O advogado do diabo

    O tempo litúrgico nos aponta o Advento e seus temas de esperanças renovadas. É o reinicio de um novo ano litúrgico. As quatro semanas que antecedem o Natal do Senhor nos chegam sempre com novas expectativas, sejam estas no campo das confraternizações ou mesmo do fechamento de um ciclo às vezes não tão positivo quanto almejamos no ano anterior, ou até de renovação dos propósitos aos quais não fomos tão fiéis quanto desejávamos. Ei-los, então, à baila novamente em nossos corações, em nossos constantes esforços de purificação espiritual. O tema aqui exposto tem um propósito: fazer as vezes do advogado do Diabo.
    Ao contrário do que muitos pensam, advogar com esses propósitos é extremamente positivo. A associação ao advento tem em comum o prefixo “ad”, que na sua origem também significa estar junto, estar em sintonia. O termo advogar, em suas origens latinas, já nos diz: alguém que se une a outrem para falar a mesma voz (vogar), a mesma língua. Levantar questões obscuras. Nos tribunais romanos, era esse alguém o encarregado de clarear a verdade. Na cúria católica, esse advogado tem a função de criar objeções e questionar ao máximo durante um processo de canonização, para que não pairem dúvidas sobre a santidade de qualquer candidato a esse título. Aquele que se encarregava desse ofício ficou conhecido como advogado do Diabo. Um agente de purificação num processo de santificação. Era isso, na verdade.
    Hoje se entende tal referência como aquele que faz questão de criar dificuldades, opor-se contra tudo e contra todos. Exatamente esse o propósito da nossa reflexão. Não há como entender o período do Advento, nos dias de hoje, com sua excessiva exploração mercadológica, seus modismos contrários à beleza da vinda do Senhor, sua secularização dogmática e seus desvios para crenças contrárias às clarividentes manifestações da fé, seus modismos de perversão ideológica e seu torpe liberalismo contra os costumes e tradições cristãs. É verdade, fazemos parte dum planeta dividido por visões de fé diversas, muitas destas opostas às nossas crenças, mas nem por isso vamos renegar o que ainda temos de mais positivo, os princípios de respeito à liberdade de todos, à escolha do outro.
    Todavia, a advogado do Diabo sopra em nossa consciência algo muito mais vergonhoso. Se temos o dever desse respeito, temos também o direito de publicar e defender nossos pontos de vista. Dentre eles, nossa fé. Caso contrário, estaremos compactuando com aquilo que dizemos ou pensamos ser um erro. Neste caso, o silêncio é um sim disfarçado, uma concordância que também nos induz ao erro, nos faz compactuar com aquilo que nosso coração rejeita e nossa consciência se opõe. Quando abafamos essas verdades apenas e tão somente para não ferir nossa imagem de bons cristãos, nossa fé é colocada debaixo do tapete de nossas salas de visitas. Ou seja, o cristão que se envergonha de sua fé, “não é digno Dele”, aquele que bendizemos no Natal, mas do qual um dia podermos ouvir: “Não vos conheço”. Essa verdade não gostaremos de ouvir.  Por isso, benfazeja seja a voz da nossa consciência. Benfazejo esse tempo de purificação que nos oferece o Advento, para que possamos nos redimir de nossas omissões e proclamar com mais ardor a vinda daquele que festejamos neste tempo. O mesmo que nos apontou tantos e tantos erros da tênue espiritualidade humana, nos purificou com suas palavras, renovou nossas esperanças, prometeu-nos um advogado novo, Aquele que fala por nós e nos defende até o fim: “O Espirito da Verdade ensinar-vos-á toda a verdade”. O advogado do Diabo é nossa própria consciência a nos apontar tantos erros. Mesmo assim, o Juiz Supremo confia nossa defesa ao Advogado de Deus, seu Espírito Santificador…

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