A liturgia do 25º Domingo do Comum convida os batizados a prescindir da “sabedoria do mundo” e a escolher a “sabedoria de Deus”. Só a “sabedoria de Deus” – dizem os textos bíblicos deste domingo – possibilitará ao homem o acesso à vida plena, à felicidade sem fim.
O Evangelho(Mc 9,30-37) apresenta-nos uma história de confronto entre a “sabedoria de Deus” e a “sabedoria do mundo”. Jesus, imbuído da lógica de Deus, está disposto a aceitar o projecto do Pai e a fazer da sua vida um dom de amor aos homens; os discípulos, imbuídos da lógica do mundo, não têm dificuldade em entender essa opção e em comprometer-se com esse projecto. Jesus avisa-os, contudo, de que só há lugar na comunidade cristã para quem escuta os desafios de Deus e aceita fazer da vida um serviço aos irmãos, particularmente aos humildes, aos pequenos, aos pobres. “Quem entre nós é o maior?” Provavelmente havia tantos pareceres quanto discípulos, cada um dos doze querendo convencer os outros de sua superioridade, e ninguém disposto a ceder a preeminência a outrem. Mas o que chama a nossa atenção na versão deste incidente no Evangelho de Marcos é o papel que Jesus atribui à criança que ele coloca no meio deles e abraça(cf. Mc 9,36). Estávamos esperando que Jesus ia apresentar esta criança como modelo para os discípulos – modelo obrigatório: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus”. É assim, de fato, que são Mateus fala(cf. Mt 18,3-4). Mas São Marcos, não. As palavras que Jesus dirige aos discípulos no Evangelho de São Marcos são mais sutis. Ciente do desejo de cada um dos doze de ser o maior, ele responde com a afirmação de que a grandeza desejada não reside na pessoa de nenhum deles, mas no gesto de acolher em seu nome, e particularmente, de acolher um pequenino em seu nome. A grandeza consiste em agir em nome de Jesus, em agir como ele e por causa dele. Jesus acolhe e abraça uma criança. É assim que ele vive: acolhendo pessoas simples e comuns e deixando bem claro por meio de um gesto caloroso – um abraço – que estas pessoas lhe são importantes.
A segunda leitura(Cf. Tg 3,16-4,3) exorta os batizados a viverem de acordo com a “sabedoria de Deus”, pois só ela pode conduzir o homem ao encontro da vida plena. Ao contrário, uma vida conduzida segundo os critérios da “sabedoria do mundo” irá gerar violência, divisões, conflitos, infelicidade, morte.
A primeira leitura(Cf. Sb 2,12.17-20) lembra aos batizados de que escolher a “sabedoria de Deus” provocará o ódio do mundo. Contudo, o sofrimento não pode desanimar os que escolhem a “sabedoria de Deus”: a perseguição é a consequência natural da sua coerência de vida.
Jesus quer comunicar, com o ato generoso de acolhida de uma pessoa qualquer o gesto de todos os cristãos. Quem faz isto, acolher sem preconceitos ou limites, vai descobrir que este gesto é tão grande, que a pessoa que está sendo acolhida não é outra do que eu mesmo, o Messias, não é a outra do que o Pai Celeste. O batizado, aquele que vive o Evangelho, que testemunha o Ressuscitado, acolhe, sempre, sem restrições, por amor, misericórdia e compaixão. Imitemos esta graça divina!