Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Emoção, alegria, familiaridade e solidariedade: depois do almoço e descanso na Nunciatura Apostólica, o Papa dirigiu-se à periferia de Bratislava, mais especificamente ao Centro Belém, distante 8 km, administrado pelas Missionárias da Caridade. Foi o próprio Francisco que expressou o desejo de visitar o local para encontrar os pobres ali assistidos e conhecer o apostolado das irmãs.
O Santo Padre foi recebido no pátio pela Superiora às 16h10 (hora local), sendo saudado pelas demais religiosas presentes, de quem recebeu uma guirlanda azul. Antes de conhecer a estrutura, não conseguindo esconder sua alegria, dirigiu algumas palavras de agradecimento e encorajamento aos presentes, dizendo estar contente pela visita:
Enquanto do lado de fora uma pequena orquestra e coral das crianças animava a visita, guiado pela Superiora o Papa conheceu o Centro, onde encontrou cerca de 30 pessoas que viviam pelas ruas e agora são acolhidas pelas Missionárias da Caridade. Alguns estão doente ou têm algum tipo de deficiência. Ao assinar o Livro de Honra, Francisco deixou a seguinte mensagem:
O Papa saiu depois alguns minutos, quando então deu atenção a uma Missionária da Caridade cadeirante. E então, dos microfones instalados no pátio, convidou os presentes a rezar uma Ave Maria e concedeu a todos a sua Bênção. No pátio também estavam colaboradores leigos que ajudam as irmãs, sacerdotes que trabalham regularmente no centro, alguns franciscanos, cadeirantes e famílias pobres vindas de outros lugares.
Para marcar a visita, o Santo Padre entregou às Irmãs um quadro em porcelanato de Nossa Senhora com o Menino Jesus segurando um cacho de uvas e a seguir, em um momento de forte emoção, caminhou entre os presentes – enquanto o pequeno coral cantava “Paradiso” – saudando e abençoando as crianças, suas famílias e os doentes, sendo retribuído com sorrisos, carinho e muitos agradecimentos. Francisco deixou o Centro às 16h38, para dirigir-se à Praça Rybné námestie para o encontro com a Comunidade Judaica.
O Centro Belém
O Centro Belém das Missionárias da Caridade está localizado no distrito de Petržalka, o maior da Europa Central, com seus 120 mil habitantes. Construído pelos comunistas nos anos 70-80, passou a ser chamado nos anos 90 de Bronx Eslovaco, devido à grande circulação de drogas e à violência difusa. Hoje, no entanto, a situação mudou, e não obstante os grandes conglomerados e a quantidades de moradores com dificuldades, é bom lugar de se viver, afirmou ao Vatican News o padre Juraj Vittek.
Ali, há mais de vinte anos, a comunidade internacional das religiosas de Madre Teresa de Calcutá, entre os altos edifícios de moradia social, cuida dos sem-teto, dos desamparados, das pessoas necessitadas de ajuda e sobretudo dos enfermos. A estrutura, uma pequena construção de dois andares, que já foi um jardim de infância, oferece um leito para dormir, refeições quentes e banheiros. No térreo, são atendidas as necessidades essenciais e há espaço para pernoites breves; no andar superior, um quarto está reservado para internações prolongadas ou para enfermos graves e, ao lado, há uma capela dedicada ao Imaculado Coração de Maria.
Graças à generosidade do povo, as irmãs conseguem garantir assistência, roupas e bens essenciais a quem vive na rua e bate à sua porta. Perto do Centro está a Igreja paroquial da Sagrada Família, consagrada em 2005 após a visita de São João Paulo II, quando em 2003 beatificou dois mártires do comunismo: Irmã Zdenka Schelingova e o bispo greco-católico Vasil Hopko.
O presente do Papa ao Centro Belém
Feito porcelanato, no contexto da moderna manufatura italiana, a iconografia incomum desta muito delicada Bem-Aventurada Virgem Maria com o Menino segurando um cacho de uvas, deriva de uma conhecida pintura do famoso Pierre Mignard, agora preservada no Louvre em Paris, embora uma versão mais antiga possa ser encontrada no painel central do famoso Polittico de Pisa, que Masaccio criou em 1426 para a ‘Chiesa del Carmine’ naquela cidade.
Em ambas as pinturas, de fato, o simbolismo da uva é destacado como o sangue eucarístico da paixão de Cristo, embora no Antigo Testamento os cachos da videira já simbolizassem não só alegria e amizade, mas também Israel, que é o povo de Deus.
Da mesma forma, portanto, se no Novo Testamento a vinha é o Reino dos Céus e seu fruto é a Eucaristia, então o verdadeiro tronco da videira de Deus é seu filho Jesus, que de fato no Evangelho de João (15, 1-8) assim se proclama: “Eu sou a videira e vós os ramos; quem permanece em mim dá muito fruto”.
Mas se a uva na Bíblia (e também na arte) se tornou progressivamente o sinal distintivo do Messias e de todos aqueles que o reconhecem e seguem, eis que a Virgem Maria é a “videira” fecunda por excelência, visto que Ela é a Esposa que introduziu o Rei dos Reis no mundo.
Este é, portanto, o tema desenvolvido pelo raro sujeito iconográfico da “Madonna dell’uva” (Nossa Senhora da Uva). Um tema que toca a todos nós, visto que por meio desse cacho estamos indissociavelmente ligados àquela “Videira” que é Cristo, pois é precisamente pela fidelidade dos “Ramos” que o seu sangue pode chegar até ao último grão.
Aquele vinho que na mesa eucarística se torna o sangue do Redentor é, além disso, o fruto de tantas uvas colhidas por toda a parte e espremidas na “prensa da provação”. Um “vinho”, um “sangue de uvas” – assim se diz em hebraico – que fala da unidade da Igreja, selada numa aliança baseada na caridade de Cristo.