O Domingo, dia do Senhor!

    A liturgia do 9.º Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre a celebração do Dia do Senhor, sábado para os judeus, domingo para os cristãos, fazendo memória da ação criadora e redentora de Deus para com o seu Povo.

    primeira leitura – Dt 5,12-15 – recorda-nos o preceito do terceiro mandamento, de guardar o sábado para o santificar, sugerindo que seja um dia que exprime a unidade do Povo que celebra a ação libertadora de Deus, sem qualquer tipo de desigualdades. Se Deus trabalhou na Criação por seis dias e no sétimo descansou, assim também deve proceder a pessoa humana. Nesse dia santo não se deve trabalhar. Recorda-se a escravidão sofrida pelos pais no Egito, ratificando o descanso sabático como meio de não reproduzir estruturas de escravidão.

    Evangelho – Mc 2,23-3,6 –, retomando a mesma temática, mostra que, quando se faz uma interpretação demasiado rigorista dos preceitos da Lei, esta deixa de cumprir a sua missão de estar ao serviço do homem de cada tempo. Jesus convida-nos, por isso, a posicionar-nos a favor dos necessitados, tendo em conta que o Dia do Senhor foi feito para o homem, não para fazer do homem um escravo. É um convite a vivermos não do preceito, mas da Lei que assumimos no nosso coração. As duas atitudes – arrancar as espigas e curar o homem – têm em comum o ensinamento de Jesus sobre a observância do sábado. Os discípulos transgridem o descanso sabático e Jesus cura em dia de sábado. Temos dois modos de entender a observância do sábado: absolutizando a Lei ou defendendo a vida. O sábado foi feito também para a defesa da vida, e não para escravizá-la. Qualquer dia é dia de fazer o bem. Jesus “é o senhor do sábado”, ou seja, não é escravo da Lei, e tudo o que faz – não importa em que tempo – é sempre em benefício da vida mais fragilizada. O Evangelho é uma atualização da interpretação dessa Lei, uma vez que os fariseus preferiam obedecê-la a praticar o bem. A prática da Lei em si mesma se torna vazia e carente de sentido. Jesus, além de questionar este grupo (Mc 2,27-28), realiza uma cura dentro da sinagoga. Ele nos ensina: “é permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” (Mc 3,4). A Lei não está acima da prática do bem!

    segunda leitura – 2Cor 4,6-11 – apresenta-nos o exemplo de ardor apostólico de São Paulo, para quem ser evangelizador equivale a ser prolongamento da vida de Cristo que deve ser visível naqueles que a anunciam. Apesar das fragilidades humanas, a mensagem evangélica não fica comprometida, porque é um tesouro precioso, sinal de que a obra evangelizadora é obra do poder de Deus. Paulo descreve seu apostolado como um “tesouro em vaso de barro”, simbolizando a fragilidade e a opressão que caracterizavam a vida do apóstolo. As dificuldades e tribulações não devem desencorajar, antes servem para revelar a força que vem de Deus e do Evangelho.

    Acima das Leis está a vida humana. Por isso, celebremos cada dia como boa oportunidade para fazermos o bem: prestar culto a Deus por meio da participação nas Santas Missas, descansar e reforçar entre nós os laços de fraternidade dominical. E, que fique bem claro, que o centro da obra de Deus é o ser humano, criado à imagem e semelhança do Criador. Por isso Jesus disse ao homem da mão seca: “Vem para o centro” (Mc 3,3) e o libertou de sua enfermidade. Jesus e o domingo estão a serviço da vida! Nossa vida deve manifestar a vida de Jesus, que veio para nos mostrar que Ele é o Senhor de todo o tempo e de todo o bem! Vivamos o domingo sempre para fazer o bem e anunciar a salvação!

    Bom e santo Domingo, com Santa Missa, para todos!

    + Anuar Battisti

    Arcebispo Emérito de Maringá, PR

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