A Sagrada Escritura revela que Deus criou o casamento para o bem do seu povo. O casamento, afinal, é uma bênção para todos, inclusive para os não casados, já que ele nutre os cônjuges, alimenta a família e constrói a sociedade. Estes pontos muito simples, mas de extrema importância, estão no coração da visão católica sobre o casamento. Eles são os ingredientes que nos permitem dizer que o casamento é uma vocação, um verdadeiro caminho de santidade na vida.
É Deus, conforme proclama a Igreja católica, o autor do casamento. No mundo contemporâneo, cujo foco está quase sempre nos talentos e nas habilidades de homens e mulheres, é fácil achar que até o casamento esteja sujeito à inventividade humana. Mas a nossa fé nos diz o contrário: “O casamento não é (…) um efeito do acaso nem um produto da evolução de forças naturais inconscientes; o casamento é uma sábia instituição do Criador para realizar na humanidade o seu desígnio de amor” (Humanae vitae, 8).
O casamento é uma “bênção original” que Deus deu aos homens e mulheres desde o “princípio do mundo” para o bem da humanidade. A linguagem figurativa do Gênesis conta que Deus criou os homens e mulheres “à Sua imagem” (Gn 1,27). Ser feitos à imagem de Deus tem um significado profundo. Só a humanidade contém na sua natureza tanto o mundo material quanto o mundo espiritual (Catecismo da Igreja Católica, 355). Só os homens e mulheres são “capazes de conhecer e amar” a Deus (Catecismo, 356, citando Gaudium et Spes, 12). Só os homens e mulheres podem compartilhar o amor de Deus. Essa nobre vocação significa que cada homem e cada mulher possui o dom de dar e receber um amor altruísta, fiel, total, permanente e frutífero. Não é exagero dizer que cada um de nós tem a capacidade de dar e receber amor. Esta é a nossa herança como seres criados à imagem de Deus.
Quando nos casamos, isto quer dizer que temos a capacidade de nos entregar ao cônjuge amado e que estamos preparados para receber o amor do cônjuge. Todos sabemos, é claro, que alguns de nós não são bons comunicadores ou foram terrivelmente feridos por uma série de acontecimentos da vida, mas, apesar das feridas pessoais, todos nós temos a capacidade de dar e receber amor. Isto faz parte do dom de Deus para homens e mulheres.
Esses dons de Deus assumem significado único se partilhados no casamento, porque Deus inscreveu “a vocação ao matrimônio na própria natureza do homem e da mulher” (Marriage: Love and Life in the Divine Plan [Casamento: Amor e Vida no Plano Divino], Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, págs. 1 e 7, no original em inglês). O casamento é um dom sagrado ou abençoado que Deus deu aos homens e mulheres para o bem da humanidade. Primeiro, é vontade de Deus que os “elementos essenciais” do casamento sejam um homem e uma mulher, com a complementaridade da sua masculinidade e feminilidade e com todos os seus dons naturais e sobrenaturais. Se não há um homem e uma mulher, o casamento não pode existir como Deus o planejou.
O casamento é voltado à continuidade da vida humana sobre a Terra. Como os bispos norte-americanos escreveram nesse documento, as “raízes do casamento podem ser vistas no fato biológico de que um homem e uma mulher podem se unir como macho e fêmea tendo o potencial de trazer à luz outra pessoa humana” (pág. 10). O casamento é pessoal, como podemos facilmente observar. Deus fez o casamento para o bem-estar do homem e da mulher como indivíduos. O casamento “não existe meramente para a reprodução de outro membro da espécie”; Deus criou o casamento “para a criação de uma comunhão de pessoas” (págs. 10 e 11). O casamento existe para a vida do casal e para a vida da família, e, por conseguinte, para a vida do mundo.
Tão essencial é a dádiva do casamento que ela não foi perdida com o pecado original: foi, isto sim, redimida por Cristo e tão elevada por Ele a ponto de se tornar um dos sete sacramentos para os batizados. Dessa forma, Cristo restaurou a bênção original do casamento em sua plenitude, tornando-a sinal visível do Seu amor pela Igreja. O casamento no Senhor significa que o autêntico amor conjugal humano “é assumido no amor divino e dirigido e enriquecido pela força redentora de Cristo e pela ação salvífica da Igreja, com o resultado de os cônjuges serem efetivamente levados rumo a Deus e ajudados e fortalecidos em seu papel sublime como pais e mães” (Gaudium et Spes, 48).
Como dom, o casamento não pode ser forçado. É um dom a se receber com gratidão e a se viver de acordo com o plano de Deus. Podemos, é claro, estar abertos a receber de Deus este dom do casamento. Podemos nos unir a pessoas que têm a mesma fé e esperança. Podemos também, periodicamente, fazer um pouco de “purificação pessoal”. Podemos nos despojar de tudo o que pode atrapalhar a preparação do casamento.
O casamento é também um presente que os cônjuges dão um para o outro quando se dão livremente e aceitam o outro completamente (de corpo, mente e alma, incluindo, no conceito de corpo, a própria fertilidade). O casamento é formado quando um homem e uma mulher fazem votos de compartilhar a vida juntos. “É uma parceria de toda a vida e para a vida toda, de fidelidade mútua e exclusiva, estabelecida pelo consentimento mútuo entre um homem e uma mulher” (Marriage: Love and Life in the Divine Plan, págs. 7 e 8).
Quando um homem e uma mulher recebem o dom do matrimônio, eles abrem a porta para uma vida que demanda continuamente que eles se deem e se recebam. É quase como se eles tivessem sempre novos presentes para dar, receber, abrir e usar, todos os dias da sua vida conjugal. Nossa fé nos ensina que é vontade de Deus que os casais recebam e nutram esses dons. Quando eles o fazem, afinal, o seu amor transborda e se torna um dom para os seus filhos, para a sua família, para a comunidade local e para o mundo todo. Quando os casais aceitam e vivem o presente divino do amor conjugal, eles dão testemunho da sua generosidade e do seu amor em todos os aspectos da sua vida de casados. Eles participam da Comunhão dos Santos, que viveram vidas de amorosa generosidade.
Fonte: Aleteia