O escárnio de uma ré pública

    Sim, nossas instituições estão no banco dos réus. A nação se tornou uma ré julgada e estigmatizada publicamente, a nível mundial. Como bem sintetizou a ministra Cármen Lúcia, do STF, da esperança sobrou o medo, que se tornou cinismo e que se deixou vencer pelo escárnio dos sanguessugas no poder. Chegamos ao fundo do fundo, de um poço sem limites. Quando alguém instituído do privilégio de representar seu povo como guardião e conselheiro das leis que nos regem (é essa a atribuição de um senador – Senado = conselho dos anciãos) se acha no direito de eliminar provas que incriminem suas próprias mazelas, usando para isso de privilégios usurpados do povo que representa, realmente, há de se ter medo dessa esperança desviada.
    O cínico desta situação é ter sido essa esperança alimentada por um ideal democrático que ultrapassou e venceu muitas das barreiras do outrora autoritarismo institucionalizado. Saímos de um buraco e caímos noutro maior ainda. Nossa estrada carece de melhor pavimentação. Os desvios à direita ou à esquerda ainda necessitam ser mais bem sinalizados. O que não podemos é estacionar a meio caminho andado, quando ainda nos sobra um largo horizonte de cenários promissores e uma meta a se alcançar usando dos muitos recursos que ainda temos e das potencialidades extraordinárias de uma nação rica, coesa, promissora, “abençoada por Deus e bonita por natureza”, como reza a canção. Em julgamento está a fibra do povo, não o cinismo de alguns.
    Quanto ao escárnio que o mundo lança sobre nossas instituições, classificando-nos como um dos países mais corruptos, não levam em conta o esforço que essas mesmas instituições hoje realizam para desmascarar, julgar, penalizar os que se excederam no exercício de seus poderes. Nesse aspecto, há de se aplaudir e louvar a coragem dos que deflagram muitas das operações em curso. Pior escárnio é daqueles que se acham livres de qualquer punição; não perdem por esperar. Temos a coragem da denúncia, mas não a vergonha de esconder o lixo debaixo do tapete de suntuosos palácios, que representam muitos dos poderes humanos, mas camuflam suas garras e belicosidade diante dos injustiçados pela força desses poderes. Maior cinismo e escárnio escondem essas nações, dissimuladas em seu jogo de poderes, em seus intentos de dominação. Aqui, pelo menos, se tenta lavar a cara e limpar nossos pisos de chão batido, nossa pobreza quase mendicante, porém em paz e ainda temente a Deus.
    HOMENAGEM PÓSTUMA
    Faço um hiato nesta coluna para prestar minha homenagem a D. José Benedito Simão, 64 anos, bispo da minha querida diocese de Assis, que nos deixou repentinamente dia 28 de novembro, vítima de um AVC. Fisionomia sempre serena, sorriso discreto, fala contida deixa um vazio em muitos dos corações que conviveram com ele e souberam compreender seu coração paternal e seu pastoreio meticuloso. Tal descrição de seu rápido episcopado entre nós salienta a importância desse ministério católico, essencial na manutenção da unidade do povo de Deus. Prova disso foi o afluxo surpreendente do povo ao seu longo velório na catedral diocesana, agora morada definitiva de seus restos mortais. Na simplicidade de um pastor sempre atento e responsável, levou a palavra e realizou muitas obras, sem alardes, sem vaidade. Encontro eco na autodefinição que Paulo fez de seu ministério: “Porque eu não ousaria falar de coisas que Cristo não tivesse operado por mim, para trazer as gentes à obediência, com a palavra e com obras”. (Rom 15, 18).

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