O verdadeiro tesouro é Deus

A liturgia deste 18º Domingo do Tempo Comum nos questiona acerca da atitude que assumimos face aos bens deste mundo. Sugere que eles não podem ser os deuses que dirigem a nossa vida e convida-nos a descobrir e a amar esses outros bens, que dão verdadeiro sentido à nossa existência e que nos garantem a vida em plenitude.

“Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração” (Cf. Mt 6,21). Este versículo bem poderia resumir todas as leituras de hoje. De fato, vivemos numa sociedade que põe a busca da felicidade no dinheiro, nas posses, no prazer, no poder, e que simplesmente não tem coragem de colocar Deus no centro da existência.

No tempo de Jesus havia duas propostas de sociedade ou dois modelos econômicos: o do campo e o da cidade. O do campo se fundamentava na partilha, por meio da solidariedade, da troca de produtos e da compaixão. Isso impedia que os endividados caíssem na desgraça e que tivessem que emigrar para a cidade, tornando-se mendigos ou bandidos. O modelo econômico da cidade, ao contrário, é fundamentado na ganância, no acúmulo, na lei do mais forte. Isso naturalmente é fonte de exclusão e marginalidade. Isso gera mendicância, violência e roubo. O Evangelho deste domingo é atualíssimo e reflete uma situação do modelo econômico da cidade e não do campo, reflete a ganância e a exploração, não a partilha. Jesus toma posição em favor da partilha, não da cobiça, mas sem se colocar como árbitro entre os que possuem riquezas.

No Evangelho (Cf. Lc 12,13-21), pela “parábola do rico insensato”, Jesus denuncia a falência de uma vida voltada apenas para os bens materiais: o homem que assim procede é um “louco”, que esqueceu aquilo que, verdadeiramente, dá sentido à existência.

O ensinamento de Jesus no Evangelho de hoje é claro: Jesus é contra qualquer cobiça, pois a cobiça não garante a vida de ninguém. A parábola é um monólogo de um homem rico, ganancioso e egoísta, cujo ideal de vida é apenas comer, beber e desfrutar. Este homem não pensa nos seus empregados, não pensa nos pobres, não pensa naqueles que são peregrinos e que batem em sua porta; é profundamente ganancioso e egoísta. Jesus chama-o de insensato, e afirma sua morte naquela mesma noite. Isso significa que acumular bens não garante a vida. O importante é ser rico para Deus, por meio da justiça, da partilha e solidariedade para com o próximo, pois “quem se compadece do pobre empresta a Deus” (Pr 19,17; Eclo 29,8-13). Eclo 29,12 diz expressamente: “Dê esmola daquilo que você tem nos celeiros, e ela o livrará de qualquer desgraça.”

Na primeira Leitura (Cf. Ecl 1,2,2,21-23), temos uma reflexão do Eclesiastes sobre o sem sentido de uma vida voltada para o acumular bens. Embora a reflexão do Eclesiastes não vá mais além, ela constitui um patamar para partirmos à descoberta de Deus e dos seus valores e para encontramos aí o sentido último da nossa existência. “Vaidade das vaidades” nos diz o Eclesiastes (Cf. Ecl 1,2). Devemos seguir o conselho de São Paulo e “procurar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cf. Cl 3,1). Que são estas “coisas do alto”? Uma vida que se afasta dos vícios (Cf. Cl 3,5-10) e que se dispõe a por em prática, de verdade, o que Deus nos ensina nas Sagradas Escrituras: amar mais o próximo, doar um pouco mais do meu tempo, dos meus bens em favor dos outros, pedir e dar mais perdão.

A segunda Leitura (Cf. Cl 3,1-5.9-11) convida-nos à identificação com Cristo: isso significa deixarmos os “deuses” que nos escravizam e renascermos continuamente, até que em nós se manifeste o Homem Novo, que é “imagem de Deus”.

A partilha deve ser a nota fundamental da nossa vida cristã. Vamos pensar nos pobres, nos humilhados, nos migrantes, nos que estão à margem da sociedade e precisam da nossa atenção e da nossa ajuda material e espiritual. O importante é ser rico para Deus, pela justiça, partilha e solidariedade para com o próximo, pois “quem se compadece do pobre empresta a Deus” (Cf. Pr 19,17; Eclo 29,8-13). Quem oferece o perdão e se comporta sempre com compaixão em nome de Cristo encontrou um tesouro – um tesouro que não é capaz de caber em nenhum celeiro, mas só no coração daquele que crê em Jesus.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here