Pe. Luiz Roberto Teixeira Di Lascio
A inefável leveza do Ser faz jorrar do coração, ecoando para todo o Universo, um hino de Glória e Gratidão. Um hino que mobiliza os habitantes deste Planeta a questionar: “Espírito Criador, o que é o ser humano para pensardes nele com grande apreço e cuidares dele com tanto carinho?” (Salmo 8, 5).
É comovente e gratificante contemplar o rostinho de uma criança que nos fita com aquele seu olhar de candura e amor. A criança é o reflexo da inocência. Ela estampa, torna visível, a santidade, a bondade incondicional de Deus.
Esse, Deus Amor, que foi capaz de se tornar uma criança no Seu Filho Jesus, e revelar nele o seu verdadeiro rosto divino. A Encarnação desse Pequeno Príncipe nos move a contemplar Vida como um milagre, que não se repete.
Considerar o mistério da Encarnação do Verbo é deixar-se tocar pela condição de fragilidade da inocência. É permitir que a transcendência divina rompa com todos os padrões que aprisionam o ser humano: os esquemas, dogmas, teorias e “achismos”, que fomentam a banalidade e o acaso da existência. Nada nesta vida é fruto do acaso, em tudo existe um propósito divino. Tudo, obra da Divina Providencia.
A vida é um mistério que vai se desvendando ao longo do tempo num sincronismo e interação, que somente os seres humanos possuídos do fascínio do Amor, são capazes vislumbrar. Privilegiados por poder adentrar esse abismo interior e ultrapassar as entranhas da psique, para então encontrar o verdadeiro “eu”: a síntese do seu ser.
Quem se sente amado, “passeia” no coração de quem o ama. Essa condição vital vem desde um simples pensamento e desejo de concepção da Vida. criança primeiramente nasce do desejo e é gestada e alimentada no coração e só então é gerada na carne de uma mulher. No colo uterino que vibra sob o embalo da pulsação do ventre, ecoando uma sonoridade mística de acolhedora gratidão.
O encanto de uma criança desarma o orgulho e faz brotar a humildade. Cada um desses pequeninos seres é um fascinante milagre de renovação da vida. Não existe outra razão da existência humana a não ser de estar no mundo e se desenvolver até atingir a maturidade espiritual crística.
O aborto não é um jogo ideológico em que cada qual opina e decide com os critérios da eliminação sarcástica de um Big Brother O aborto está ligado à Vida, para onde tudo converge. Que em si tudo concentra e para tudo dá sentido e razão.
A conspiração para a banalidade da Vida é fruto de um sistema que tem o ser humano como o produto de um mercado competitivo e rentável O aborto faz parte da “lógica” do descartável. O corpo sendo o lugar da exploração e da dominação do poder. Uma vez violado, ele propicia um encadeamento de consequências: fomenta a indústria dos prazeres e entretenimentos em que todo sêmen que for introduzido nesse corpo e, acidentalmente, gerar vida, esta deverá ser interrompida a ferro e fogo sob a falsa ideologia do “livre arbítrio”.
A vida humana não deve ser jogada numa arena selvagem e ser disputada na luta aterrorizante de gladiadores sanguinários. Vampiros com sede de sangue, que disputam cada feto como um objeto de conquista, somando no placar das suas vitórias.
Temos que buscar as causas motivadoras dessa cultura criminosa, e procurar eliminá-las através da busca por Justiça, Solidariedade e Amor pela Vida. O ser humano deve sempre ocupar o centro das discussões e dos projetos, em todos os níveis das estruturas politicas, sociais, econômicas e religiosas. A vida como um dom divino, a razão de ser todo movimento de busca. Que anseia por perpetuar-se, e que, uma vez acolhida, nos revela o quão maravilhoso é poder contemplar e experimentar a força transformadora do Amor, desde o nascer até o por-do-sol, da gestação ao desenlace. “No entardecer da vida seremos julgados pelo Amor”.
Pe. Luiz Roberto Teixeira Di Lascio
Arquidiocese de Campinas – São Paulo