A sucessão de escândalos que inundam nossos noticiários nos causa aversões e repugnâncias. Haja estômago para tanto. Só mesmo atores e coadjuvantes de tantas falcatruas e deslavada ironia para com a opinião pública são capazes de digerir seus “atos falhos” expostos em cena. Parafraseando um cronista que respeito, Alexandre Garcia, aqueles que deveriam primar pela transparência e boa gestão das coisas públicas, “fazem de suas vidas públicas o mesmo que fazem na privada”. Ou seja…
O que me assusta não é o simples oportunismo deste ou daquele político, empresário, gestor ou pequeno comerciante da esquina que surrupia o troco, ou o ingênuo batedor de carteiras nas ruas e praças, ou o pobre consumidor de crack necessitado de recursos para manter seu vício, ou o simples ladrão de galinhas que invade o terreiro alheio. Todos têm o mesmo denominador no quesito caráter: roubam o direito do outro. Quando a coisa é pública, pior ainda, roubam o próprio povo. Pior quando recursos amealhados para o esporte e lazer popular são surrupiados com a cara lavada: tolhem a alegria do povo, incendeiam o circo.
Nisso o imperador Nero foi mestre: incendiou Roma. Fez do circo o espetáculo maior. Talvez seja esta uma sugestão oportuna para se acabar com tão deprimente espetáculo: que se queime de uma vez a fonte de tantos recursos e ações depredatórias. Quem sabe, assim, voltemos nossas energias às fontes de produção e proteção mais responsável dos recursos que temos. Mas não é bem assim, nossa consciência nos diz. Queira ou não, as aves de rapina sempre encontram carniça para sobreviverem. O projeto mais oportuno – e que requer nossa retomada com urgência – é ainda de caráter moral, religioso. A cada passo oposto a essa verdade, mais combustível oferecemos para a fogueira pirotécnica em que atiramos o conceito da moral e dos bons costumes. Nenhuma sociedade sobrevive sem esses princípios. Nem família, nem escola, nem pátria, nem o mundo. Aos “homens de boa vontade” ainda sobra a trincheira de seus valores éticos. Aos que teimam em sua fé, a inquebrantável esperança do ensinamento cristão: “Porque não há coisa oculta, que não acabe por se manifestar, nem secreta que não venha a ser descoberta” (Lc 8,17). Nada, nem ninguém serão capazes de escapar impunemente dessa verdade.
A verdade é sempre transparente, divina. A mentira é diabólica. O Pai da mentira é o mentor mor de todas as falcatruas que conhecemos. Mas foi, é e será derrotado sempre. Por isso a fé nos ensina: a verdade vos libertará! Não importa a glória momentânea de uma vitória circunstancial, um engodo praticado. Nenhum crime é perfeito. Nenhum subterfúgio humano ficará impune da verdade. Não se crie ilusões sobre ações sorrateiras, vantagens de oportunidade, vitórias e glórias transitórias, enriquecimento ilícito. Terão seu final de uma forma ou de outra. A única certeza que aqui temos é da transitoriedade de tudo: poder, glória, riqueza. “Passarão céus e terra, mas minha Palavra (verdade), não”, proclamou Jesus. Portanto, se desejarmos um mundo minimamente justo e fraterno, comecemos restaurando aquela que pensamos ser a menor das virtudes: a honestidade. Esta nunca provocará escândalos.