Com o tema “O Turismo e o Trabalho: um futuro melhor para todos”, a Igreja celebra o Dia Mundial do Turismo, nesta sexta-feira (27). A temática foi lançada pelo prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (DHI), cardeal Peter Turkson.
O bispo auxiliar de Belém do Pará e referencial da Pastoral do Turismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Irineu Roman, faz uma reflexão a partir da mensagem para o Dia Mundial do Turismo, que evoca a iniciativa “O Futuro do Trabalho”, querida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que este 2019 celebra seu centenário.
“O trabalho é uma lei da condição humana, antes mesmo de ele se saber chamado à salvação de Deus (Dt 5,13)”, destaca dom Irineu.
Leia a mensagem na íntegra:
Brasília-DF, 27 de setembro 2019
MENSAGEM PARA O DIA MUNDIAL DO TURISMO 2019
“O TURISMO E O TRABALHO: UM FUTURO MELHOR PARA TODOS”
O Cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (DHI), lançou uma reflexão para toda a Igreja sobre a temática “O Turismo e o Trabalho: um futuro melhor para todos”. É o tema para o Dia Mundial do Turismo deste ano, a ser celebrado dia 27 de setembro, que evoca a iniciativa “O Futuro do Trabalho”, querida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que este 2019 celebra seu centenário.
1 – O Valor do trabalho na Sagrada Escritura
Nesta primeira parte, para melhor entendermos a dignidade do trabalho e o turismo, vamos partir da Sagrada Escritura: Em toda parte, na Bíblia, o homem está trabalhando. A Bíblia, tomada em sua totalidade, nos introduz na realidade do trabalho, de seu valor, de seu aspecto penoso e de sua redenção. Partindo do Decálogo, compreendemos que ao cabo de seis dias de trabalho, no sétimo, Deus descansou (Ex 20,8ss). A apresentação imaginosa da criação em seis dias sublinha que o trabalho do homem corresponde à vontade divina e o apresenta como reflexo da ação do Criador. O trabalho é uma lei da condição humana, antes mesmo de ele se saber chamado à salvação de Deus (Dt 5,13). A Bíblia sabe apreciar o trabalho bem executado, a habilidade e o empenho do agricultor, do ferreiro e do oleiro (Sl 38,26). Ela está repleta de admiração pelas realizações da arte: o palácio de Salomão (1Rs 7,1-12) e seu trono, mas acima de tudo o Templo e suas maravilhas (1Rs 6; 7,13-50). No Novo Testamento podemos partir da figura de José, carpinteiro de Nazaré, que em sua labuta diária, dava testemunho de um homem repleto de virtudes, ao lado da Virgem Maria em seu trabalho no lar da Sagrada Família. José, perfeito exemplo de um trabalhador que compreende a dignidade e a importância do trabalho de suas mãos. Jesus, como filho do carpinteiro não só vai buscar no AT, títulos e comparações no mundo do trabalho: pastor, vinhateiro, médico, semeador (Jo 10,1ss; 15,1; Mc 2,17; 4,3). Jesus não só apresenta o apostolado como um trabalho, o da ceifa (Mt 9,37; Jo 4,38) ou da pesca (Mt 4,19), não só está atento à profissão dos que ele escolhe (Mt 4,18), senão que supõe um mundo que trabalha: o lavrador em seu campo (Lc 9,62), a dona de casa com sua vassoura (15,8), e acha anormal deixar-se enterrado um talento sem fazê-lo render (Mt 25,14-30). Cristo dá ao trabalho seu pleno valor. Torna sua obrigação mais premente, fundamentando-a nas exigências concretas do amor sobrenatural; revelando a vocação dos filhos de Deus.
2 – O Turismo e o Trabalho: um futuro melhor para todos
A Mensagem do Cardeal Turkson apresenta muitos problemas relacionados ao exercício do trabalho no setor do turismo: muitos atuam em condições de instabilidade, na ilegalidade, com retribuições não equânimes, num trabalho árduo, distantes da família, com alto risco de stress e submetidos às regras de uma competitividade agressiva.
Analisando os problemas do trabalho no setor turismo, percebemos que as preocupações com a dignidade do trabalho humano sempre foram evidenciadas na história, mas nos últimos anos, o homem e o trabalho humano passaram a ser considerados “fatores de produção”, ‘coisas’ que devem produzir bens e serviços e com isso promoveu também injustiças sociais, considerando que o valor-trabalho passou a ser apropriado para o lucro e transformou o trabalhador e o trabalho em fatores de produção. Por outro lado, ocorreu nas últimas décadas o processo de transformação das relações de trabalho no Brasil, com o aumento dos trabalhadores e dos assalariados em muitas categorias; registrou-se o intensivo processo de urbanização e respectiva migração da população rural para as cidades. Neste sentido, como o fator ‘turismo’, que está em alta hoje, pode contribuir na geração de oportunidades de trabalho e dignidade? Como afirma o Cardeal Peter, “a escolha de tratar o tema do turismo a partir da perspectiva do trabalho mostra-se particularmente oportuna diante das situações de dificuldades radicadas e crescentes que caracterizam a dimensão do trabalho na vida de muitas pessoas, em todas as latitudes.
O cardeal Turkson, ressalta que “trabalhar é próprio da pessoa humana. Expressa sua dignidade de ser criado à imagem de Deus. Onde não há trabalho, não pode haver progresso, não pode haver bem-estar, e certamente, não há lugar para um futuro melhor. O trabalho que não é somente o emprego, mas a modalidade através da qual o homem realiza a si mesmo na sociedade e no mundo, é uma parte essencial na determinação do desenvolvimento integral tanto da pessoa quanto da comunidade na qual ela vive”.
“Somos chamados ao trabalho desde a nossa criação”, escreveu o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si, evidenciando que o “trabalho é uma necessidade, é parte do sentido da vida sobre esta terra, caminho de amadurecimento, de desenvolvimento humano e de realização pessoal”. “Sem trabalho não há dignidade”, disse o Papa na mensagem de vídeo aos participantes da 48ª Semana Social dos Católicos Italianos (Cagliari, outubro 2017).
O cardeal Peter Turkson, cita São João Paulo II na Mensagem para o XXIV Dia Mundial do turismo, em 2003, na qual evidenciava que “A atividade turística pode desempenhar um papel relevante no combate à pobreza, tanto do ponto de vista econômico, quanto social e cultural. Viajando se conhece lugares e várias situações, e se dá conta do enorme fosso social entre países ricos e países pobres”. Nesse sentido, continua o cardeal do Dicastério para o DHI, “as potencialidades de desenvolvimento oferecidas pelo setor do turismo são enormes, tanto em termos de oportunidade de emprego quanto de promoção humana, social e cultural.”
3 – Apelo a favorecer o trabalho dos jovens no setor turístico
A mensagem para o dia Mundial do Turismo conclui-se com um apelo do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral a todos os governantes e aos representantes das políticas econômicas nacionais a fim de que favoreçam o trabalho, particularmente dos jovens, no setor do turismo. Um trabalho que coloque no centro a dignidade da pessoa humana. Que se faça instrumento de promoção do desenvolvimento integral de todo homem e do homem em sua totalidade.
Acrescenta ainda por fim, o Cardeal em sua mensagem: “Os almejados objetivos da paz, a segurança, a promoção e a inclusão social não podem ser alcançados caso se negligencie o esforço conjunto para assegurar a todos um trabalho digno, equânime, construído em torno da pessoa e das suas exigências primárias de desenvolvimento humano integral”.
Dom Irineu Roman, CSJ
Bispo Auxiliar de Belém e Referencial da Pastoral do Turismo – CNBB