Com a celebração da Solene Festa de Cristo Rei, iniciamos a semana com a qual encerramos o Ano Litúrgico e voltamos nosso olhar, com gratidão e profunda consciência eclesial, para o Dia Nacional dos Leigos e Leigas. Esta dualidade celebrativa é teologicamente intrínseca: o Reinado de Cristo é escatológico, mas é também histórico, e a sua concretização na história depende, essencialmente, da ação dos leigos na chamada ordem temporal.
O Concílio Vaticano II, em particular na Constituição Dogmática Lumen Gentium e no Decreto Apostolicam Actuositatem, reposicionou o leigo de forma definitiva na Igreja. O leigo não é um membro passivo da comunidade, mas um participante ativo e fundamental, dotado de uma vocação própria e irrenunciável.
- A Vocação Batismal e o Triplex Múnus Laical
O fundamento da missão laical reside no Sacerdócio Comum dos Fiéis, conferido pelos Sacramentos do Batismo e da Confirmação. Por esta unção, o leigo é chamado a exercer a tríplice missão de Cristo – a triplex munus:
- Função Sacerdotal: O leigo a realiza oferecendo a Deus as suas atividades cotidianas. O matrimônio, o trabalho profissional, a educação dos filhos, o lazer e até as dificuldades da vida, quando vividos em união com o Senhor, são transformados em sacrifícios espirituais e em verdadeiro culto divino. O mundo se torna o seu altar.
- Função Profética: O leigo é o anunciador da Palavra e o denunciador do pecado nas estruturas. A sua profecia é exercida por meio do testemunho de vida, da coerência ética e da defesa intransigente da verdade em ambientes de ceticismo e relativismo. Onde a voz da Hierarquia tem dificuldade de chegar, a Palavra deve ser levada pelo leigo.
- Função Régia: Esta realeza não se manifesta pelo domínio, mas pelo serviço e pela caridade. O leigo exerce esta função régia ao esforçar-se por vencer em si mesmo o reino do pecado e, sobretudo, ao impregnar de valores morais e éticos as estruturas sociais, políticas e econômicas.
- O Campo Próprio: A Evangelização das Estruturas
O campo de trabalho do leigo é o mundo. A sua missão primária é buscar o Reino de Deus tratando das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus. A Lumen Gentium é clara: “A eles, portanto, pertence, por vocação própria, buscar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus.”
Isto significa que a vocação laical é, primariamente, a evangelização das estruturas. A fé não pode ser um refúgio da vida pública; deve ser um motor. Precisamos de leigos que:
- Na Política: Assumam o compromisso de construir o bem comum, defendendo a dignidade da pessoa humana e a vida em todas as suas fases, e combatendo a corrupção estrutural.
- Na Economia: Promovam modelos de desenvolvimento que sejam justos, inclusivos e sustentáveis, alicerçados na Doutrina Social da Igreja (DSI), reconhecendo que a economia deve servir o homem, e não o contrário.
- Na Cultura e Mídia: Sejam agentes de transformação, levando a beleza, a verdade e os valores cristãos para os debates culturais e para a produção de conteúdo que edifique a sociedade.
A maior urgência da Igreja no século XXI é a de formar leigos que sejam verdadeiros intelectuais da fé e operários da caridade no mundo.
III. A Necessidade da Formação e a Corresponsabilidade
Para realizar esta missão de tão elevada envergadura, o leigo não pode improvisar. O Papa Leão XIV, seguindo a linha do Papa Francisco, insiste na necessidade de uma formação integral. O leigo de hoje precisa conhecer profundamente a Sagrada Escritura, a Tradição, o Catecismo e, essencialmente, a Doutrina Social da Igreja. Sem formação, a ação no mundo corre o risco de se diluir nos modismos ideológicos ou de se tornar mero ativismo social sem raiz teológica.
A celebração do Dia Nacional dos Leigos é, portanto, um convite eclesial para que todos os nossos fiéis assumam sua corresponsabilidade na Igreja. Que não hesitem em aceitar os postos de serviço e de liderança na sociedade. A Hierarquia tem o dever de apoiar e incentivar estes passos, fornecendo as ferramentas para que o laicato seja a vanguarda de Cristo na história.
Que a Virgem Santíssima, a Imaculada Conceição, Rainha dos Apóstolos interceda por todos os leigos e leigas da nossa Arquidiocese e do Brasil. Que o Reinado de Cristo, que celebramos neste dia, se manifeste na justiça, na paz e na santidade de cada um de vós.



