A complexidade do sistema penitenciário brasileiro e o necessário enfrentamento da realidade encontrada no cárcere, visitados nos estudos até aqui, nos convida à imediata ação. O Papa Francisco apresenta a necessidade de um AGIR, mesmo reconhecendo que o olhar atento sobre a realidade, por si mesmo, já impõe um imperativo de ação (cf. Laudato Si, Francisco, 2015, n.1633). A políticas públicas, econômicas e sociais, devem estar sempre a serviço da vida humana e não apenas de resultados medidos por números e metas que não considerem seus impactos sociais.
A transformação da realidade constatada passa por uma nova atitude diante da vida, uma transformação pessoal e integral, a consciência da consequência na sociedade, o resultado do “VER” e do “JULGAR”, o comprometimento de toda a comunidade cristã, em busca do AGIR evangelizador.
Não pode haver a verdadeira justiça em um sistema carcerário que não devolve à sociedade indivíduos capazes de se integrar novamente à vida pública digna, restabelecendo vínculos afetivos, produtividade e exercendo os valores da fé cristã. O sistema prisional, analisado a partir da Lei de Execução Penal assegura a assistência religiosa como medida fundamental para a reversão do cenário inaceitável dos presídios.
Iniciativas como o Conselho da Comunidade para efetivação de novas práticas de alternativas penais e de ressocialização são fundamentais e podem ser fortalecidas por parcerias com a iniciativa privada e filantrópica.
O Brasil possui mais de 240 mil entidades filantrópicas e Organizações Não-Governamentais (ONGs) que são – na maioria dos locais onde estão presentes – a única forma de acesso de populações carentes a serviços essenciais, como saúde e educação. Esses mesmos serviços que estão ameaçados por legislação do senado da república com mudança na lei da filantropia. Na área da segurança, há uma enorme possibilidade de ampliar o rol de serviços voltados para a população carcerária e do egresso do sistema prisional, com iniciativas que utilizem estruturas previamente existentes e mão de obra qualificada, para desenvolver projetos que atuem para reduzir o sofrimento de irmãos e irmãs marginalizados pelo preconceito inerente em nossa sociedade. Aqui em nossa cidade temos o “amor que cura” que atende por vez mais de 1.500 presos em suas visitas voluntárias.
Com a expertise destas instituições, conduzidas por tantos religiosos e religiosas, leigos e leigas, haveria o aprimoramento de iniciativas que busquem o convívio, relacionamento fraterno, atenção, escuta, acompanhamento nas dificuldades para pessoas privadas de liberdade que almejam a mudança de sua situação. A solidariedade cristã é ação permanente, sólida e responsável.
Agindo como discípulo de Jesus Cristo, “Felizes os que procuram a paz, porque se chamarão filhos de Deus” (Cf. Mt 5, 9), é imperiosa a busca por bases de ação eficazes, que fujam da simplicidade de argumentos como aumento do policiamento ou construção de novos presídios. Em fortes laços familiares se descobre a essência do ser verdadeiramente humano. A construção da cultura da paz, fruto do fortalecimento de uma ação educativa e evangelizadora, é o caminho para a obra da justiça, que torna pessoas sujeitas de sua própria história.