O NATAL

    Um Salvador nasceu pobre e humilde! O contexto consumista atual distrai muitos cristãos do sublime mistério do Natal. Muita preocupação com aquilo que não é o essencial deste fato maravilhoso. Cumpre, então, uma reflexão sobre o amor infinito de um Deus que se fez homem para redenção da humanidade. Contemplá-lo num Presépio, cátedra de onde Ele nos ensina humildade e desapego dos bens transitórios deste mundo e isto com uma eloquência maravilhosa. Numa linguagem não verbal o divino Infante a pregar, desde sua chegada a esta terra, virtudes que devem ser o ornamento seus epígonos. Mensagens austeras, mas que trazem felicidade, imperturbabilidade, honradez. Jesus, Rei do céu e da terra, nasce num estábulo na mais total privação para nos ensinar total desambição, dedicação aos pobres e a fuga de toda arrogância e vaidade. Ele é a luz do mundo e quem O segue não anda nas trevas (Jo 8,12). Para sermos iluminados por Ele é preciso caminhar nos seus passos. Lembremo-nos sempre que os seus primeiros adoradores foram pobres pastores. Apenas depois é que Ele, Soberano que é do Universo, receberá os Magos que lhe trarão suas ofertas, mostrando aos ricos deste mundo que devem ser generosos, honrando-O na figura dos menos favorecidos. Os pastores eram pessoas simples, obscuras, mas devotados a seu humilde trabalho, guardando durante a noite o seu rebanho. Eis por que o anjo lhes aparece e lhes diz: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria para todo o povo. Nasceu-vos hoje na cidade de Davi um Salvador que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 10-12). As preferências divinas não mudam nunca, pois Deus se revela aos pequenos e humildes de coração. Na verdade, estes são capazes de acatar as veredas que o Espírito Santo apresenta para se encontrar sempre o Redentor e suas graças e sua felicidade. Os segredos do Ser Supremo Ele os reserva para quem reconhece sua grandeza e transcendência e está disposto a se adaptar a Ele. Aliás, o próprio Jesus, enquanto homem, assim se lançará sua prece: “Eu vos rendo graças, ó Pai, porque escondestes estas coisas aos sábios e prudentes e as revelastes aos pequeninos e humildes” (Mt 11,23). Além disto, tal a ordem que Ele deu a seus seguidores: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Nada, portanto, mais necessários diante do Presépio do que um desapego dos bens materiais e passageiros deste mundo e o reconhecimento ontológico da dependência que se tem com relação ao Ser Necessário e Infinito. Nada honra tanto a criatura humana do que se curvar ante a Majestade daquele que é o Criador de tudo. Ao falar aos primeiros cristãos São Paulo os exortava a usar o que se tem neste mundo como meros meios e instrumentos para a própria santificação (1 Cor 7,31) e repetia sempre: “Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Rm 7,25), patenteando a verdadeira postura que se deve ter ante o Todo-Poderoso Senhor. O orgulho, a empáfia impedem tão sábias atitudes, pois leva muitos a se entregarem ao luxo ou à aquisição do que é o supérfluo e a não se inclinarem perante a grandeza divina. Lembra São Tiago: “Deus dá sua graça aos humildes e resiste aos soberbos” (Tg, 4,6). Este Jesus que nasce em Belém passará por este mundo fazendo o bem (Atos 10,38), deixando exemplos maravilhosos a serem sempre imitados. A certeza de que o nascimento de Jesus é a prova máxima do amor de Deus para com cada um de seus filhos nos conduzirá aos caminhos desta imitação do divino Redentor, nas sendas da santidade e na mais imperturbável serenidade. Lembra São João: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que tudo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).Tudo isto fruto do glorioso Natal daquele em quem podemos inteiramente confiar.

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