O evangelista João diz que “a Palavra se fez homem e armou sua tenda no meio de nós” e esse fato é a mais elevada expressão do amor que Deus tem pela humanidade: “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou seu Filho único”.
O povo de Deus foi aos poucos compreendendo a misteriosa trama desse sonho. Nove séculos antes do nascimento de Jesus, o rei Salomão inaugurava o Templo de Jerusalém e reconhecia que Deus não cabe no Templo que ele havia construído.
Isaías, o profeta que mais fala da vinda do Messias, descobriu sua vocação profética numa celebração solene no Templo de Jerusalém. Também ele reconheceu que um santuário, por mais esplêndido que seja; não consegue conter a divindade. Na experiência que fez, a barra do manto do Senhor era suficiente para preencher o Templo. O profeta da esperança não se conforma com o confinamento de Deus e expressa seu ardente desejo: “Estamos como outrora, quando ainda não nos governavas, quando sobre nós o teu nome nunca fora invocado. Quem dera rasgasses o céu para descer!”
O evangelista Marcos afirma que, no Batismo de Jesus, o céu se rasgou, realizando esse sonho.
Advento não é expectativa, é esperança. A expectativa pode dispensar nossa colaboração, mas a esperança a convoca a entrar na roda, pois a esperança bíblica e do Advento se faz com as mãos, os pés, o coração. O melhor modo de vivenciar essa espiritualidade é olhar para uma grávida: todo o seu ser vai se transformando em vista da esperança que carrega. A própria família de uma grávida vive um clima novo por causa do ser que palpita e que vai nascer. Isso é Advento.
Tudo isso certamente aconteceu com Maria, portadora da esperança da humanidade, corpo que Deus escolheu para que seu Filho realizasse o sonho de ser à nossa imagem e semelhança. Mas isso não basta. Maria não esperou acontecer e, como diz o poeta, soube fazer a hora. Ela é a melhor expressão da espiritualidade do Advento. Declarando-se “serva do Senhor”, não encontrou melhor forma de expressar isso senão indo depressa à serra da Judeia para servir sua prima. Lá se pôs a fazer as coisas que fazia toda dona de casa de seu tempo. Os atos podiam ser simples, mas o modo como a Mãe do Filho de Deus agia em preparação ao nascimento de Jesus é insuperável.
Natal é vida que nasce, é festa da vida, festa da família. Deus se fez como nós, ele se espelhou em nós para convidar-nos a valorizar o dom da vida.
Que todos unidos e cada um de nós possa viver verdadeiramente o Advento, não como uma expectativa, mas como a esperança de um mundo melhor, mais fraterno, mais humano, cheio de amor e paz.