Nossa mãe negra

    Terminou nesta semana na diocese de Cametá, PA, mais um congresso do dízimo. Comemoravam os vinte anos de prática consciente do Dízimo naquela diocese. Contavam com a presença de Antoninho Tatto, idealizador e companheiro desse movimento evangelizador que há 35 anos vem dando novo sentido à fidelidade ao dízimo dentro do catolicismo, através do MEAC, grupo de leigos evangelizadores do qual também faço parte. Temos, pois algo em comum a partilhar, pois 35 anos pregando sobre esse assunto…
    Bem, não quero aqui me parecer dono de uma verdade ou doutor no assunto. Não é essa a razão da minha partilha, hoje. Mesmo porque algumas linhas não seriam suficientes para lhes narrar, com fidelidade, tudo o que nos aconteceu e vem acontecendo ao longo desses anos todos, não só no campo pessoal, comunitário; não só na igreja do Brasil, mas há muito extrapolando fronteiras e nos desafiando a ir em frente, sempre em frente, apesar das críticas, apesar das incompreensões, da ironia, de tudo… Pregar sobre o dízimo com coerência, sem distorções, sem rótulos disso ou daquilo, é realmente um desafio. Mas, decorridos tantos anos, nós do MEAC temos apenas uma obrigação: levantar nossos braços em louvor e dizer com humildade: obrigado, Deus, por ter nos usado dessa forma.
    O que motiva, afinal, esse momento de gratidão? Aquilo que Tatto presenciou em Cametá e, instantaneamente, partilhou com o grupo através de nossa rede de comunicações internas. Quatro fotos! Ao fundo a estação Tucumã de Cametá. No centro, dezenas de jovens enfileirados, seguindo um manto vermelho a lembrar uma artéria do coração humano, – aquela que irriga, bombeia e devolve o precioso líquido da vida. Tudo bem representativo ao lembrar o coração da partilha que hoje representa essa pastoral nas igrejas onde dízimo é uma prática sadia e libertária, mas que nos assusta ao deparar com a imagem da jovem à frente dessa procissão. Bela e sorridente, ela se veste totalmente de negro. E a legenda conclui: “Vejam aí, retratando Nossa Senhora do Dízimo”. Então me dei conta de algo: a negritude do manto de Maria: Meu Deus, você é totalmente negra! O que isso quer nos dizer?
    Pois é, Fonseca. Veja aonde sua santinha já chegou! Para quem desconhece mais esse título de Maria, explico rapidamente. Estando em trabalho de animação do dízimo em Moçambique, Fonseca e Bruno, dois outros dos nossos, encantaram-se com a imagem negra da Mãe, esculpida em madeira típica daquele continente, o ébano. De cor negra e extremamente maciça, a imagem foi doada aos missionários que a batizaram imediatamente como Nossa Senhora do Dízimo. Passou a acompanhar as pregações do Fonseca e logo recebeu permissão de D. Fernando Figueiredo, então bispo de Santo Amaro, para ser invocada sob o título sugerido. São muitos os milagres que essa invocação tem realizado, mas esse assunto focaremos mais adiante.
    Por enquanto, fica o eco de minha exclamação diante da alegria que aquelas fotos proporcionaram a todos nós. “Meu Deus, você é negra”. A mesma constatação do autor de Deus Negro, outro dos nossos. A constatação mais que natural daqueles que conhecem o milagre das cores, o disco de Newton, a mistura de tons e raças, a soma disso tudo, que ao final resultará apenas e tão somente numa negritude total. Sim, a soma de todas as cores, a mistura destas, resultará na cor negra. Sim, a negritude de Maria, o anonimato desta ao ordenar que seguíssemos apenas os ensinamentos de seu filho, que fizéssemos apenas o que Ele nos mandasse, resulta no encanto do ébano talhado por um anônimo do povo: Nossa Senhora do Dízimo.
    Apenas e tão somente para nos dizer, hoje: O Dízimo é a soma de tudo o que temos e somos que se coloca anonimamente num recipiente comum: a comunidade. Esta lhe devolverá as cores iniciais, através de ações concretas nas dimensões comunitária, social e missionária de nossos dízimos.

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