O MILAGRE DE PAMPULHA

                A minissérie JK trouxe as iniciais do responsável por um dos “milagres brasileiros” no quesito desenvolvimento. Não bem um milagre, talvez um dessas “bolhas” de ilusão desenvolvimentista. Já Pampulha – bairro da capital mineira às margens de um lago, urbanizado pelo então prefeito JK e marco do modernismo nacional – foi durante anos o símbolo desse “milagre”! De repente, eis que esse símbolo se torna real, agora atestando um verdadeiro milagre, não de JK, mas de JC, o Cristo Senhor da Vida.

                A cena do milagre deixa boquiaberto qualquer cristão. O lago cintila ao fundo, enquanto alguns casais realizam um piquenique e alguém registra em sua câmara as belezas do local. De repente, um saco preto, de lixo mesmo, rouba a cena. Ele boiava a beira do lago. Há algo dentro, um ser vivo? Um som chama a atenção das pessoas. Um gato, um cachorro? A câmara registra tudo. Munido de um bastão de madeira, alguém alcança aquele “embrulho” que boiava nas águas plácidas do belo lago. Retiram-no das águas e, com as mãos trêmulas que já percebem o inusitado da cena, um rapaz rasga o invólucro plástico… Uma criança! Ouvem-se as exclamações dos que presenciam a cena.

                Então a criança chora. Mais uma vez emite o som de seu agora segundo nascimento. Mais uma vez, a retiram de um ventre, um aparente saco de lixo, porém bem mais puro e imaculado que o ventre que lhe deu à luz primeira. Nasce do lago da vida mais uma rejeitada da sociedade humana. Um anjo é salvo das águas, como aquele Moisés do passado, porém agora distante de um palácio real, um jardim, uma princesa. Ali ao lado, o único palácio é a capela dedicada a São Francisco, aquela igrejinha com a assinatura do maior de nossos arquitetos, que durante anos foi alvo de polêmica entre Igreja e Estado. O arcebispo se negava a consagrá-la.

                Alguém se negou a consagrar aquela criança em sua vida. E o que não consagramos em nossos corações, se descarta. Até uma criança? Se considerarmos as estatísticas dos rejeitados, dos abortados, dos “descartáveis” da sociedade de hoje, a criança de Pampulha é apenas mais uma. Porém, o milagre do seu renascimento torna-se um grito de alerta, um sinal visível e palpável de que o plano de Deus ainda é soberano, está acima da soberania humana sobre suas próprias vontades. Deus propõe, o home dispõe. Porém, nunca a seu bel-prazer, como ilusoriamente possa imaginar essa humanidade sem humanitarismo.

                A cena de Pampulha correu o mundo. Um documento irrefutável de que a podridão de nossos atos será publicada sobre os telhados, proclamada aos quatro ventos do universo, como prova de nossa pequenez diante do milagre da própria existência. O ato daquele abandono foi premeditado em surdina, executando às escondidas. Não contava com a intervenção divina. Mais ainda, não contava com a presença de semelhantes, a ação de uma câmera de vídeo, um instrumento humano que Deus usou para documentar a mesquinhez a que chegamos. Eis a prova. Eis as imagens de um fato que nos parece inusitado, porém corriqueiro. A cada aborto que se faz, a cada criança abandonada, a cada bebê desnutrido que morre de fome o mundo (segundo a UNESCO, morre uma criança a cada quatro segundo), a horripilante cena de Pampulha se repete, porém sem o epílogo feliz do milagre que aqui reportamos. E milagres acontecem, apenar da nossa indignidade.

                Iara, rainha das águas! “Não fui eu quem jogou essa droga!” – disse a mãe. “Deixai vir a mim estas criancinhas – diz Jesus – porque o Reino dos céus é para aqueles que se parecem com elas”.

    20 anos de Palavras de Esperança. Publicado em 01 de fevereiro de 2006.

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