deus; a caridade, ao próximo; o jejum, a nós mesmos. Deus, os irmãos, a minha vida: eis as realidades que não terminam no nada e sobre as quais é preciso investir.”

    A Quaresma nos convida a olhar “para o Alto, com a oração”, que liberta de uma vida “onde se encontra tempo para si, mas se esquece de Deus”, e depois a olhar “para o outro, com a caridade, que liberta da nulidade do ter, de pensar que as coisas estão bem se para mim tudo vai bem”.

    A Quaresma nos convida “a olhar para dentro de nós mesmos, com o jejum, que liberta do apego às coisas, do mundanismo que anestesia o coração. Oração, caridade, jejum: três investimentos num tesouro que dura”. (cf. https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-03/papa-quaresma-cinzas-missa-aventino-encontrar-rota-vida.html, último acesso em 12 de fevereiro de 2020).

    Existem alguns exercícios espirituais que podem nos ajudar a colocar em prática a oração neste período quaresmal, que são eles: rezar diariamente os salmos (temos a Liturgia das Horas), o Evangelho do dia (Liturgia da Missa); ou para os mais generosos: rezar todo o saltério no decorrer dos quarenta dias. Temos também o rosário, a via sacra, a reunião do círculo bíblico ou da pequena comunidade, o tempo de meditação diante da Eucaristia.

     A leitura da Palavra de Deus: este é um tempo de escuta mais atenta da Palavra: “o homem não vive somente de pão, mas de toda Palavra saída da boca de Deus”. Seria muitíssimo recomendável ler durante este tempo o Livro do Êxodo ou o Evangelho de São Lucas ou as Cartas de São Paulo.

    Pode-se, também, rezar a Via Sacra às sextas-feiras, além de nos ajudar a entrar no clima que este tempo nos proporciona, também nos ajudará a vivenciar as outras práticas espirituais deste tempo que é o jejum e a esmola.

    Há, também, como dissemos, a oração mariana do rosário ou o terço, que leva a meditar sobre os acontecimentos da vida de Jesus, desde seu nascimento até o momento em que subiu aos céus. E como forma de ter uma profunda intimidade com Jesus, há a oração espontânea, aquela que é feita na simplicidade de cada coração.

    Portanto, podemos considerar que dentre essas três práticas espirituais da Quaresma, a oração está em primeiro lugar. Assim como uma pirâmide, no topo está a oração, no meio o jejum e, mais abaixo, a esmola. De tal maneira, que a oração alimenta essas outras duas dimensões.

    A prática da oração faz a pessoa se unir mais ao Senhor. A oração é diálogo com o amado, é a confiança do pobre naquele que é o rico, é a aproximação daquele pequeno com o grande e, apesar de tantas diferenças, o homem é acolhido por Deus, pois este o trata como filho, como amigo e o homem deve tratá-lo como Pai e amigo. A oração ainda é relacionamento de alguém com alguém e, nesse contato, o maior beneficiado é o homem, pois recebe do alto: consolo, força, esperança e amor. São muitas as graças que o homem recebe de Deus, assim como o alimento sustenta o corpo, a oração sustenta e alimenta a alma.

    Por fim, deixemos esse tempo quaresmal nos envolver, tempo de conversão, tempo em que tais práticas vão nos ajudar na união com a Trindade Santa. Trata-se de uma oportunidade que Deus nos concede para que cresçamos na intimidade com Ele. Que o Espírito Santo nos impulsione para podermos viver tais práticas e vencermos as tentações e, chegar no Domingo de Páscoa, estejamos diferentes do que iniciamos a Quaresma.

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