Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Leão XIV enviou uma mensagem aos membros da Soberana Ordem Militar de Malta por ocasião da Solenidade de São João Batista, protetor dessa Ordem Religiosa, celebrada nesta terça-feira (24/06).
O Pontífice agradeceu aos membros da Soberana Ordem Militar de Malta “por todo o bem que fazem onde há necessidade de amor, em situações às vezes muito difíceis” e pelo compromisso com a renovação que estão “buscando há alguns anos, por uma maior fidelidade ao Evangelho”.
“São João Batista, seu protetor celestial, deve iluminar a vida de vocês e a missão que são chamados a cumprir na Igreja por meio da ação do Espírito Santo”, escreve Leão XIV, citando duas finalidades da Soberana Ordem Militar de Malta: tuitio fidei e obsequium pauperum, proteção da fé e serviço aos pobres.
“Dois aspectos de um único carisma: a fé que é propagada e tutelada na dedicação amorosa aos pobres, aos marginalizados, a todos aqueles que precisam do apoio e da ajuda dos outros”, escreve ainda o Papa. A seguir, acrescentou:
Não se trata apenas de ajudar nas necessidades dos pobres, mas de anunciar o amor de Deus a eles com a palavra e o testemunho. Sem isso, a Ordem perderia seu caráter religioso e se reduziria a uma organização filantrópica.
Oferecer amor
“O amor que cada um de nós deve oferecer aos outros é aquele que se coloca ao nível de quem o recebe, assim como Jesus fez quando se colocou ao nosso nível, solidário com aqueles que são desprezados, com aqueles cuja vida é tirada porque são considerados sem valor”, ressalta o Pontífice.
Leão XIV recorda que para a Soberana Ordem Militar de Maltar realizar “tantas obras de bem louváveis” em várias partes do mundo, ela precisa “de muitos meios, inclusive econômicos, e de muitas mediações”. Mas, alerta o Papa, ela “deve sempre ter o cuidado de considerar os meios apenas como tais, funcionais para a realização do propósito”.
Discernir o bem
“Os meios devem ser bons, mas, neste campo, a tentação pode facilmente apresentar-se sob o disfarce do bem, como uma ilusão de ser capaz de alcançar os bons objetivos que se propõe com meios que mais tarde poderiam revelar-se não conformes à vontade de Deus”, escreve o Papa, recordando que “até mesmo Jesus foi tentado nisso, quando o maligno «lhe mostrou todos os reinos do mundo e a glória deles» e prometeu dá-los a ele se o adorasse”. “Mas, Jesus não seria mais o Servo sofredor de Deus, que na humildade se despoja de todo poder mundano para conquistar, com amor, o amor do homem”, sublinha Leão XIV, acrescentando:
Jesus reafirma, mesmo nesta tentação particularmente sutil, a supremacia de Deus e não se vende ao poder deste mundo. Se tivesse consentido na tentação, Jesus teria adotado meios ilícitos e não teria alcançado o fim estabelecido pelo Pai para a sua missão.
Fazer o que Jesus ensinou
O Papa convida a avaliar bem, segundo o propósito da tuitio fidei e do obsequium pauperum sem se deixar “atrair pela mundanidade, talvez sem perceber, justamente por causa da ilusão que a mundanidade acarreta”. “Devemos continuamente fazer nosso o que Jesus ensinou, que não pediu ao Pai que nos tirasse do mundo, porque Ele nos envia ao mundo, mas disse que não somos do mundo como Ele não é do mundo. Ele pediu ao Pai que nos protegesse do maligno”, recorda Leão XIV.
O Espírito revela os enganos do maligno, por isso somos chamados a discernir continuamente se é o Espírito ou o maligno que está guiando o nosso interesse.
Renovação interior, espiritual
A seguir, o Pontífice escreve recorda que a Soberana Ordem Militar de Malta esta engajada “num caminho de renovação” e que “a renovação não pode ser simplesmente institucional, normativa: ela deve ser primeiro interior, espiritual, porque isso dá sentido às mudanças nas regras”.
Segundo Leão XIV, “a conversão é sempre encorajada por uma experiência significativa que toca o nosso coração” e que a “ação caritativa e apostólica é fruto e manifestação de uma espiritualidade, aquela que desde o princípio lhe foi transmitida pelo Beato Geraldo e que vocês são chamados a encarnar no mundo de hoje com uma autenticidade evangélica cada vez maior, fruto de uma purificação contínua”.
Oração, elemento fundamental da formação
A propósito da formação, o Papa escreve que “com grande alegria, soube que há aspirantes que pediram para iniciar a experiência do noviciado”. “Isso é motivo de grande esperança, mas também um desafio para toda a Ordem e, especialmente, para os formadores”, ressalta. “A formação é um aspecto fundamental para todos os institutos de vida consagrada. É particularmente exigente devido à complexidade da vivência dos candidatos no tempo atual”.
Ela deve se concentrar, como elemento fundamental, na oração: litúrgica e pessoal, alimentada pela solidão e pelo silêncio, dimensões necessárias quanto mais a pessoa se dedica à atividade de serviço ao próximo, para que seja testemunha do amor de Deus, que se faz presente.
A vida comunitária forja a caridade recíproca
“Da mesma forma, é fonte de grande esperança que alguns professos desejem iniciar uma experiência de vida comunitária”, conclui o Papa, encorajando “de coração esse desejo, porque a vida comunitária forja concretamente a caridade recíproca e a observância autêntica dos três conselhos evangélicos”.
Mesmo que esta intenção encontre algumas dificuldades na sua concretização, elas podem ser superadas com a ajuda do Espírito, graças a quem a esperança não desilude.