Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (31/10), na Sala Clementina, no Vaticano, os membros da Coordenação Eclesial para o 8° Centenário Franciscano (2023-2026). Trata-se de uma peregrinação que do Vale Reatina, passando por La Verna, chega a Assis, onde tudo começou.
Segundo o Pontífice, quando ele escolheu se chamar Francisco, sabia que estava se referindo a um santo popular e mal compreendido. “Na verdade, Francisco é o homem da paz, o homem da pobreza e o homem que ama e celebra a criação”, sublinhou o Papa. “Mas qual é a raiz de tudo isso, qual é a fonte? Jesus Cristo. A fonte de toda sua experiência é a fé”, ressaltou o Pontífice, reiterando que São Francisco “a recebe como um presente diante do Crucificado, e o Senhor Crucificado e Ressuscitado lhe revela o sentido da vida e do sofrimento humano”.
Imitação de Cristo e amor pelos pobres
Quando Jesus fala com ele na pessoa do leproso, ele experimenta a grandeza da misericórdia de Deus e sua própria condição de humildade. Por isso, cheio de gratidão e surpresa, o Pobrezinho passava horas com seu Senhor e dizia: Quem é você? Quem sou eu? A partir desta fonte ele recebe em abundância o Espírito Santo, que o impele a imitar Jesus e a seguir o Evangelho à risca. Francisco viveu a imitação de Cristo pobre e o amor pelos pobres de uma forma inseparável, como dois lados da mesma moeda.
Segundo o Pontífice, “o próximo centenário franciscano” deve saber “conjugar a imitação de Cristo e o amor pelos pobres. Isso será possível graças à atmosfera que emana dos diferentes “lugares” franciscanos, um presente fecundo que contribui para renovar a face da Igreja”.
A primeira etapa desse itinerário franciscano é Fontecolombo, perto de Rieti. “É um forte convite a redescobrir na encarnação de Jesus Cristo a “via” de Deus. Essa escolha fundamental diz que o homem é a “via” de Deus e, consequentemente, a única “via” da Igreja”, sublinhou o Papa.
Depois, “La Verna com os estigmas representa “o último sigilo” que faz o Santo, assimilado a Cristo crucificado, ser capaz de penetrar na vida humana, radicalmente marcada pela dor e pelo sofrimento”.
Por fim, “o Trânsito de Francisco à Porciúncula, revela o essencial do cristianismo: a esperança da vida eterna. Não é por acaso que o túmulo do Santo, localizado na Basílica Inferior, tornou-se ao longo do tempo o ímã, o coração pulsante de Assis”.
Colocar-se a serviço da Igreja
“Depois de oito séculos, São Francisco permanece um mistério”, sublinhou Francisco, convidando a se colocar “na escola do Pobrezinho, encontrando em sua vida evangélica a via para seguir as pegadas de Jesus. Concretamente, isso significa ouvir, caminhar e anunciar às periferias”.
Em primeiro lugar, escutar. Diante do Crucifixo, São Francisco “ouve a voz de Jesus que lhe diz: “Francisco, vai e restaura a minha casa”. E o jovem Francisco responde com prontidão e generosidade a este chamado do Senhor: restaurar sua casa. Mas qual casa? Lentamente, ele percebe que não se tratava de ser pedreiro e consertar um edifício feito de pedras, mas de dar sua contribuição para vida da Igreja. Tratava-se de colocar-se a serviço da Igreja, amá-la e trabalhar para que nela se refletisse cada vez mais o Rosto de Cristo”.
“Em segundo lugar, caminhar. Francisco foi um viajante incansável, que atravessou a pé vários povoados e aldeias da Itália, estando perto das pessoas e eliminando a distância entre a Igreja e o povo. Essa mesma capacidade de “ir ao encontro”, em vez de “esperar na porta”, é o estilo de uma comunidade cristã que sente a urgência de ser próxima em vez de se fechar em si mesma”, disse ainda o Papa.
Precisamos de justiça e confiança
Por fim, anunciar às periferias. O que todos precisam é de justiça, mas também de confiança. Somente a fé restitui o sopro do Espírito a um mundo fechado e individualista. Com este suplemento de respiro, os grandes desafios presentes, como a paz, o cuidado da Casa comum e um novo modelo de desenvolvimento podem ser enfrentados, sem se render aos fatos que parecem intransponíveis.
O Papa os encorajou “a viver em plenitude o tão esperado Centenário Franciscano”, esperando “que este percurso espiritual e cultural possa ser combinado com o Jubileu de 2025, na convicção de que São Francisco de Assis impele ainda hoje a Igreja a viver a sua fidelidade a Cristo e sua missão em nosso tempo”.