O alimento imperecível

    Sem alimentos morreremos todos. Essa terrível situação tem levado muitos dos nossos governantes a se preocuparem com o futuro de seus povos. Alguns investem em tecnologia de produção, pesquisas de novos meios de alimentação, estudos sobre cultivos marinhos ou descoberta de novas fontes de proteínas. Outros, mais práticos e objetivos, querem a redução de bocas famélicas, no verdadeiro sentido dessa prática. Dai o incentivo ao aborto, à eutanásia, a esterilização em massa de povos carentes, o controle populacional com a limitação de filhos por família, a morte aos inativos – que se dá de forma sútil, mas real, em países totalitários. Outros torcem por uma guerra mundial, na qual só os fortes e mais desenvolvidos tecnologicamente hão de sobreviver. Reduzindo bocas, o banquete há de satisfazer a todos.
    Essa é a preocupação, não dos que passam fome, mas dos que possuem mesa farta. Estômagos saciados, mas corações vazios. A questão não é e nunca será uma visão de caos advindo de uma superpopulação global, mas egoísmo puro e simples dos acomodados, acostumados com suas mesas fartas e seu desperdício de recursos, que se faz de maneira exorbitante e irresponsável em países comandados pelas bolsas de valores, não pelos valores primários da convivência humana. Falta-nos a prática da partilha, da solidariedade, da corresponsabilidade na gestão dos bens comuns. Em especial, a partilha do alimento que nos sacia a fome.
    Não pense só no trivial, no arroz e feijão, mas num alimento muito mais consistente e substancial. Quando nos dermos conta da preciosidade desse alimento, a fome deixará de existir. E nunca será uma ameaça para o mundo. Quando saborearmos com mais ansiedade esse maná misterioso, que desceu do céu e “dá vida ao mundo”, todas as demais formas de alimento perderão importância em nossas vidas. “Moisés não deu para vocês o pão que veio do céu. É o meu Pai quem dá para vocês o verdadeiro pão que vem do céu, porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 5, 32-33). Esse é o alimento, o cordeiro posto à mesa para dele nos servirmos. Quem assim valoriza o pão eucarístico, dele extrairá as forças necessárias para vencer todo e qualquer deserto existencial. Ao contrário do pão de cada dia, o pão-vivo que Cristo nos dá não nos faltará jamais. Ele mesmo nos diz: “Estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”. Sua presença física e real é o mistério eucarístico. Jesus não disse: Este pão “representa” o meu corpo, este sangue, idem. Mas foi claro e taxativo; Este pão é…; este vinho é… E conclui: Quem comer de minha carne e beber de meu sangue terá a vida eterna.
    Os caminhos alternativos não oferecem tamanhas garantias. Nosso trabalho nos concede privilégios e direitos, dentre eles o de se alimentar de maneira digna, ao menos suficientemente para renovação de forças e continuidade do trabalho. Um círculo vicioso, cuja única garantia é nossa sobrevivência. Mas apenas isso? Jesus aponta outra visão, um ponto de vista de maior coerência. Diz Ele: “Não trabalhem pelo alimento que se estraga; trabalhem pelo alimento que dura para a vida eterna. E este alimento que o Filho do Homem dará a vocês” (Jo 5,270). Quem busca outro significado para suas vidas, senão aquele da luta cotidiana, dos sonhos inalcançáveis, das frustrações profissionais, das desilusões amorosas, de tantos e tantos conflitos existenciais, eis a chave do mistério: busque o alimento espiritual. Porque desse, unicamente desse, é que obtemos forças para prosseguir

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