A chamada “carta aos Hebreus” não é uma carta, mas um discurso sobre o sacerdócio de Cristo. O texto da segunda leitura do quinto domingo da Quaresma pertence a uma parte que pode ser intitulada: Jesus, o sumo sacerdote, digno de fé e misericordioso. Por meio do sofrimento, tornou-se obediente, de uma obediência tal que, se as pessoas seguirem o seu exemplo, saborearão a salvação definitiva.
O Antigo Testamento impunha algumas condições para que alguém pudesse ser sumo sacerdote. Uma delas, à primeira vista tão evidente, prescrevia que o sumo sacerdote fosse semelhante às pessoas pelas quais iria interceder junto a Deus, com orações e apresentação de sacrifícios. Esse dado nos ajuda a entender os versículos que a liturgia deste domingo privilegiou. Jesus é um ser humano como qualquer um de nós. Não só. Ele experimentou a dura realidade das pessoas, vivendo o dia-a-dia do sofrimento humano. Para entender a vontade de Deus a seu respeito, serviu-se da oração: “Durante sua vida na terra, Cristo fez orações e súplicas a Deus, em alta voz e com lágrimas, ao Deus que o podia salvar da morte. E Deus o escutou porque Ele foi submisso”.
A oração de Jesus não é fuga. O versículo 7 recorda o que aconteceu com Ele no Getsêmani. Jesus não escapou da morte na cruz. Sua oração foi atendida quando o Pai o ressuscitou dos mortos, depois de ter sido obediente até o fim.
A obediência de Jesus é perfeita. Os sumos sacerdotes do passado ofereciam sacrifícios por si e pelo povo que representavam. Mas o sacrifício era externo a eles. Jesus, ao contrário, é, ao mesmo tempo, o sumo sacerdote e o sacrifício oferecido, não para si próprio, mas em vista da purificação e salvação do povo: “Depois de perfeito, tornou-se a fonte da salvação para todos aqueles que lhe obedecem”.