O Dom do filho querido de Deus para Nós

    Do alto da montanha, enxerga-se melhor o que está acima de nós e o que está abaixo. Por isso, muitas ermidas estão situadas em colinas, da mesma forma que muitos templos de outras religiões. Ali, parece que Deus está mais próximo e, alheios ao vaivém e barulhos do mundo, somos mais capazes de ver com clareza o conjunto de nossa vida, porque, quando estamos aqui embaixo, as árvores não nos deixam ver o bosque.
    Também, no alto de uma montanha, tem lugar a transfiguração de Jesus diante de seus apóstolos. Ali, distante das multidões, talvez em um momento de encontro e de diálogo profundo, os apóstolos puderam ver com clareza quem era Jesus e a sua relação com as tradições judaicas daí a presença de Elias e Moisés. Anos mais tarde, os apóstolos explicaram o que aconteceu dizendo que Jesus se havia transfigurado diante deles. Haviam-no contemplado iluminado pelo próprio Deus e ouviram sensivelmente a voz do Pai, que lhes disse: Este é o meu filho amado, escutem-No!
    Compreendemos que é Deus que nos dá o seu Filho para que, através de sua palavra e de seu sacrifício, alcancemos a salvação, em feliz comunhão com a Trindade Santa.
    Talvez essa Quaresma seja nossa oportunidade para subirmos também em alguma montanha, para buscarmos algum momento no qual possamos nos isolar do ritmo diário da vida. Ali encontraremos, antes de tudo, o silêncio de Deus, que acabará por chegar até o nosso coração. Ali perceberemos, talvez, que a nossa vida não segue tão bem quanto deveria, ali encontraremos forças para tentar uma mudança, pois contamos com a bênção, a graça e a força de Deus, que nunca nos abandona, E, então, quem sabe poderemos compreender e sentir o mistério de um Deus que, antes de tudo, é pai, é misericórdia, é perdão e é um amor tão grande que nos dá seu próprio Filho para nos ajudar  a caminhar de maneira certa e feliz rumo à alegria eterna.
    E, se não temos acesso a uma montanha, podemos buscar, nesta Quaresma, um instante de silêncio, de recolhimento, todos os dias ou, pelo menos, uma vez por semana. Talvez essa possa ser a nossa montanha particular, na qual nos encontremos com a bênção de Deus e comecemos a ouvi-lo e a segui-lo em nossos caminhos.