Ondas gravitacionais, o tempo e a eternidade.

    O fato dos cientistas terem detectado as ondas gravitacionais previstas por Einstein em 1915 vem suscitando inúmeras especulações.  Trata-se de um campo inteiramente novo da astrofísica e “esse novo olhar sobre a vastidão celeste vai aprofundar nossa compreensão do cosmos e levar a descobertas inesperadas”, segundo France Cordova, Diretora da Fundação Nacional Americana de Ciências. No que tange à Teologia e a Filosofia, volta à baila a questão da criação do mundo por Deus. Para quem tem fé a Bíblia não deixa dúvidas sobre a imanência e a transcendência do Criador de tudo. Lemos nos Atos dos Apóstolos: “Nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17,27). Como mostra a Filosofia, a imanência do mundo em Deus e de Deus no mundo não suprime, porém, sua transcendência, antes, necessariamente, a inclui. A supramundanidade de Deus, cuja grandeza infinita sobrepuja, de maneira inexprimível, o mundo e tudo quanto é finito, limitado, contingente está unida à imanência igualmente incomparável.  Deus é presente a todos os tempos e coisas na medida em que as conserva. Não haverá nunca nenhuma descoberta científica que venha a provar a não existência do Ser Supremo. O salmista proclamou: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19,1). O homem, como muito bem se expressou Bossuet, “foi colocado à frente da natureza visível para ser o adorador da Natureza Invisível”.  Através da oração, que é “a elevação da alma a Deus”, o ser racional entra em contato com Ele. Os grandes místicos através de uma experiência espiritual acendrada já neste mundo tiveram uma extraordinária relação com a divindade, como ocorreu com São João da Cruz, Santa Tereza de Ávila. No tempo degustaram um pouco da vida eterna. Eternidade, como a definiu Boécio, ou seja, “posse total, simultânea e perfeita de uma vida interminável” só convém ao Ser Supremo. Este na sua bondade infinita faz aqueles que O amaram e serviram neste mundo, participar para sempre da perene ventura na Casa do Pai celeste. Até lá ondas gravitacionais espirituais percorrem o mundo através daqueles que vivem em união com Deus. Bem se expressou Elizabeth Leseur: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Além disto, ondas gravitacionais espirituais unem todos os fiéis na admirável Comunhão dos Santos. São ondas que ultrapassam o tempo e penetram na eternidade. A Liturgia firma esta verdade no Prefácio da Missa, dizendo que por Jesus Cristo “os anjos celebram a grandeza divina os santos proclamam Sua glória” e pede: “Concedei-nos também a nós associar-nos a seus louvores dizendo a uma só voz: Santo, Santo, santo, Senhor Deus do universo. O céu e a terra proclamam a vossa glória”. Pela prece quem tem fé ultrapassa o espaço-tempo num louvor universal e na mais perfeita união entre a Igreja que caminha no tempo e a Igreja triunfante já na eternidade. Deste modo, pode irradiar plenamente por toda parte ondas de felicidade e compreensão. “Realiza tudo que se solicita na prece de São Francisco:” Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna”. Ondas gravitacionais espirituais percorrem então toda a terra. São milhares que fazem esta oração, tantas vezes cantada com unção nas Igrejas, nas reuniões comunitárias. É por tudo isto que se deve olhar um mundo cheio de misérias, mas também envolto em tanta luminosidade, tanto é verdade que o bem é muito mais forte e superior do que o mal. Que todo cristão se conscientize de sua sublime missão nesta terra, pois se Ele está unido a Deus tem fatalmente o mundo nas mãos. Da oração de São Patrício este precioso trecho: “Hoje eu me revestirei da força do amor dos serafins, da obediência dos anjos, do serviço dos arcanjos, da esperança da ressurreição em vista da recompensa graças às preces dos patriarcas, das profecias dos profetas, da pregação dos apóstolos, da fidelidade dos confessores, da inocência das virgens santas, das ações de todos os justos”. É a referida admirável Comunhão dos Santos lançando vagas gravitacionais espirituais na terra, no céu e por toda parte!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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